A questão ambiental, que muitos fazem questão de negar em pleno século 21, já era uma questão ética no tempo das civilizações greco-romanas há milhares de anos. Aquelas sociedade antigas não só reconheciam o impacto humano (negativo) no meio ambiente, como também tentavam mitigar esses danos e tentavam evitá-los.
O escritor romano Plínio, o Velho, que viveu no primeiro século da nossa era, tinha uma clara compreensão de como os seres humanos estavam prejudicando o meio ambiente. Em sua obra História Natural, escreveu: “Contaminamos os rios e os elementos da natureza, e o próprio ar, que é o principal suporte da vida, nos transformamos em um meio para a destruição da vida”.
A preocupação do escritor romano, que via o planeta como a “mãe de todas as coisas”, coloca-o como um dos primeiros ambientalistas da história. Essa preocupação, além de um exemplo de cidadania, é também uma prova da dimensão ética do ambientalismo, um movimento filosófico que lida com os conceitos de Bem e Mal. Ou melhor dizendo, o que nos faz bem e o que nos faz mal na natureza.
Os gregos e romanos não ficavam apenas na retórica, e introduziram várias medidas legais para prevenir e mitigar os danos ambientais. É o caso, por exemplo, dos atenienses que criaram, em 420 a.C., uma lei para proteger o rio Ilisso. “É proibido molhar couros [de animais] no Ilisso acima do santuário de Hércules e curti-los. É proibido jogar o resíduo da lavagem no rio”.
A percepção dos pesquisadores é que a medida pode ter funcionado porque, tempos depois da introdução da lei, o rio era descrito como “puro e belo”. Hoje não dá para conferir porque o Ilisso foi canalizado, coberto e convertido em um canal subterrâneo de esgoto a partir da década de 1930.
Além da questão estética, os antigos romanos tinham também uma compreensão correta da conexão entre saúde ambiental e humana. Uma carta de Plínio, o Jovem (que era sobrinho e filho adotivo de Plínio, o Velho) ao imperador Trajano, discute como um esgoto a céu aberto em Amastris na Turquia era um problema de saúde pública.
Na carta, o Jovem explica como, no centro da bela cidade, havia um riacho que “na verdade, é um esgoto imundo, uma monstruosidade nojenta que exala um fedor nocivo. A saúde e a aparência da cidade serão beneficiadas se ela para coberta e, com sua permissão, isso será feito”.
O imperador foi rápido na resposta: “Há todos os motivos, meu caro Plínio, para cobrir a água que você diz que flui pela cidade de Amastris, se para um perigo para a saúde enquanto permanecer descoberta”, disse o imperador que levou o Império Romano ao auge do seu território.
Fonte: Megacurioso.
Foto: Edward Dodwell/Wikimedia Commons.