Cidades flutuantes são o futuro da humanidade?

Enquanto procuramos enfrentar o aquecimento global, existem realidades de nosso clima em mudança com as quais já precisamos conviver. O nível do mar tem subido a um ritmo acelerado, estimando-se que as costas dos EUA tenham um aumento de 25 a 30 centímetros até 2050.

O secretário-geral da ONU alertou que comunidades e países inteiros podem desaparecer nas próximas décadas como resultado; o perigo é especialmente grave para os cerca de 900 milhões de pessoas que vivem em zonas costeiras baixas.

Muitas dessas comunidades vulneráveis já sofreram inundações devastadoras. Mas, em vez de construir quebra-mares para tentar impedir a entrada de água ou erguer casas sobre palafitas, alguns arquitetos estão projetando um futuro em que viveremos com água – e sobre ela.

Propostas para cidades flutuantes inteiras “resilientes ao clima” (incluindo um ambicioso assentamento oceânico na Coreia do Sul e um grande o suficiente para abrigar 20 mil pessoas nas Maldivas) ganharam as manchetes. Mas os projetos existentes, de Lagos a Roterdã, estão mostrando como pode ser a vida sobre a água e como eles podem ser ampliados.

Cidades flutuantes são vistas por muitos como uma solução promissora e necessária para os desafios urbanos e climáticos (aumento do nível do mar, escassez de terra), oferecendo resiliência, autossuficiência (energia solar, água, alimentos) e novas formas de vida em harmonia com a água, com projetos como Oceanix Busan e inspiração em comunidades tradicionais, embora ainda existam grandes desafios financeiros, políticos e tecnológicos para sua implementação em larga escala. Não são a única solução, mas um componente importante no repertório de adaptação humana.

Apoiada pela Organização das Nações Unidas (ONU), a empresa americana Oceanix está liderando uma iniciativa envolvendo habitações humanas flutuantes de grande escala, atualmente desenvolvendo o que descreve como “a primeira comunidade flutuante resiliente e sustentável do mundo, para 10 mil moradores em 75 hectares”.

“Em relação à elevação do nível do mar, autoridades locais de cidades costeiras têm basicamente duas opções”, diz o presidente da Oceanix, Marc Collins Chen. “Construir uma grande muralha, que provavelmente nunca será alta o suficiente, ou olhar para a última novidade em engenharia, que é flutuar sobre um lugar.”

Embora chamado de “cidade flutuante”, o que a Oceanix está propondo, pelo menos inicialmente, é mais no sentido de grandes bairros flutuantes, expansões aquáticas para megacidades litorâneas já superpovoadas que enfrentam dificuldades com o aumento do nível do mar, como Jakarta, na Indonésia, ou Xangai, na China.

Essas novas “cidades” serão compostas de plataformas triangulares de dois hectares de área, boiando, cada uma abrigando 300 moradores, com espaço adicional para produção agrícola e lazer. Elas podem ser ligadas umas às outras, formando assentamentos cada vez maiores.

“Estamos construindo uma infraestrutura que é capaz de lidar com eventos climáticos extremos e também é altamente sustentável”, disse Chen.

“Queremos que esses assentamentos não usem nenhum combustível fóssil. É tudo com energia renovável, e estamos tentando cultivar 100% de nossas necessidade proteicas a bordo.”

Parece impressionante, mas será que vamos ver essas expansões urbanas flutuantes se tornando realidade?

“Já está acontecendo”, diz Chen. “Nós veremos um protótipo flutuante nos próximos anos, estou muito confiante.”

Cidades flutuantes podem parecer algo vindo direto de páginas de livros de ficção científica, mas na verdade nós, humanos, temos vivido e cultivado alimentos em ambientes flutuantes há séculos.

“Nós compilamos uma lista de 64 casos para estudo de comunidades indígenas flutuantes ao redor do mundo”, diz Julia Watson, professora de Design na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e autora de Lo-Tek: Design by Radical Indigenism, livro que explora lições de design que podemos aprender com culturas indígenas.

“Mais que isso, esses sistemas indígenas sempre foram inerentemente sustentáveis, algo que nossas cidades atualmente não são.”

Exemplos de comunidades flutuantes ainda podem ser encontrados hoje em dia, como as ilhas de cultivo de cana do povo Uru no lago Titicaca, na fronteira entre Peru e Bolívia.

Jardins flutuantes são ainda mais comuns, notadamente em Bangladesh, onde agricultores plantam sementes em espécies de jangadas feitas de plantas flutuantes, que sobem e descem conforme as cheias que ocorrem devido às monções anuais.

De certa forma ironicamente, foi a construção de grandes cidades que levou ao desaparecimento de muitas dessas habitações e práticas aquáticas, que agora estão sendo cogitadas como o futuro da vida urbana.

“Na Europa e na China, o desenvolvimento de cidades e o aterramento de mangues e lagos infelizmente eliminaram muitas dessas tecnologias”, diz Watson.

Por que são vistas como o futuro?

Adaptação Climática: Podem abrigar populações deslocadas pela elevação do nível do mar e inundações, oferecendo um refúgio seguro.

Sustentabilidade: Projetadas para serem autossuficientes, com painéis solares, reciclagem de água, fazendas flutuantes e uso de materiais reciclados, minimizando o impacto ambiental.

Inovação Urbana: Inspiradas em padrões naturais (como favos de mel), criam comunidades adaptáveis, escaláveis e com novos estilos de vida.

Expansão Territorial: Diante da falta de terra, permitem que as cidades cresçam sobre a água, aproveitando a vasta extensão dos oceanos.

Resiliência: São adaptáveis e podem ser reconfiguradas conforme as necessidades, aprendendo com a natureza e comunidades aquáticas existentes, como Ganvie (África).

Desafios e Considerações:

Obstáculos: Há grandes barreiras financeiras, políticas e de engenharia para construí-las em grande escala.

Não é a Única Solução: A verdadeira solução a longo prazo envolve deter o aumento do nível do mar e repensar os padrões de vida, e não apenas flutuar sobre o problema.

Impacto Ambiental: A construção de ilhas artificiais tradicionais pode ser prejudicial, mas os novos projetos buscam coexistir com o ambiente.

Em Resumo:

As cidades flutuantes representam uma visão ambiciosa e viável para um futuro onde a humanidade vive em maior harmonia com os oceanos, respondendo à pressão demográfica e climática, transformando o “futuro azul” em uma realidade concreta, embora gradual e complexa.

Fonte: CNN, BBC, g1.

Foto: Domínio Público Architects

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