A 16ª edição da Conferência das Partes da Biodiversidade, COP 16, realizada no final de outubro em Cali, Colômbia, chegou ao fim sem o aguardado acordo financeiro para a conservação das espécies. Apesar da criação do Fundo Cali, mecanismo de financiamento da repartição de benefícios sobre acesso a informações provenientes de sequenciamento genético, a falta de comprometimento dos países desenvolvidos para aportar recursos de maneira consistente frustrou as delegações.
Na visão de Ricardo Assumpção, líder de Sustentabilidade e chief sustainability officer (CSO) da EY para a América Latina, esse desfecho amplia as expectativas em relação à COP30, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que ocorrerá em novembro do ano que vem em Belém do Pará – evento extremamente simbólico por ser a primeira COP sediada na Amazônia e marcar os dez anos do Acordo de Paris.
A EY tem enfatizado que a ampliação e a diversificação das atividades de bioeconomia despontam como um caminho promissor para o desenvolvimento sustentável no Brasil. Trata-se do conceito baseado no uso inteligente e sustentável dos recursos biológicos, em linha com a demanda global por modelos de negócios que respeitem os limites do planeta e promovam a regeneração dos ecossistemas. “O que precisamos fazer é dar escala à bioeconomia, mostrar ao mundo tudo o que o Brasil pode proporcionar com seu capital natural único”, diz Assumpção.
O potencial da bioeconomia, alternativa econômica resiliente e sustentável, é enorme. De acordo com o Relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade (TEEB), os serviços ecossistêmicos globais, que incluem a biodiversidade, podem valer trilhões de dólares anualmente. No outro lado da balança, a perda de biodiversidade e a degradação dos ecossistemas resultariam em um prejuízo econômico de até US$ 4 trilhões por ano até 2050, de acordo com estudo da Universidade de Cambridge.
União de esforços
Para reforçar o compromisso das empresas com a sustentabilidade e seu próprio compromisso diante do tema, a EY criou no ano passado o EY Nature Hub, plataforma que integra serviços e soluções para valorizar e proteger o capital natural. “O propósito central é ajudar o mercado a entender o potencial da natureza e seus ativos como forma de gerar valor”, explica Assumpção. “Desde a parte regulatória até as cadeias de suprimentos temos uma oferta de ferramentas para que as empresas possam medir, gerir e otimizar seu impacto ambiental, consolidando a visão de que investir na natureza tem retorno garantido – já que, além de proteger a economia e a vida no planeta, oferece grande potencial de geração de lucro.”
Para o líder de Sustentabilidade da EY, é preciso mostrar ao mercado como natureza, capital natural, clima e biodiversidade não devem mais ser vistos como riscos, e sim como oportunidades e alavancas de valor quando integrados à estratégia corporativa.
O especialista enfatiza que o fato de o Brasil ter grandes empresas em setores essencialmente extrativistas, a exemplo de mineração, agronegócio, indústria química e óleo e gás, reforça ainda mais a visão de que a sustentabilidade precisa ser guiada pelos conhecimentos científicos e tradicionais e, com base nestes, desenvolver oportunidades que vão gerar retorno para os negócios e para o planeta. “Nessas empresas enormes, qualquer pequeno avanço gera ganhos extremamente significativos. E o potencial de ir conquistando esses avanços, a partir de estratégias sustentáveis claras e bem definidas, é imenso.”
A EY apoiou o lançamento das recomendações do setor empresarial brasileiro para o desenvolvimento da bioeconomia no Brasil, reunindo 56 lideranças empresariais e do governo do Brasil e da Colômbia durante a COP 16. Na ocasião foram debatidas ações em desenvolvimento para impulsionar a bioeconomia no País e potenciais pontos de colaboração entre os setores público e privado.
Ao fazer um balanço da COP 16, Assumpção destaca cinco pontos que considera essenciais para a construção de uma economia mais verde, resiliente e orientada a valores que se impõem tanto aos negócios quanto à sociedade como um todo.
1 Contribuição robusta da bioeconomia
Hoje, embora mais de 90% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tenha relação direta ou indireta com os recursos naturais, não mais que 2% são provenientes de atividades “puras” de bioeconomia. “O potencial é para chegar a 10% do PIB em 2030″, projeta o líder da EY. Ele cita, como exemplo positivo, a cadeia brasileira do cacau, que conseguiu absorver práticas sustentáveis dentro de um ecossistema que, até então, tinha práticas tradicionais bem consolidadas.
2 Enfrentamento de desafios
Desenvolver políticas públicas robustas e inovadoras para fortalecer a biodiversidade e combater as mudanças climáticas é essencial para enfrentar grandes desafios brasileiros, como a necessidade de expandir o acesso ao crédito para pequenos produtores e combater o desmatamento. De acordo com estudo da revista científica Nature, 47% da Floresta Amazônica está sob estresse devido a vários fatores, incluindo o desmatamento, o que contribui significativamente para as emissões globais de gases de efeito estufa.
3 Potencial de liderança global
Com seu imenso capital natural, que inclui 20% da biodiversidade global e vários outros pilares de enorme potencial, a exemplo de carbono e energias renováveis, o Brasil tem a oportunidade de liderar a bioeconomia mundial. Isso depende da valorização da biodiversidade como ativo estratégico em um cenário geopolítico que reconheça a sustentabilidade como diferencial competitivo. “Precisamos colocar preço na nossa combinação única de ativos e mostrar ao mundo a capacidade brasileira de inovar”, diz Assumpção.
4 Mecanismos de suporte
A economia de baixo carbono depende da implementação de mecanismos de remuneração, como o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) e o mercado de carbono regulado. Para assegurar que esses mecanismos sejam eficazes e alinhados às melhores práticas ambientais, é essencial uma avaliação aprofundada das oportunidades.
5 Inovação e parcerias estratégicas
A promoção de cadeias de valor sustentáveis e a integração de ciência, tecnologia e inovação são fatores fundamentais para o avanço da bioeconomia no Brasil. Isso pode ser feito, em grande parte, por meio de parcerias estratégicas, envolvendo governo, iniciativa privada e sociedade civil.
“Nosso grande papel como País é mostrar ao mundo que, com planejamento e boa gestão, investimentos em sustentabilidade são seguros e dão retorno. Precisamos ser mais eficientes em transmitir essa mensagem”, diz o líder de Sustentabilidade da EY
Fonte: Estadão.
Foto: Getty Images.
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