Brasil todo sem internet? Entenda obra que pode acabar com conexão no país inteiro

O Brasil inteiro pode ficar sem conexão com a internet. A afirmação parece alarmista, mas essa possibilidade é real se uma obra que está sendo realizada pelo governo do Ceará para de fato levada em frente. Trata-se da instalação de uma usina de dessalinização da água do mar que está sendo preparada na área da Praia do Futuro, em Fortaleza, mas que após uma notificação de alerta emitida pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) teve que ser paralisada. As empresas de telecomunicações também espernearam e de imediato entraram no debate.

Empresas que atuam no setor de internet alegam que a obra pode derrubar a conexão no Brasil. Um dos líderes do movimento contrário ao projeto, Fábio Andrade, vice-presidente institucional da Claro, é categórico: “A internet do país vai parar”.

Impactos para a conexão de internet

Em entrevista à Folha de São Paulo, Fábio Andrade lembrou que a própria Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) já se manifestou e determinou que os dutos da usina fiquem a, no mínimo, 500 metros dos cabos submarinos. Antes, o projeto estabelecia apenas cinco metros.

Com a vibração da água, Andrade afirma que pode haver rompimento dos cabos, derrubando a internet.

Mas segundo ele, o problema vai além. Mesmo que a instalação ocorra a no mínimo 500 metros, a conexão pode ser afetada no futuro. Isso porque o vice-presidente institucional da Claro destaca que o número de cabos deve dobrar em três anos, com o aumento da demanda por internet no país. Nesse sentido, a instalação deveria ser feito em uma distância de, no mínimo, mil metros.

Quase toda a conexão internacional do país com EUA, Europa e África chega na Praia do Futuro, em Fortaleza (CE). Um reparo leva, no mínimo, 50 dias. Isso afetaria a segurança pública, saúde, hospital, a população (Fábio Andrade, vice-presidente institucional da Claro).

Andrade ainda explica que um novo projeto executivo é aguardado e que os próximos capítulos dessa história serão conhecidos em algumas semanas.

Ele afirma que, caso a construção da usina ocorra no local indicado originalmente, a solução será instalar novos os cabos de internet em outra praia da região. O problema é que isso gerara um enorme custo, além da necessidade de garantir a conexão em terra entre esses dois terminais de cabos.

Relembre a polêmica

Prevista para começar a funcionar em 2025, a usina teria a função de resolver parte do problema histórico do fornecimento de água no Ceará, estado acometido por secas severas e que fica numa região geograficamente semiárida. O problema está no local escolhido.

É justamente nas cercanias da Praia do Futuro que os grandes cabos submarinos de telecomunicações, de telefonia e internet, passam, ligando o Brasil com a Europa, responsáveis por 99% do tráfego de dados aqui no país. As obras realizadas têm potencial real de provocar rompimento nessas estruturas complexas, o que nos deixaria completamente isolados do resto do planeta.

Local que recebe os cabos de fibra ótica que atravessam o Oceano Atlântico, Fortaleza foi escolhida como ponto de conexão com o mundo por sua distância mais curta da costa da Europa, algo em torno de “apenas” seis mil quilômetros. De lá, os cabos vão em direção a São Paulo e ao Rio de Janeiro, de onde o tráfego passa a ser partilhado com o resto do território nacional. O ministro Juscelino Filho, das Telecomunicações, sintetizou a situação do estado nordestino em relação a esse tema numa frase dita quarta-feira (27), quando falava sobre o problema: “O Ceará, em especial a cidade de Fortaleza, é que garante a interconexão do Brasil com o resto do mundo”.

Segundo empresas do setor, a construção da usina no mesmo local pode trazer riscos à conexão no Brasil, pois os cabos trazem 99% dos dados, conforme o Ministério das Comunicações;

Os responsáveis pela PPP, por sua vez, garantem não haver risco, alegando que os dutos ficarão a mais de 500 metros dos cabos de internet, com zero chances de acertá-los.

Obra de usina no CE não vai afetar internet, diz presidente de empresa responsável

Em resposta à TelComp, entidade que representa empresas de data centers e telecomunicações, durante conversa com Carlos Madeiro, colunista do UOL, o diretor-presidente da Sociedade de Propósito Específico (SPE) Águas de Fortaleza (responsável pela obra), Renan Carvalho, diz que o projeto não tem como afetar os cabos de internet instalados na praia do Futuro.

O diretor-presidente afirma que as empresas de tecnologia de internet estão preocupadas, na verdade, em ter espécie de reserva de mercado da região para os cabos submarinos.

Fontes: Olhar Digital, Revista Forum.

(Imagem: Reprodução/Submarine Cable Map.