Gatos da rua são um problema antigo nas cidades australianas. Queixas comuns sobre gatos errantes incluem inconveniências (lutas e urina), riscos de doenças para humanos e outros animais e predação de animais selvagens nativos. O grande número de gatos e filhotes acolhidos por abrigos de animais é um desafio de administrar, levando a que cerca de 5 mil sejam mortos a cada ano — a maioria deles jovens e saudáveis.
Nossa pesquisa recém-publicada revela que canis do conselho australiano, grupos de resgate e abrigos de bem-estar animal acolheram 179.615 gatos e filhotes em 2018 e 2019. Desses animais, 5% foram recuperados pelos proprietários, 65% realojados e 28%, mortos.
Apesar da escala dessa matança, o número de gatos vadios na Austrália não está diminuindo. A evidência mostra uma necessidade urgente de programas comunitários pró-ativos que ofereçam a castração gratuita de gatos em áreas problemáticas específicas.
Matar tantos gatos também é ruim para as pessoas
As altas taxas de matança de gatos também têm um custo humano significativo. Muitos conselhos, abrigos e equipes veterinárias sofrem impactos psicológicos devastadores quando precisam matar um grande número de gatos saudáveis, muitas vezes repetidamente.
Esses impactos incluem trauma, depressão, abuso de substâncias e aumento do risco de suicídio. O público também pode ficar traumatizado quando os gatos de rua que estão alimentando são presos e mortos.
As abordagens atuais estão falhando
Para piorar a situação, prender e matar gatos adultos e filhotes de rua é caro e não funciona. Essa abordagem reativa não reduziu a população de gatos ao longo das décadas em que foi aplicada. Portanto, o incômodo potencial, os riscos de doenças e a predação da fauna nativa não foram reduzidos.
Nossa pesquisa mostra que o resgate de gatos realmente aumentou em abrigos municipais em Nova Gales do Sul de 2016 a 2017 e de 2018 a 2019 (os dados pré-COVID são mais precisos). As tentativas de adotar e matar falharam.
Os conselhos australianos estão adotando cada vez mais a contenção obrigatória de gatos (toque de recolher). Parece uma solução lógica, mas com base nas evidências não é eficaz. Não reduz o número de gatos de rua a curto ou longo prazo, como mostra a experiência de conselhos como Casey e Yarra Ranges em Victoria.
Mesmo para gatos com dono, às vezes a contenção não é possível devido a fatores como limitações de moradia, custo — os sistemas de contenção normalmente custam entre US$ 700 e US$ 2.000 — e preocupações com o bem-estar dos gatos confinados.
A contenção obrigatória cria uma barreira para os semiproprietários que adotam gatos de rua que estão alimentando e também potencialmente criminaliza a posse de gatos para famílias desfavorecidas, principalmente aquelas em propriedades de aluguel.
A contenção nas propriedades de seus donos deve ser fortemente encorajada onde as necessidades físicas e mentais dos gatos possam ser atendidas. Mas a contenção obrigatória deve ser rejeitada. Não protegerá a vida selvagem nativa, a justificativa comumente citada, porque não reduz de forma mensurável o número de gatos soltos.
Gatos de rua não são gatos selvagens
Com base nas definições da RSPCA e do governo, gatos de rua em áreas urbanas e periféricas urbanas são todos gatos domésticos. Eles não são gatos selvagens.
Gatos selvagens vivem e se reproduzem na natureza, não em cidades ou vilas ou perto de pessoas, não são objeto de reclamações de incômodo e não são admitidos em abrigos ou canis. Os gatos vadios às vezes são rotulados erroneamente como gatos selvagens, o que impede soluções eficazes para o problema.
Gatos vadios respondem por 80-100% das admissões em abrigos municipais e 60-80% em agências de bem-estar animal. O resto são principalmente gatos abandonados por seus donos.
Então, qual é a solução a longo prazo?
Ajudar semiproprietários e proprietários em áreas desfavorecidas a castrar seus gatos é a melhor solução a longo prazo para o problema dos gatos de rua. O Community Cat Program é uma abordagem baseada em evidências que apoia proprietários e semiproprietários de gatos com castração e microchip gratuitos dos gatos de que cuidam. Esses esforços devem se concentrar em áreas de alto resgate de gatos e reclamações.
Programas comunitários pró-ativos para gatos são cientificamente comprovados para reduzir o número de gatos da rua e filhotes indesejados em áreas específicas. Assim, eles reduzem reclamações de incômodo, resgate e matança de gatos, traumas para pessoas, custos, riscos de doenças e predação de animais selvagens.
Fonte: Revista Galileu.
Foto: Thomas Park/Unsplash.