Até 5 bilhões de pessoas vivendo em terras áridas: novo relatório da ONU projeta impacto das mudanças climáticas no solo

Condições mais secas, terras úmidas transformadas em áridas e alta no risco de desertificação. Isso é o que mostra o novo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre como as mudanças climáticas transformaram as diferentes partes da Terra nos últimos 30 anos.

Mais do que relatar os eventos climáticos extremos que ocorreram nesse período, o documento alerta para as transformações permanentes que esses eventos já trouxeram para diferentes biomas – e chama atenção para a tendência de piora desse cenário.

As projeções mais pessimistas indicam que até 5 bilhões de pessoas podem viver em terras áridas até o fim do século. Em 2020, último ano analisado, 2,3 bilhões já viviam nessas condições.

Um dos principais destaques do relatório aponta que mais de três quartos (77,6%) da Terra vivenciaram condições climáticas mais secas entre 1990 e 2020 se comparado aos 30 anos anteriores.

É um retrato fiel do aumento ano a ano das temperaturas da superfície do ar e dos oceanos, que seguem quebrando recordes. Se 2023, por exemplo, foi considerado o mais quente em 100 mil anos, 2024 vai pelo mesmo caminho.

E essas alterações do clima têm consequências diretas: 7,6% das terras globais se tornaram áridas.

No Brasil, por exemplo, no início deste ano, foi identificada a primeira região de clima árido no país, no centro-norte da Bahia.

A publicação define que, diferentemente das secas, que são períodos temporários de baixa precipitação, a aridez representa uma transformação permanente.

“As secas terminam. Quando o clima de uma área se torna mais seco, no entanto, a capacidade de retornar às condições anteriores é perdida. Os climas mais secos que agora afetam vastas terras ao redor do globo não retornarão a como eram e essa mudança está redefinindo a vida na Terra”, analisa Ibrahim Thiaw, Secretário Executivo da UNCCD.

O documento “The Global Threat of Drying Lands” foi publicado nesta segunda-feira (9) e elaborado para a COP16 da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD, na sigla em inglês).

Aumento das áreas áridas

O relatório também destaca quais foram as áreas que mais sofreram com a tendência de seca nesse período.

Os locais mais afetados, segundo a análise da agência da ONU, foram:

Partes do oeste dos Estados Unidos e do Brasil: foram observadas tendências significativas de seca, com escassez de água e incêndios florestais se tornando um risco permanente.

Mediterrâneo e sul da Europa: antes consideradas terras muito férteis, essas áreas devem enfrentar problemas no futuro à medida que as condições semiáridas se expandem.

África Central e partes da Ásia: áreas ricas em biodiversidade, estão sofrendo com a degradação do ecossistema e com a desertificação, processos que colocam inúmeras espécies em risco.

De acordo com o documento, há uma tendência clara de expansão das terras áridas, o que leva ecossistemas e sociedades a sofrerem com os impactos permanentes dessa mudança.

Nessas condições, a tendência é de esgotamento do solo, declínio dos recursos hídricos e diminuição ou colapso de ecossistemas antes considerados diversos.

Medidas necessárias

Para que o pior cenário seja evitado, o relatório também traz uma série de medidas que podem e devem ser tomadas por governos e comunidades.

Entre as recomendações da publicação, destacam-se:
Monitoramento da aridez

É necessário integrar a métricas de aridez com os sistemas já existentes de monitoramento de seca. Essa medida permitiria a detecção precoce de alterações no clima, ajudando a orientar intervenções antes que a condições piorem.

Melhoria das práticas de uso da terra

O incentivo de sistemas sustentáveis de uso da terra também é essencial. Isso pode amenizar os impactos do aumento da aridez, principalmente em regiões mais vulneráveis.

Investimento em eficiência hídrica

Tecnologias como coleta de água da chuva, irrigação por gotejamento e reciclagem de águas residuais podem oferecer soluções práticas para gerenciar recursos hídricos em regiões secas.

“À medida que grandes extensões de terra do mundo se tornam mais áridas, as consequências da inação se tornam cada vez mais terríveis e a adaptação não é mais opcional — é imperativa”, alerta Barroon Orr, cientista-chefe da UNCCD.

Fonte: g1.

Foto: Bruno Kelly/Reuters.

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