“O metano está aumentando de modo mais rápido em termos relativos do que qualquer outro gás do efeito de estufa importante e agora se encontra em níveis 2,6 vezes mais elevados que no período pré-industrial”, afirma uma equipe internacional de cientistas, coordenada pela organização Global Carbon Project, em um estudo publicado na revista Environmental Research Letters.
O metano (CH4) é o segundo principal gás do efeito estufa vinculado à atividade humana, atrás do dióxido de carbono (CO2).
A sua capacidade de aquecimento é 80 vezes superior que a do CO2, mas decompõe-se mais rapidamente, o que possibilita a redução de seu impacto.
O estudo mostra, no entanto, que as concentrações de metano na atmosfera – o metano emitido menos uma parte absorvida pelos solos e pelas reações químicas na atmosfera – aumentam de forma constante.
Na década de 2000, o aumento do metano na atmosfera foi de 6,1 milhões de toneladas por ano, em média, mas na década de 2010 disparou até 20,9 milhões de toneladas.
Este crescimento acelerou ainda mais nos últimos anos, com níveis que não eram registrados desde a década de 1980.
Essa tendência “não pode continuar se quisermos manter um clima habitável”, escrevem os pesquisadores em um artigo, conforme relatado pelo portal Euronews. O crescimento nas emissões que eles observaram segue os cenários de gases de efeito estufa mais pessimistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. Isso pode significar um aumento da temperatura global de mais de 3°C acima dos tempos pré-industriais até o final do século.
Brasil é um dos principais emissores
O relatório detalha as emissões de metano por setor e região, identificando os principais contribuintes. Em 2022, foram: China (16%), Índia (9%), Estados Unidos (7%), Brasil (6%) e Rússia (5%).
“Apenas a União Europeia e possivelmente a Austrália parecem ter diminuído as emissões de metano provenientes de atividades humanas nas últimas duas décadas”, disse Marielle Saunois, da Université Paris-Saclay, da França, principal autora do artigo.
A agricultura, incluindo a pecuária e os arrozais, ainda é a maior fonte, respondendo por 40% das emissões antropogênicas globais do gás. Depois, aparece a atividade de combustíveis fósseis (34%), o manuseio de resíduos (19%) e a queima de biomassa (7%).
Segundo os pesquisadores, as emissões aumentaram nesses setores devido ao aumento da atividade nas regiões em desenvolvimento e à exploração intensificada de combustíveis fósseis.
Alteração na classificação das fontes
Nesta edição do Global Methane Budget, foi feita uma mudança importante nas fontes de metano. Anteriormente, eram categorizadas todas as emissões de pântanos, lagos, lagoas e rios como naturais. Agora, foi feita uma tentativa de quantificar a influência que a atividade humana está tendo nas crescentes emissões dessas fontes.
Reservatórios construídos por pessoas, por exemplo, geram cerca de 30 milhões de toneladas de metano emitidas por ano, porque a matéria orgânica recém-submersa libera o gás à medida que se decompõe.
Os cientistas estimam que cerca de um terço das emissões de áreas úmidas e de água doce nos últimos anos foram influenciadas por fatores causados pelo homem, incluindo reservatórios, escoamento de fertilizantes, águas residuais, uso da terra e aumento das temperaturas.
“As emissões dos reservatórios atrás das represas são uma fonte humana tão direta quanto as emissões de metano de uma vaca ou de um campo de petróleo e gás”, enfatizou Jackson.
Compromisso distante
Atualmente, não existem tecnologias capazes de remover diretamente o metano da atmosfera, tornando imperativo reduzir as emissões na fonte. Para abordar isso, o relatório sugere várias estratégias, particularmente nos setores de combustíveis fósseis e resíduos.
Algumas delas são: detecção e reparo de vazamentos, recuperação de gás ventilado e práticas aprimoradas de gerenciamento de resíduos. Embora o setor agrícola apresente mais desafios, medidas como mudanças na alimentação do gado e melhor gestão do esterco oferecem possíveis soluções.
Vale destacar que há compromissos internacionais significativos para diminuir as emissões de metano. Caso do Global Methane Pledge, assinado por 150 países, que visa uma redução de 30% até 2030.
Mas esse objetivo salientou Rob Jackson, presidente do Global Carbon Project, agora “parece tão distantes quanto um oásis no deserto”.
Fontes: Revista Planeta, Um Só Planeta.
Foto: Getty Images.