Evidências científicas consistentes e robustas indicam que as atividades humanas têm causado o aquecimento global, mas ainda há quem ignore os fatos e dê ouvidos para teorias negacionistas.
Recordes sucessivos de temperatura, mudanças nos ciclos das chuvas e aumento dos eventos extremos são realidades impossíveis de serem negadas e que confirmam o consenso científico sobre as mudanças climáticas.
Apesar dos dados e dos fatos, há ainda argumentos negacionistas que empurram a crise do clima para um horizonte de falsas dúvidas ou de pura desinformação. Por isso, veja abaixo a explicação sobre 10 mitos comuns e o que de fato é verdade sobre o aquecimento global, de acordo com os especialistas.
MITO: Não há um consenso científico sobre as alterações climáticas
Esse é um mito clássico e, por isso, vamos começar por ele.
Por mais que um ou outro pesquisador possa argumentar o contrário, evidências científicas consistentes e robustas indicam que as atividades humanas, principalmente a queima de combustíveis fósseis, têm causado o aquecimento da superfície terrestre e dos oceanos, resultando em impactos significativos no clima global.
De acordo com uma pesquisa da Cornell University que analisou estudos publicados entre 2012 e 2020, mais de 99% dos cientistas climáticos reconhecem que as mudanças no nosso clima estão acontecendo e são causadas pelo homem.
Além disso, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, reforça a conclusão de que as atividades humanas, especialmente as emissões de gases de efeito estufa, são o principal impulsionador das mudanças climáticas. O órgão é reconhecido mundialmente como a fonte mais confiável de informações sobre o clima.
MITO: O aquecimento global é um fenômeno natural e cíclico
Esse argumento tem como tese o seguinte ponto: flutuações no clima do nosso planeta sempre existiram e ocorrem durante alguns períodos. Depois passam e tudo bem!
Tudo bem, é verdade que o clima da Terra sempre passou por oscilações, mas o que está acontecendo atualmente difere significativamente das variações climáticas naturais e cíclicas do passado.
Nos últimos 150 anos, houve um aumento significativo nas temperaturas globais. Como resultado disso, o mundo está agora cerca de 1.1ºC mais quente do que estava no final do século XIX. Esse aumento é descrito como súbito e muito rápido em comparação com as variações climáticas históricas.
Para termos ideia desse ineditismo, o período mais quente dos últimos dois milênios ocorreu no século XX em 98% da superfície da Terra, um forte indício de que a causa do aquecimento é de origem humana.
MITO: Crise do clima é irreversível, não podemos fazer nada
Embora já tenhamos causado mudanças significativas no clima, tomar medidas agora pode sim influenciar positivamente o futuro climático.
O problema é que ao menos que ações mais efetivas sejam tomadas, o aumento da temperatura pode atingir os preocupantes índices de 2,5°C a 2,9°C acima dos níveis pré-industriais, indo muito além das metas do Acordo de Paris, como mostrou um recente relatório da ONU.
Mas reduzindo as emissões humanas de gases de efeito estufa, podemos sim frear o aquecimento global.
MITO: O planeta está esfriando, não aquecendo
O impacto do aquecimento global não significa apenas ondas de calor, mas, sim, desequilíbrio nas dinâmicas do planeta.
E os eventos extremos estão sendo “potencializados pelas mudanças climáticas” e isso é inquestionável, segundo cientistas e especialistas de todo o mundo, incluindo o IPCC.
Se a temperatura global subir 1,5°C, ainda conforme o IPCC, haverá mais ondas de calor e estações quentes mais longas. A 2°C, o calor extremo terá impactos devastadores na agricultura e saúde. Mudanças em umidade, ventos, neve, gelo, áreas costeiras e oceanos afetarão regiões de maneiras diferentes.
MITO: A Antártica está ganhando gelo, não perdendo
Um estudo recente revelou que mais de 40% das plataformas de gelo da Antártida encolheram desde 1997, e quase metade delas não mostra “nenhum sinal de recuperação”.
