A primeira jazida de cristal descoberta em 1912 no povoado de São Jorge certamente não foi a única riqueza encontrada na região hoje chamada de Parque Nacional Chapada dos Veadeiros.
Isso porque a área – criada em 1961 pelo então presidente da República, Juscelino Kubitschek, com o nome de Parque Nacional do Tocantins – tem muito mais que as boas vibrações dos tantos cristais que ainda estão por lá.
A saber: um cerrado que mistura paisagens verdes e avermelhadas dos chapadões e formações rochosas, cânions, rios de águas cristalinas, e uma imensidão de cachoeiras e cavernas que sequer foram visitadas ou descobertas até hoje.
Localizado na região noroeste do estado de Goiás, a cerca de 240 km de Brasília, o parque é reconhecido como Patrimônio Natural Mundial da Humanidade pela Unesco desde o ano 2000.
Entre as espécies da fauna que lá habitam, cerca de 50 são classificadas como raras, endêmicas ou sob risco de extinção na área.
Desde sua última ampliação, em 2017 – cujo objetivo foi o desenvolvimento da pesquisa científica, a educação ambiental e a visitação pública controlada -, o parque conta com 240 mil hectares, e vem reinaugurando antigos atrativos para visitação e descobrindo novos.
Na Chapada dos Veadeiros, o turista expande as possibilidades de roteiros sem desprezar as belezas clássicas do Vale da Lua, do Jardim de Maytrea, do Mirante da Janela e das cachoeiras do Salto, Santa Bárbara, Almécegas, Couros e Segredo.
Alto Paraíso de Goiás, uma das cinco cidades que abrangem o Parque, é considerada o portal da Chapada. É lá que se encontra o rio São Bartolomeu e uma nova atração chamada Caldeira, reaberta em julho passado.
Ali formam-se quatro poços para banhos em curiosas camadas de rochas que se tornam gradualmente subverticalizadas conforme se avança até a última cachoeira, com a queda de suas águas dentro de uma rocha em formato de caracol.
Para se chegar ao local é preciso encarar uma trilha de cerca de quatro quilômetros e cinco travessias dentro do rio. A recompensa são paisagens exuberantes e tão únicas que deixam dúvidas se as formações são obras da natureza ou intervenções extraterrestres.
Por falar em alienígenas, é importante mencionar a fama da Terra Ronca e as obras naturais de suas cavernas, na cidade de São Domingos – dizem que o local é o átrio para outro planeta.
Dá para imaginar que a crença venha dos sons e da inexprimível experiência de andar durante horas por cavernas com salões gigantes ornamentados de espeleotemas, as formações rochosas que se dão em seu interior.
São aproximadamente 300 grutas e cavernas – a caverna Angélica está entre as mais bonitas e maiores do Brasil. Sua travessia completa tem 14 quilômetros, inclusive com um pernoite em seu interior, seguindo o curso do rio.
A expedição de rafting do rio Tocantinzinho já tinha um roteiro de nove quilômetros de extensão com uma sequência de corredeiras de níveis de 1 a 3 – agora, ganhou novo trajeto em um roteiro que dura o dia todo.
São 23 quilômetros de extensão, com remo pelo curso do rio, em que o turista encontra surpresas e paradas, águas cristalinas, e trechos onde as paredes rochosas dos cânions se afunilam de tal forma que é preciso descer do bote para cumprir o que falta a nado.
Segundo Guilherme Predebon, guia de canoagem e fundador da Veadeiros Rafting, foi necessário um trabalho de vários meses no percurso a fim de garantir a segurança dos aventureiros.
Nas proximidades do distrito de São Jorge, Ion David, canionista e proprietário da Travessia Ecoturismo em Veadeiros, desenvolveu um trecho autorizado pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) para a prática do canionismo entre as corredeiras e a cachoeira do Garimpão.
Interessados percorrem cursos de água na vertical ou na horizontal, com o objetivo de passar por diferentes obstáculos como corredeiras, cachoeiras e poços.
“São seis rapeis e um salto passando pelo belo trecho conhecido como Carrossel”, conta David. “Antes de iniciar, equipamos todo o grupo e realizamos um treinamento individual com cada participante. O trecho oferece recompensas e acesso a lugares muito distintos dos outros do Parque Nacional. É realmente incrível.”
O aeroporto de Brasília é o meio mais próximo para se chegar a Veadeiros vindo de outros estados. A partir da capital federal, são 240 km até as cidades-base de Alto Paraíso de Goiás ou seu distrito São Jorge.
Para percorrê-los de carro, dá para alugar um no aeroporto com diárias a partir de R$ 120, ou contratar um transfer com uma agência de turismo local de Alto Paraíso a partir de R$ 400 por trecho (dependendo do tipo e do tamanho do veículo).
De ônibus há várias empresas, sendo a mais conhecida a Viação Real Expresso – são quatro horas de viagem, com custo a partir de R$ 78.
A cidade oferece opções de hospedagem variadas, do econômico ao luxo. Inspirados na alta procura de cabanas no estilo glamping (domos e casas sustentáveis em meio ao cerrado), sites de locações de imóveis como o Airbnb oferecem ocupações nesse estilo.
As pousadas são focadas em descanso e “boas energias”. A Casa da Lua, com diária média de R$ 700 por acomodação, tem um amplo jardim com cristais, balanços, redário, yoga no fim da tarde, roda de fogueira e massagem.
As refeições são preparadas com alimentos orgânicos e há opções veganas no cardápio.
O camping João de Barro tem cabanas já montadas para quem não possui barracas, com preços a partir de R$ 160 por dia.
Nenzinha serve há mais de 20 anos no quintal de sua casa, na vila de São Jorge, alguns dos pratos goianos. Lá, e nos restaurantes próximos, dá para comer receitas à base de buriti, pequi e baru, além da pamonha de milho e do empadão goiano.
À noite, o Energia Incrível, do chef Dudu Camargo, serve sobremesa de sorvete de tapioca com calda de goiabada
Fonte: Folha SP.
Foto: Divulgação.