No inicio de 2019 um grupo de renomados cientistas propôs a proteção de 30% dos oceanos globais até 2030 como forma de salvar o maior ecossistema do planeta. Logo depois, a High Ambition Coalition para Nature and People (Coalizão de Alta Ambição pela Natureza), lançada em 2019 pela Costa Rica, França e Grã-Bretanha, aceitou o desafio. Hoje o grupo conta com mais de 100 países. Apesar dos Estados Unidos não fazerem parte, Joe Biden se comprometeu com a meta 30×30, ou seja, a proteção de 30% dos mares e da parte terrestre do país. Entretanto, houve surpresa. O primeiro país a atingir a meta nos mares foi a Colômbia.
‘Temos um problema com os oceanos’
Na abertura da Conferência dos Oceanos da ONU 2022, em Lisboa, o Secretário-geral da ONU, António Guterres, foi mais uma vez enfático. Ele disse que os oceanos não são apenas ‘o pulmão do mundo mas, igualmente, o maior sumidouro de carbono’. Pouco depois, reforçou ‘A ciência é clara. Nós, humanos, somos responsáveis pelos problemas dos oceanos. Portanto, temos obrigação de buscar soluções’.
Ainda assim, no geral, a cúpula ficou nas promessas. Seja para diminuir os indecentes subsídios à pesca mundial (US$ 35 bilhões de dólares/ano), seja para a proteção do alto-mar, uma tentativa de tratado que se arrasta há alguns anos.
O protagonismo da Colômbia
Contudo, foi naquele fórum que o presidente da Colômbia, Iván Duque, anunciou que o país se tornou o primeiro do Hemisfério Ocidental a proteger 30% de seu mar territorial com proibição da pesca e a exploração de petróleo. É um feito notável, especialmente se considerarmos que aconteceu oito anos antes do prazo estabelecido.
A inclusão da cordilheira submarina de 1.400 km de Malpelo, que funciona como uma estrada marítima para tubarões, baleias além de outras espécies ameaçadas, deu ao país a vantagem de proteger mais de 30 milhões de hectares de sua área marinha. Da mesma forma, houve a criação de mais quatro áreas protegidas no Caribe e Pacífico.
Reconhecimento ao esforço colombiano
Duque foi reconhecido na conferência. Ele ganhou o Prêmio de Liderança Planetária 2022 da National Geographic Society, juntamente com ex-presidente da Costa Rica, Carlos Alvarado Quesada.
O prêmio homenageia os líderes mundiais que “estabeleceram com sucesso áreas protegidas globalmente significativas, como parques nacionais, áreas selvagens ou reservas marinhas, protegidas da exploração”.
Iván Duque ainda surpreendeu ao declarar que “antes de agosto deste ano, 30% do nosso território nacional será declarado área protegida. Não vamos esperar até 2030 para fazer isso… não existe Planeta B.”
Corais e manguezais
Estes são os dois mais importantes berçários de vida marinha. E a Colômbia está restaurando ambos. Duque disse em seu discurso que “também estamos restaurando 1 milhão de corais para proteger os atóis e a vida marinha do nosso planeta. Por outro lado demos mais um passo fundamental com os programas Blue Carbon, com a proteção dos manguezais, de onde trouxemos recursos da filantropia global”.
Este é o pulo do gato que infelizmente o Brasil oficial não vê, dada à boçalidade que impera no alto escalão do governo. Há recursos mundiais à disposição para financiar trabalhos sérios de conservação. Foram estes recursos que a Colômbia utilizou.
Além disso, o país saiu da conferência de Lisboa com a moral alta e, provavelmente, com maior disposição dos organismos multilaterais em prosseguir financiando seus projetos.
Duque demonstrou sobretudo conhecer os problemas mais graves da pesca industrial: “Na Cúpula dos Oceanos, convidamos os países do mundo a lutar contra a pesca de arrasto, que equivale ao desmatamento marinho. Ela destrói os recifes, assim como libera CO2 na atmosfera. Por isso, pedimos que a declaração de áreas protegidas seja feita antes de 2030.″
Fonte: Mar Sem Fim.