E isso também é resultado do aquecimento global, que está fazendo a água do oceano aquecer e o gelo derreter.
MITO: O aquecimento global não vai influenciar significativamente o Brasil
O aquecimento global pode sim influenciar significativamente o nosso país. Um exemplo disso é a Amazônia. Há muito tempo cientistas do clima observam uma perturbação significativa no bioma, causada principalmente pelo desmatamento, queimadas e mudanças climáticas. Com isso, secas se tornaram mais longas e frequentes na região.
Essa retirada da cobertura floresta também vem enfraquecendo os “rios voadores” do bioma, os fluxos de água que distribuem umidade por toda a América do Sul.
Se nada para feito para conter o desmatamento e as queimadas, uma perda de, no mínimo, 50% da floresta no sul, leste e centro da Amazônia é esperada. Os cientistas chamam isso de “ponto de não retorno”, algo que pode acontecer entre 30 e 50 anos;
Isso acarretaria um aumento de cerca de 4ºC na temperatura do bioma e levaria a uma savanização da Amazônia. O bioma ficaria parecido com um Cerrado degradado.
MITO: Podemos poluir à vontade por que as plantas precisam de dióxido de carbono
É incontestável que as plantas necessitam de dióxido de carbono (CO₂), o principal gás do efeito estufa presente em abundância na Terra, para sustentar sua vida.
Contudo, a questão crucial reside no fato de que, embora dependam do CO₂ e sejam capazes de armazená-lo, as atividades humanas estão impulsionando as mudanças climáticas de forma acelerada, anulando quaisquer vantagens proporcionadas à vegetação.
Em resumo, enquanto as plantas precisam de CO₂, o excesso gerado pelo homem contribui significativamente para o aquecimento global, superando quaisquer benefícios para as nossas florestas.
MITO: O desmatamento não contribui para as mudanças climáticas
Pelo contrário, no Brasil a principal fonte de emissões de gases de efeitos estufa é o desmatamento.
De acordo com um estudo do Observatório do Clima, o desmatamento das nossas florestas em 2022 foi responsável por 48% do total de emissões de gases de efeito estufa, como o dióxido de Carbono (CO₂) e o metano (CH4).
Entre 2003 e 2019, por exemplo, a invasão e o desmatamento, somente no caso de florestas públicas no Brasil, emitiram quase 2 bilhões de toneladas de carbono, conforme também divulgado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).
MITO: Nunca existiu esse tal de buraco na camada de ozônio
O buraco na camada de ozônio é um problema que está sendo atenuado graças a ações internacionais significativas nos últimos anos. Hoje em dia, o tema não é mais tão abordado não por falta de ameaça, mas devido à eficácia no combate às suas causas.
Um estudo recente, porém, mostrou que o buraco sobre a Antártica cresceu nas últimas duas décadas, mesmo com a proibição de substâncias prejudiciais. Embora o impacto atual da emissão desses gases seja considerado baixo para a camada de ozônio, um aumento contínuo dessas concentrações poderia comprometer o progresso do Protocolo de Montreal, assinado inclusive pelo Brasil.
Desde a assinatura do tratado, o uso de clorofluorocarbonos (CFCs) em todo o mundo caiu vertiginosamente. Estima-se que cerca de 99% dos compostos químicos que destroem a camada de ozônio foram completamente eliminados da atmosfera desde o banimento dos CFCs, utilizados principalmente em sprays, equipamentos de refrigeração e em espumas.
MITO: A Terra (e os humanos) vão se adaptar ao aquecimento global sem problemas
O clima está mudando mais rápido do que humanos, plantas e animais podem se adaptar. Espécies e ecossistemas já estão perto ou além de seus limites de adaptação.
Além disso, ilhas pequenas podem se tornar inabitáveis para os seres humanos e demais seres vivos devido ao aumento do nível do mar.
Em resumo, a ONU diz que a adaptação sozinha não é suficiente, pois a capacidade humana para isso é bastante limitada.
Fonte: G1.
Foto: Stringer/Reuters.