A tecnologia para diminuir as emissões de metano tem historicamente sido negligenciada em comparação com estratégias que reduzem as de outro gás, o dióxido de carbono, mas essa tendência pode estar mudando.
A startup Windfall Bio levantou US$ 28 milhões em investimentos, liderada pela Prelude Ventures, para expandir sua tecnologia de captura do gás, com uma série de investidores relevantes, incluindo o Climate Pledge Fund da Amazon e a Breakthrough Energy Ventures.
Enquanto alguns dos maiores produtores de petróleo e gás do mundo se comprometeram a reduzir significativamente as emissões de metano até 2030, a maior fonte, no entanto, é a agropecuária, especialmente na produção de carne bovina e laticínios.
Essas emissões, no entanto, têm se mostrado difíceis de evitar. Na atmosfera, o metano é cerca de 83 vezes mais potente do que o CO2.
“É particularmente difícil porque a agricultura é importante, e todos nós precisamos comer”, disse Stephanie Díaz, associada da equipe de tecnologia e inovação da BloombergNEF.
“É um conjunto tão difuso de produtores que trabalham com margens estreitas, então é difícil promover mudanças nessas condições de mercado.”
É aí que a Windfall espera intervir. Fundada em 2022, a empresa sediada em San Mateo, Califórnia, vende micróbios comedores de metano, conhecidos como “mems”, para grandes emissores como fazendas, instalações de tratamento de resíduos, aterros sanitários e produtores de óleo e gás.
Além de destruir o metano, o processo também produz fertilizante orgânico. A startup está atualmente testando sua tecnologia com clientes que incluem a Whole Foods, que fornece à Windfall acesso à sua rede de fazendeiros de laticínios.
O metano “foi um grande ponto cego”, e os mems podem ser uma forma de transformar as emissões prejudiciais em uma substância útil e fonte de receita, disse Josh Silverman, co-fundador e CEO da Windfall.
Ele comparou os micróbios com a levedura; os mems gostam de comer metano da mesma forma que a levedura gosta de comer açúcar.
Eles usam a energia do metano que consomem para extrair nitrogênio do ar, criando assim um fertilizante orgânico que os clientes podem usar em suas próprias fazendas ou vender com lucro.
A tecnologia é mais adequada para fontes de metano em áreas fechadas, como um celeiro de fazenda leiteira, lagoa de esterco coberta por lona ou confinamento, onde o gás da fonte pode ser facilmente ventilado e tratado.
Em uma instalação de petróleo e gás, isso significa desviar um tubo de metano que de outra forma teria sido queimado. Já em um aterro sanitário, pode significar retirar o metano de um poço perfurado na estrutura ou de rachaduras e vazamentos na cobertura do aterro.
Nas operações leiteiras, os fazendeiros podem espalhar mems sobre uma pilha de compostagem. O metano do celeiro, lagoa ou confinamento pode então ser encaminhado para o composto tratado.
Para clientes sem acesso direto ao composto, eles podem cultivar mems em qualquer superfície sólida e inerte, como biomassa ou até mesmo contas de plástico em uma banheira de fibra de vidro, que podem ser reutilizadas. Neste último caso, as peças de plástico podem ser lavadas e secas, produzindo uma pasta de alto teor de nitrogênio.
Esse processo deixa de fora outras duas grandes fontes de emissões: arrozais e gado criado no pasto. Os mems podem retirar o metano do ar ambiente, disse Silverman, mas é mais difícil devido à difusão do metano e do nitrogênio, bem como à dificuldade de recuperar o fertilizante criado.
Outras startups estão trabalhando para abordar essas fontes de emissões de metano, com soluções que vão desde a adição de aditivos à alimentação de vacas, como algas marinhas, até vacinas e reprodução ainda não comercializadas.
Quando se trata de vazamentos de petróleo e gás, outra grande fonte de emissões de metano, muitas vezes a solução é muito simples: consertar o cano vazando. Mas isso não aborda as emissões de gás intencionalmente queimado, como o do emitido na Bacia do Permiano, no Texas, apesar da pressão dos investidores para reduzir as emissões.
Em vez de queimar, os produtores de petróleo e gás poderiam transformar as emissões de metano em fertilizante orgânico e vendê-lo para fazendas vizinhas, gerando lucro, de acordo com Silverman.
Vender ou usar o fertilizante localmente seria fundamental para tornar essa uma solução lucrativa, uma vez que o fertilizante orgânico é difícil de armazenar e transportar em comparação com sua alternativa sintética. Também é tipicamente mais caro.
Mas a Windfall está apostando na crescente pressão regulatória e nos problemas associados ao uso de amônia, como a contaminação das águas subterrâneas, para estimular uma adoção mais ampla de fertilizantes orgânicos.
Silverman disse que o fertilizante feito com os “mems” da Windfall é 50% mais barato do que o fertilizante orgânico convencional, e que o principal desafio da empresa agora é acompanhar a demanda.
Por isso, a arrecadação de fundos veio tão rapidamente após a rodada inicial de US$ 9 milhões da Windfall no ano passado, acrescentou. O foco da empresa para o próximo ano é expandir seu processo de fabricação para começar a fornecer quantidades comerciais de mems em 2025.
Fonte: Folha SP.
Foto: Folhapress.