O crescimento econômico desenfreado implicou em deterioração das condições climáticas globais, que atualmente ameaçam a sobrevivência de muitas das espécies do Planeta – inclusive os humanos. No entanto, à medida que os países enfrentam o desemprego persistente, déficits fiscais crescentes e incertezas nas perspectivas econômicas globais, uma grande janela de oportunidade também se abre para reformular os padrões de crescimento.
Em particular, tem se percebido que promover a transição para uma economia verde pode não apenas ajudar a enfrentar as mudanças climáticas, mas, se as políticas corretas forem implementadas, também pode abrir caminho para uma economia global mais inclusiva e sustentável. Financeiramente, inclusive.
Foi o que destacaram Karen Oliveira, Diretora para Políticas Públicas e Relações Governamentais da The Nature Conservancy Brasil (TNC Brasil), e Sergio Besserman, Coordenador Estratégico do Climate Reality Project Brasil, durante o painel “Rumo à Economia Verde”, realizado durante o Fórum de Justiça Climática promovido por Um Só Planeta na segunda-feira (8) no Rio de Janeiro.
“Precisamos falar da economia da biodiversidade. Da sociobioeconomia [modelo de geração de riqueza que, além de priorizar a preservação dos recursos naturais do planeta, leva em consideração a dignidade humana das populações envolvidas]. É aquela economia desenvolvida pelos povos originários. Nós ainda não reconhecemos todas as cadeias que a sociobioeconomia pode trazer, e precisamos investir nisso. Para transformar diferentes ativos das cadeias da sociobiodiversidade em maneiras de produzir, ao mesmo tempo em que se mantém a floresta em pé”, disse Karen.
Ela trouxe o exemplo de um estudo feito pela The Nature Conservancy, apontando que a sociobioeconomia do Pará tem potencial de gerar R$ 170 bilhões em 20 anos. Coordenada pelo professor Francisco de Assis Costa, do Núcleo de Altos Estudos da Amazônia (NAEA) da Universidade Federal do Pará (UFPA), a pesquisa analisou 30 produtos da sociobiodiversidade paraense desde a produção até a comercialização.
Em 2019, o PIB gerado por essas cadeias foi de R$ 5,4 bilhões. O valor é quase três vezes maior do que o registrado pelas estatísticas oficiais do IBGE, que indicavam um valor bruto de produção de R$ 1,9 bilhão no mesmo ano, considerando apenas a produção rural, primeiro elo da cadeia produtiva. Além disso, estima-se que tenham gerado cerca de 224 mil empregos.
“Os primeiros ciclos de desenvolvimento econômico no Brasil eram muito voltados a derrubar a floresta, botar tudo abaixo, e só depois foi se pensar em desenvolvimento sustentável. Em uma Amazônia em que o valor da floresta passa a ser prioritário, como sabemos hoje”, avalia ela.
Sergio Besserman ressaltou, destacando as iniciativas de resguardo ambiental, que quem melhor protege as florestas brasileiras são os povos indígenas – mesmo em comparação com as unidades de conservação (UC), áreas territoriais com características naturais relevantes que são criadas e protegidas pelo Poder Público com objetivos de conservação.
“O custo de salvar o Planeta ainda não está internalizado no ‘fazer negócio’. E esse preço não virá espontaneamente do mercado. Esse preço quem tem que definir é a sociedade. Dizer: ‘olha, esquentar o Planeta não é de graça’. Tem que ter um preço, e bem caro, a pagar”, afirmou ele.
Ponderando sobre o papel que iniciativas públicas e particulares têm a cumprir na agenda ambiental, o economista explicou que a conscientização sobre o problema e a implementação de ações para ajudar a resolvê-lo têm sido aplicadas com maior sucesso por algumas instituições, inclusive financeiras. “Mas pela visão estratégica, não pela rentabilidade”, disse Besserman, acrescentando que as instituições financeiras estão conscientes da dificuldade dessa transição “inédita”.
“A motivação ainda não é o motor da roda. Porque não está precificado o custo de salvar o Planeta”, concluiu ele.
Fonte: Um só Planeta.
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