Cada cidade, cada região e cada país precisam de áreas verdes capazes de desempenhar papeis como produzir oxigênio, regular temperatura, gerar umidade, proteger nascentes, abrigar insetos polinizadores e biodiversidade em geral. Muitas vezes, o jeito de garantir isso é com ação humana planejada sobre essas áreas, em vez de tentar isolá-las, afirma um estudo publicado na Nature Sustainability.
Os pesquisadores envolvidos usaram para seu estudo de caso as Montanhas de Santa Cruz, uma área com alta biodiversidade e ao mesmo tempo muita atividade humana, na Califórnia. A equipe trabalhou em parceria com a Rede de Gestão das Montanhas, que inclui 24 organizações – ONGs, uma comunidade indígena, um órgão do governo federal, madeireiras, parques de condados e do estado e uma faculdade da Universidade Stanford.
A premissa era que deixar áreas verdes fechadas e sem nenhuma intervenção humana, a fim de que forneçam os serviços naturais necessários, não é uma solução aplicável sempre nem em todos os lugares. Uma ideia-chave no trabalho é o que se considera a “gestão” de áreas verdes (o texto original usa a palavra “stewardship”).
“Às vezes usamos o termo ‘gestão’ em referência à compra de terra e grandes projetos de restauração. Mas o usamos também para nos referir a esforços de manutenção regulares para assegurar que ecossistemas se mantenham saudáveis”, disse Dylan Skybrook, co-autor da pesquisa e coordenador da Rede de Gestão das Montanhas de Santa Cruz ao site Stanford News. “Para o público, a gestão pode ser invisível. Quem faz trilha em um parque, por exemplo, nem sempre percebe o imenso trabalho que dá comprar a terra, definir as trilhas, indicar áreas de estacionamento, colocar sinalização ou fazer limpeza da área antes que possa ser transformada em um parque. A área precisa de gestão contínua para remoção de espécies invasoras, realização de queimadas controladas, restauração do curso de riachos para passagem de peixes e assim por diante.”
A bióloga Nicole Heller, líder da pesquisa, curadora no Museu Carnegie de História Natural, afirma que os estudos de conservação atuais tendem a considerar a natureza de forma separada da atividade humana. A cientista lembra que cercar uma área e proibir a entrada de pessoas não impede que essa área sofra com espécies invasoras, efeitos da crise climática e outros impactos ambientais da região no entorno. Daí o valor estratégico da gestão das áreas verdes. “Gestão, dentro das áreas de conservação e no seu entorno, tem um papel importante em administrar fatores de estresse (dessas áreas) e ajudar ecossistemas a se tornar mais resilientes”, explica a pesquisadora.
Os cientistas criaram, ao longo do trabalho, uma ferramenta chamada Análise de Saúde de Área Sustentável (Sustainable Landscape Health Assessment). Ela mostra indicadores sociais e ecológicos das áreas desejadas, para permitir o planejamento das iniciativas de restauração e conservação. Heller explica que as ferramentas de análise tradicionais se concentram só em fatores biofísicos — a integridade do ecossistema, os serviços naturais que ele presta, a descrição de habitats, flora e fauna. O novo sistema inclui o elemento humano.
Isso ganha importância conforme mais organizações, de naturezas diversas, se propõem a preservar ou restaurar áreas verdes, em diferentes sistemas — fundações, empresas com ou sem relação com o agronegócio, produtores rurais de diferentes portes, pessoas físicas que têm terras e apenas querem ajudar a preservar alguma área. Órgãos governamentais de proteção ambiental e ONGs ambientalistas precisam aprender a trabalhar com essa rede de diferentes atores. “Essas organizações estão progressivamente reconhecendo que, para atender às diversas necessidades da comunidade, conservacionistas precisam trabalhar diretamente com gestão das áreas verdes”, diz Heller.
Fonte: Um Só Planeta.
Foto: Anthony Barnosky / Jasper Bridge Biological Preserve