Brasil lança primeiro selo de carne livre do desmatamento do mundo

O Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) lançou nesta terça-feira (21) a primeira certificação global que vai atestar se a carne comercializada é livre de desmatamento. Chamado de Beef on Track (BoT), o selo pretende reconhecer a conformidade socioambiental na pecuária de corte. Associação chinesa já demonstrou interesse na compra de carne certificada BoT e a expectativa é de venda de 50 mil toneladas até junho de 2026.

A certificação, segundo o Imaflora, foi criada em um esforço de traduzir compromissos e protocolos que já são usados pela pecuária brasileira – como o Programa Boi na Linha e as auditorias do TAC da Carne do Ministério Público Federal – em um sistema de verificação e certificação.

Além disso, a ideia é atender a uma demanda crescente do maior mercado consumidor da carne do Brasil, a China, por produtos ambientalmente sustentáveis, e também para colocar a pecuária brasileira à frente de eventuais futuras exigências de mercados consumidores, como é o caso da União Europeia, que impôs há alguns anos a sua regulação anti desmatamento, conhecida como EUDR (European Union Deforestation Regulation), como explica a diretora executiva do Imaflora, Marina Piatto.

“Um dos motivos que nos levaram a criar o BoT foi para nos adiantarmos, justamente para que [mercados consumidores] não viessem com regras como a EUDR, top down [de cima para baixo], dizendo ‘agora vocês vão ter que fazer isso’. Foi para a gente sair na frente e falar das nossas regras, do Código Florestal”, disse, em coletiva de imprensa por ocasião do lançamento do BoT, em Brasília.

Atualmente, o Brasil exporta carne bovina para 160 países, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). O maior importador é a China, que respondeu por 45% do total exportado pelo Brasil em 2025, um volume de 801,8 mil toneladas, somente de janeiro a julho de 2025.

Certificação e seus níveis

De acordo com o Imaflora, o BoT não é uma certificação de fazendas, mas das compras de produtos provenientes da pecuária de corte. Podem ser certificados frigoríficos, curtumes, varejistas, importadores e instituições financeiras.

Atualmente, os selos existentes são voltados para manejo florestal ou produtos agrícolas, como o FSC e o da Rainforest Alliance, por exemplo, não especificamente para a carne e derivados, o que confere ao BoT um ineditismo.

O selo BoT terá quatro níveis de certificação: Bronze, Prata, Ouro e Platinum.

A certificação Bronze será concedida a atores da cadeia da carne que conseguirem garantir que os fornecedores diretos são livres de desmatamento ilegal, trabalho escravo e produção em terras públicas destinadas.

Estas já são as exigências do TAC da Carne e do programa Boi na Linha e, por isso, muitas das empresas instaladas na Amazônia que seguem tais protocolos já estariam aptas a serem certificadas com o BoT Bronze.

“Dos 12 milhões [de cabeças d gado] abatidos na Amazônia atualmente, 7 milhões já seriam BoT. Estamos falando de um volume muito expressivo”, explica Marina Guyot, gerente de Políticas Públicas do Imaflora.

No nível Prata, os fornecedores diretos precisam ser livres de desmatamento legal – sem abertura de novas áreas – ou ilegal, trabalho escravo e produção em terras públicas destinadas.

No nível Ouro, os fornecedores indiretos – e não só os diretos – precisam ser livres de desmatamento ilegal, além do trabalho escravo e produção em terras públicas destinadas.

No nível platinum, o critério aumenta: fornecedores diretos e indiretos precisam se livres de qualquer tipo de desmatamento – legal ou ilegal – trabalho escravo e produção em terras públicas destinadas.

Segundo Marina Guyot, como a indústria brasileira da carne já segue protocolos socioambientais internos e estariam aptas a receberem o selo Bronze, a certificação não terá custos.

A ideia da organização é que a carne certificada chegue aos supermercados sem custos adicionais ao consumidor final, ao menos as que receberem o selo nos níveis mais simplificados. Para isso, um projeto piloto será desenvolvido ao longo de 2026 com uma grande rede varejista.

“A ideia é ter lá [no supermercado] a picanha com o selo BoT e o consumidor poder escolher. Claro que para isso a gente precisa investir em um programa de comunicação muito forte, para que o consumidor entenda que não é uma carne gourmet. A estratégia é que não seja nicho, o selo tem que estar nos varejos mais populares, porque todo mundo tem o direito de comer carne sem desmatamento”, explica Marina Piatto, diretora executiva do Imaflora.

Piloto no mercado chinês

Atualmente, o Imaflora já conta com o interesse da Tianjin Meat Association, que se comprometeu a comprar 50 mil toneladas de carne com o selo BoT até junho do próximo ano. A associação responde hoje por cerca de 15% do volume total de carne importada pela China.

Durante 2026, a organização brasileira e parceiros pretendem aprimorar a certificação e garantir a aderência a novos mercados consumidores, de forma a paraçar a adesão interna.

Esta estratégia de atuação acontece porque ainda há uma certa resistência da indústria brasileira de carne em relação à proposta. Apesar dos atrativos e da boa receptividade da certificação junto a certos mercados, Abiec e frigoríficos não estiveram presentes no evento de lançamento do BoT. Eles cancelaram a participação de última hora.

De acordo com Marina Piatto, estão programados para 2026 road shows com outros importadores chineses, além da Tianjin Meat Association, e apresentações para importadores da Europa e do Oriente Médio.

Fonte: ((O))eco.

Foto: André Corrêa/Imaflora.

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