Buzinas de automóveis, estrondos vindos dos motores das motos, martelos pneumáticos nas obras, os zumbidos dos aviões que atravessam o céu… parece-lhe familiar? Se vive numa grande cidade, é possível que esta série de ruídos faça parte do seu dia-a-dia e que, quase sem querer, lhe passem despercebidos.
No entanto, parece que nos esquecemos frequentemente de que, mais do que sermos vítimas que têm de suportar esse bulício, somos também os responsáveis pela sua produção, a qual dista muito do silêncio aprazível e benéfico que reinaria sem a nossa presença.
Para além de causar problemas de saúde a algumas pessoas e incomodar outras, a poluição sonora também influencia de forma invisível o nosso ambiente: pode criar desequilíbrios ecológicos que afetam a diversidade e o desenvolvimento da vida selvagem.
O que é a poluição sonora?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a poluição sonora é a presença de ruído ou vibrações que causam impactos negativos na saúde humana, na conservação do meio ambiente e na vida selvagem.
Na verdade, a produção de ruído não é mais do que uma emissão de energia forte que se vai propagando através da atmosfera como uma onda. Quando chegam ao ouvido, as vibrações são transmitidas ao tímpano, o qual vibra na mesma frequência. Um som é considerado ruído quando ultrapassa os 65 decibéis, sendo identificado como uma vibração tão forte que causa mau estar no tímpano aquando na sua recepção.
No entanto, o problema da poluição sonora não se limita às áreas urbanas. Também se estende outras zonas geográficas, afetando tanto a saúde humana como o equilíbrio dos ecossistemas naturais.
O ruído, produzido por múltiplas fontes artificiais, como o tráfego de veículos, as ferramentas de construção, os processos industriais ou as comunicações aéreas, alcançou níveis alarmantes em cidades de todo o mundo e as consequências começam a ser cada vez mais visíveis.
Esquema do ouvido
As ondas sonoras entram no ouvido externo através de uma passagem estreita chamada “canal auditivo” que chega ao tímpano, o qual vibra ao recebê-las. Esta vibração é transmitida aos três ossos que se situam imediatamente atrás, deslocando o líquido no interior da cóclea.
Um mal invisível, mas ruidoso
Os ecossistemas selvagens são, sem dúvida, os principais afetados por este problema: as alterações nos padrões de som naturais podem induzir mudanças no comportamento e na distribuição das espécies animais, o que, por sua vez, pode desencadear desequilíbrios na dinâmica dos ecossistemas.
Há que ter em conta que os animais avaliam vários fatores, incluindo o nível de ruído ambiental, quando selecionam os seus habitats. A presença de ruídos antropogénicos pode levar determinadas espécies a evitar certas áreas, o que pode alterar a composição e a estrutura da comunidade biológica dessas mesmas áreas.
No âmbito marinho, por exemplo, a poluição sonora é um problema cada vez mais grave. O ruído submarino gerado por atividades humanas como a navegação comercial, a exploração de petróleo e os sonares militares pode interferir nas funções vitais das espécies marinhas incluindo na comunicação, a navegação ou procura de alimento.
Isto pode ter consequências realmente devastadoras, como o deslocamento de rotas migratórias, a diminuição das taxas de reprodução e o aumento do stress dos animais marinhos.
Este tipo de poluição não atinge apenas a vida selvagem, tendo outras repercussões na agricultura e na criação de gado. O stress provocado pelo ruído pode afetar negativamente a produção de leite e ovos, prejudicando a economia e o bem-estar animal.
Nos ambientes urbanos, o ruído pode alterar os padrões de reprodução e comportamento de aves e outros animais, impactando negativamente a biodiversidade local e a interação entre as espécies.
Não há como escapar
A exposição prolongada a níveis de ruído elevados pode ter consequências graves para a saúde humana afetando não só na audição, como causando mal-estar, distúrbios do sono e problemas cardiovasculares e metabólicos.
Com efeito, o aumento da frequência cardíaca e respiratória devido aos níveis elevados de ruído também pode desencadear complicações relacionadas com o coração e o repouso, reforçando-se assim a importância de abordar este problema para proteger a saúde pública.
Os últimos dados sobre a exposição ao ruído na Europa foram alarmantes e demonstram a necessidade urgente de se tomarem medidas para reduzir esta forma de poluição e deixar de considerá-la um problema inofensivo.
Há que ter em conta que o ruído ambiental é a segunda causa de morte atribuída a agentes poluentes na Europa, após a contaminação atmosférica, razão pela qual é fundamental que os governos implantem políticas eficazes para mitigar este problema e promover ambientes mais saudáveis para todos.
Fonte: National Geographic.
Foto: Stock.