Depois de um século de interdição, os parisienses voltam oficialmente a se banhar no rio Sena neste sábado (5). Três pontos da capital francesa serão liberados para o banho até o dia 31 de agosto. E os banhistas poderão se bronzear em uma praia artificial decorada com temática brasileira, em referência à programação de eventos culturais do Ano do Brasil na França.
A balneabilidade do rio que atravessa Paris é um legado dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. A realização de algumas provas de natação no Sena serviu de pretexto para um longo trabalho de despoluição, com custo estimado em € 1,4 bilhão (cerca de R$ 9 bilhões). Foram construídos piscinões e estações de tratamento de esgoto.
“Conseguimos”, postou o presidente da França, Emmanuel Macron, lembrando que o banho no Sena foi uma promessa feita em 1988 por um de seus antecessores, Jacques Chirac, prefeito de Paris de 1977 a 1995 e presidente de 1995 a 2007.
Três locais designados ao longo das margens do Sena acomodarão mais de 1.000 nadadores, diariamente, de 5 de julho a 31 de agosto, anunciaram autoridades locais.
“Estamos especialmente felizes por termos provado que os céticos estavam errados e por podermos cumprir os compromissos que assumimos inicialmente, em algo que era muito grande e muito complicado de alcançar, em um tempo relativamente curto, e que os Jogos Olímpicos de Verão (Paris 2024) nos permitiram acelerar”, disse o vice-prefeito de Paris para o rio Sena, Pierre Rabadan.
“É um grande símbolo. Despoluir a água do nosso rio, que depois vai para o mar, também é uma contribuição à proteção da natureza”, disse à Folha a prefeita de Paris, Anne Hidalgo. Um ano atrás, ela deu um mergulho simbólico no rio, com um pequeno grupo de convidados.
A prefeita acrescentou que o Sena balneável é mais uma opção para os parisienses se refrescarem, diante das temperaturas cada vez mais altas. “É uma medida de adaptação. Temos que nos virar para o rio, e não dar as costas a ele, como foi o caso durante muito tempo em Paris.”
Prevê-se que, devido ao aquecimento global, na metade deste século as máximas em Paris se aproximem dos 50°C. Na semana passada, chegaram perto dos 40°C.
Os três pontos para banho ficam próximos à catedral de Notre-Dame (centro da cidade), à Torre Eiffel (oeste) e à Biblioteca Nacional (leste). Há algumas condições. É preciso ter pelo menos dez anos de idade. A capacidade total de público dos três pontos é de 600 banhistas simultaneamente. Salva-vidas podem retirar da água quem demonstrar insegurança para boiar.
O banho também será proibido em caso de mau tempo, correnteza forte ou análise bacteriológica negativa, informações que serão publicadas no site da prefeitura.
As análises são necessárias porque, apesar da liberação para o banho, nem todos os dias o nível de bactérias do Sena é adequado. Durante os Jogos de 2024, isso foi motivo de controvérsia, pois os organizadores não publicavam o resultado das medições diárias.
Isso gerou desconfiança em relação à qualidade da água. Alguns atletas relataram mal-estar após treinos e competições, mas não foi provado que a causa tenha sido uma contaminação no rio.
O banho no Sena foi oficialmente interditado em 1923, em razão da progressiva deterioração da qualidade da água, destino do esgoto de residências e de resíduos industriais. Até a década de 1970, ainda era possível ver parisienses arriscando a saúde para dar um mergulho, sobretudo em períodos de muito calor.
Praias artificiais, batizadas como Paris Plages, são montadas a cada verão na capital francesa desde 2002, porém, sem permissão para o banho no rio. Em 2017, foi autorizado nadar em La Villette, pequeno trecho de uma rede de canais construída em Paris no século 19 a mando de Napoleão, para servir de meio de transporte e fonte de água potável.
Durante a onda de calor na Europa na semana passada, muitos parisienses e turistas ignoraram as interdições e pularam nos canais da cidade para se refrescar.
A reabertura do Sena para natação é resultado dos esforços das autoridades para melhorar a qualidade da água do rio para os Jogos Olímpicos de Paris, em 2024.
Os investimentos incluíram a conexão de dezenas de milhares de residências ao sistema de esgoto, a modernização das estações de tratamento de água e a construção de grandes reservatórios de água da chuva para evitar o transbordamento do esgoto durante fortes tempestades.
Testes diários da qualidade da água serão realizados durante a temporada de natação, com bandeiras verdes e vermelhas — semelhantes aos sistemas de segurança de praia — indicando se as áreas de natação estão abertas ou fechadas.
“Obviamente, se abrirmos a área de banho é porque a água está em conformidade com os regulamentos, não representa absolutamente nenhum perigo para as pessoas que vão nadar”, disse Rabadan à Reuters.
Além dos três locais em Paris, 14 áreas de natação fora dos limites da capital serão instaladas nos rios Sena e Marne. Duas delas já foram inauguradas no Marne em junho.
Fonte: Folha SP, g1.
Foto: Geoffroy van der Hasselt – 21.jun.2025/AFP.
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