Confirmado: 2024 foi o primeiro ano em que aquecimento da Terra ultrapassou 1,5ºC

Seguindo o que já se vinha prevendo mês após mês no ano passado, 2024 foi agora confirmado pelos serviços de monitoramento da agência espacial europeia, Copernicus, como o ano mais quente já registrado, e o primeiro com uma média de temperatura que excede 1,6°C acima dos níveis pré-industriais (1850-1900), superando o que é considerado limite seguro para o planeta.

A emissão de gases de efeito estufa, provenientes de combustíveis derivados do petróleo, foi apontada por cientistas em entrevista coletiva nesta quinta-feira (09) como causa principal do sombrio recorde. Em 2024, as concentrações de CO2 (dióxido de carbono) e metano na atmosfera foram as mais altas já computadas, aponta o relatório. A influência do fenômeno climático El Niño foi tratada como fator secundário, uma vez que o aquecimento das águas do Pacífico e seus efeitos sobre o clima global foram considerados mais fracos do que o visto em anos anteriores.

– Você pode pensar que o ano ser o mais quente já visto pode não ser uma novidade – e não é. Há uma década, os anos vêm marcando recordes de temperatura. Por exemplo: 2023 já tinha sido considerado o ano mais quente vivido na Terra.

– O problema é que, agora, esse aumento chegou a um patamar acima do limite do que é considerado seguro. A previsão dos pesquisadores há quase uma década para quando isso acontecesse é que sofreríamos extremos de chuva, seca e mortes.

E foi o que vimos em 2024:

– Chuvas intensas como as que devastaram cidades inteiras no Rio Grande do Sul e na Espanha, que viveu a pior tempestade da história;

– A pior temporada de furacões da história dos Estados Unidos;

– Chuvas que mataram centenas de pessoas na África e mudaram a paisagem do deserto;

– Ao mesmo tempo, secas extremas, deixando pessoas sem água e isoladas, como vimos no Norte do Brasil;

– Incêndios florestais de grandes proporções, como os que aconteceram no Canadá, EUA, Brasil, e cobriram os países de fumaça por meses.

O que especialistas dizem é que todo esse cenário pode ser apenas uma amostra do que podemos esperar no futuro caso a Terra continue tão quente como está.

O que significa ultrapassar 1,6°C na temperatura para o clima?

Cientistas no mundo todo vêm alertando sobre o aumento da temperatura global. O calor é um risco à saúde humana e à natureza, muda o clima e pode até fazer países desaparecerem, como as Ilhas no Pacífico que podem sumir com o aumento do nível das águas – consequência do aquecimento global.

À época do acordo, o ano de 2015 tinha sido o mais quente já registrado na Terra e a temperatura média global tinha aumentado em 0,90°C – o que já era considerado um alerta. Mas não parou por aí: os últimos 10 anos seguiram batendo recordes, ano a ano. Com isso, ficando mais perto do limite.

Ou seja, enfrentamos “uma década de calor mortal”, como declarou a Organização das Nações Unidas (ONU) e esse calor significa que podemos estar mais perto de atingir níveis em que não é mais possível reverter.

Como isso afetou o Brasil e quais os riscos para o país?

De acordo com o centro europeu Copernicus, todos os continentes pelo mundo foram afetados pelas altas temperaturas. No Brasil, análises de órgãos locais como o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) mostram que o país viveu o ano mais quente de sua história.

Um levantamento do Centro Nacional de Desastres Naturais (Cemaden), órgão do governo federal que apoia na tomada de decisões sobre extremos climáticos, mostra que nos últimos 80 anos há regiões no país que ficaram até 2,2°C mais quentes.

A análise usou os dados do Copernicus, mas com o recorte nacional, por bioma, representando as regiões do país, e observou a diferença de temperatura entre 2024 e o que foi observado em 1940, início da série histórica.

Veja os índices por bioma:

No Pantanal, o aumento da temperatura nos últimos 84 anos foi de 2,2°C, o que abrange regiões do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, por exemplo.

Na Mata Atlântica, que fica na região Sudeste, o índice foi de 1,72°C.

No Cerrado, que cobre parte do Centro-Oeste e Nordeste, as temperaturas ficaram 1,61°C mais altas.

Na Caatinga o aumento foi de 1,3°C no período de 80 anos;

Nos Pampas, que fica na região Sul, o aumento foi de 0,62°C.

O aumento das temperaturas também causou extremos. Em 2024, o país viveu a pior seca já registrada em sua história recente. A estiagem fez a terra aparecer em meio aos rios do Norte, maior bacia do mundo. A falta de chuva fez a vegetação secou e vivemos incêndios recordes que cobriram parte do país de fumaça e tornou difícil respirar por meses.

Isso tudo aconteceu ao mesmo tempo em que na outra ponta do país, no Rio Grande do Sul, chuvas torrenciais se formassem, devastando cidades que ficaram completamente alagadas e matando dezenas de pessoas.

Para além do risco à saúde e à vida, ainda há o risco para a economia. De um lado, há um gasto dos cofres públicos que precisam encontrar verba em meio às crises para apoiar as cidades afetadas. Entre 2011 e 2023, o governo federal perdeu R$ 485 bilhões com desastres naturais.

De outro, as perdas econômicas aos setores produtivos no país. Segundo a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), em um balanço que reuniu dados apenas de 2024 sobre a seca nos estados do Norte, região mais afetada pela crise, os prejuízos financeiros chegam a R$ 2 bilhões.

E se a média global superar os chegar aos 2°C mais quentes que a era pré-industrial?

O que os especialistas apontam é que as previsões são de que cidades pelo país fiquem até 4°C mais quentes. Isso significa um calor insuportável.

O que é preciso fazer para frear o avanço das temperaturas?

A única maneira de conter o avanço das temperaturas e evitar que o mundo atinja a marca de risco de 2°C é frear as emissões de gases do efeito estufa.

Você pode se perguntar: como isso acontece se há um acordo internacional para redução desses índices? Isso acontece porque o compromisso não vem sendo cumprido e não é uníssono entre os países.

Empresas têm anunciado há alguns anos projetos de redução de emissão, mas especialistas apontam que isso não está sendo feito na velocidade que o mundo precisa.

A humanidade como um todo, em particular os países desenvolvidos e a indústria do petróleo, fracassou em reduzir as missões e acabar com a exploração de combustíveis fósseis — Paulo Artaxo, membro do IPCC.

Fonte: ((O))Eco,  g1, Folha SP, Um Só Planeta.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil / Perfil Brasil.