O calor é responsável por menos de 1% das mortes cardiovasculares nos Estados Unidos atualmente, mas cientistas apontam que esse cenário irá mudar. Uma pesquisa publicada na revista Circulation no último dia 30 de outubro prevê que as mortes sofrerão um aumento entre 2036 e 2065 — e que idosos com 65 anos de idade ou mais e adultos negros poderão ser os mais afetados.
“Devido ao impacto desigual do calor extremo em diferentes populações, isso também é uma questão de igualdade de saúde e pode exacerbar as disparidades que já existem”, disse em comunicado Sameed A. Khatana, cardiologista e professor assistente de medicina na Universidade da Pensilvânia.
Entre os aspectos que influenciam essas mortes estão barreiras econômicas que dificultam os cuidados – como não ter ar condicionado ou morar em locais que absorvem e retêm calor, as chamadas “ilhas de calor” – e a existência de condições médicas subjacentes, como diabetes ou doenças cardiovasculares.
O estudo, apoiado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH, na sigla em inglês), aponta que de 2008 a 2019 foram registradas 12 milhões de mortes relacionadas a doenças cardiovasculares entre os meses de maio e setembro. Os dados são relativos aos 48 estados contíguos dos EUA.
A partir de estimativas de modelagem ambiental, os pesquisadores descobriram que o índice de calor (que mede a temperatura extrema levando em conta a sensação térmica com umidade) subiu para 32,2ºC aproximadamente 54 vezes por verão.
Também foi estimado que, no período estudado de 2036 a 2065, cada verão terá entre 71 e 80 dias com 32,2ºC ou mais. A partir dessas mudanças, prevê-se que o número de mortes por doenças cardiovasculares anuais relacionadas ao calor irá aumentar em 2,6 vezes – de 1651 entre 2008 e 2019 para 4320. A estimativa não leva em conta um possível aumento das emissões de gases de efeito estufa, o que poderia triplicar esses óbitos.
Em um cenário de estabilidade nas emissões, as mortes de pessoas com 65 anos ou mais poderiam triplicar: de 1340 para 3842; já entre pessoas negras adultas, poderiam ir de 325 para 1512. Sem uma estabilidade, os números seriam 4894 e 2063, respectivamente.
Algumas cidades têm usado abordagens de resfriamento, como plantar árvores para fazer sombra, acrescentar centros de resfriamento com ar condicionado e pavimentar ruas e pintar telhados com materiais que refletem o calor, mas ainda faltam pesquisas para avaliar o efeito dessas medidas na saúde da população.
“Além de pensarmos no impacto das temperaturas extremas nos EUA, esse tipo de previsão de modelagem também prenuncia o impacto que o calor extremo pode ter em todo o mundo, especialmente em regiões com climas mais quentes e que são desproporcionalmente afetadas por disparidades de saúde”, disse Flora N. Katz, diretora da Divisão de Treinamento e Pesquisa Internacional do Centro Internacional John E. Fogarty do NIH.
Fonte: Revista Galileu.
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