Consumo de ultraprocessados chega a 30% da dieta em cidades do Sul

O que entra no prato dos brasileiros muda de cidade para cidade e, em algumas delas, os alimentos ultraprocessados já ocupam um espaço maior do que o esperado. Em Florianópolis (SC), por exemplo, quase um terço das calorias consumidas diariamente vem desse tipo de produto, segundo uma nova estimativa da Universidade de São Paulo (USP

Um estudo do Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde) da USP (Universidade de São Paulo) publicado em junho aponta que pelo menos 20% da alimentação diária de moradores dos estados da região Sul do Brasil é formada por alimentos ultraprocessados.

O levantamento mapeou dados de todos os municípios brasileiros. Das 5.570 cidades do país, Aroeiras do Itaim, no Piauí, teve o menor índice, com uma dieta em que 5,7% são ultraprocessados. Já em Florianópolis (SC) essa taxa é de 30,5%.

Santa Catarina é o estado que mais consome esse tipo de alimento, com 23,9% das calorias diárias vindas de ultraprocessados. No outro extremo está Tocantins, com 12,9%.

O Sudeste aparece na sequência, liderado por São Paulo — na capital paulista, por exemplo, 25,5% da alimentação diária é composta por ultraprocessado.

As regiões Norte e Nordeste do país, com exceção da Bahia, aparecem com as menores taxas de consumo de ultraprocessados. Nos municípios de Dois Irmãos do Tocantins (TO) e Monte Santo do Tocantins (TO), a participação desses alimentos na dieta diária é de 5,83% e 5,87%, respectivamente.

Para Leandro Cacau, pesquisador do Nupens e principal autor do estudo, os resultados no Sul e Sudeste podem ser explicados pela urbanização e renda dos moradores dessas regiões. “Municípios que têm residentes com cinco ou mais salários mínimos são aqueles que possuem maior consumo de alimentos mais processados”, afirma.

O estudo apontou que todas as capitais, com exceção de Vitória, no Espirito Santo, registraram taxas de consumo de ultraprocessados acima dos 20%.

O pesquisador ressalta, porém, que o menor consumo desses alimentos em áreas rurais não quer dizer que os moradores dessas regiões estejam, necessariamente, tendo acesso a uma alimentação saudável.

“Sabemos que essas pessoas consomem alimentos básicos como arroz, feijão, farinha e mandioca e que existe um menor consumo de utraprocessados, mas não dá para afirmar que eles consomem, por exemplo, frutas, cereais integrais, verduras e outros alimentos que são marcadores de uma alimentação saudável”, afirma Cacau.

Para o pesquisador, os novos dados podem ser úteis para a implementação de políticas públicas de âmbito municipal, estadual ou federal, que sigam o Guia Alimentar para a População Brasileira, que promove uma alimentação à base de alimentos minimamente processados.

O levantamento estatístico foi baseado em dados de 46.164 pessoas participantes da última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2017-2018) e aplicados a dados sociodemográficos do Censo de 2010. Para mitigar a diferença temporal entre os números, os autores da pesquisa aplicaram fatores de correção com base em informações de cada município.

A POF ouviu brasileiros com idade a partir dos 10 anos e, para o levantamento, foram reportados mais de 1.800 alimentos — classificados como in natura ou minimamente processados, de ingredientes culinários processados, processados e ultraprocessados (alimentos prontos com formulações industriais).

O que são alimentos ultraprocessados e por que fugir deles

Alimentos ultraprocessados são aqueles que passaram por vários processos industriais.

De maneira geral, possuem alta adição de açúcares, gorduras trans, sódio, substâncias sintetizadas em laboratório e, principalmente conservantes.

A composição nutricional deles é baixa. Isso significa que praticamente não possuem nutrientes para auxiliar o corpo em suas funções cotidianas. Ao mesmo tempo, são ricos em calorias.

A longo prazo, o consumo de alimentos ultraprocessados resulta em problemas para a flora intestinal e traz malefícios à saúde em geral, podendo causar enfermidades como obesidade, diabetes, hipertensão e osteoporose.

Riscos à saúde

Biscoitos recheados, refrigerantes, macarrão instantâneo, nuggets e bolos prontos. Esses são alguns exemplos de ultraprocessados — produtos criados para serem práticos e apetitosos, mas que passam por diversas etapas industriais e contêm aditivos como aromatizantes, emulsificantes e corantes.

Estudos anteriores já mostraram que o consumo frequente desses alimentos está ligado a uma série de problemas de saúde, como obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e até maior risco de morte precoce.

Além dos impactos na saúde, a produção em larga escala desses produtos também preocupa pelo efeito no meio ambiente, com associação à degradação do solo, ao uso excessivo de embalagens e à perda de biodiversidade.

Diante desse cenário, o Guia Alimentar para a População Brasileira recomenda que a base da alimentação seja composta por alimentos in natura ou minimamente processados.

“As estimativas geradas podem contribuir para o monitoramento do consumo alimentar de ultraprocessados no nível municipal e fortalecer e subsidiar a criação de políticas públicas focadas na promoção da alimentação saudável”, concluem os pesquisadores.

Fontes: Folha SP, Veja Saúde, Metrópoles, Olhar Digital.

Foto: Eduardo Knapp/Folhapress.

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