COP27: veja o que está sendo destaque na Cúpula do Egito nesta segunda

Depois de um domingo de folga no balneário de Sharm El Sheikh, a segunda semana da COP27, a 27ª Conferência do Clima das Nações Unidas, que este ano acontece no Egito, começa cheia de expectativa para o desenrolar final das negociações. Enquanto representantes dos países presentes aproveitavam a manhã para fazer um balanço informal do que foi feito até agora, o chefe climático da ONU, Simon Stiell, fez um apelo para que os negociadores usem seu tempo restante no Egito para “construir a ponte necessária” para progredir na meta de um aquecimento global máximo de 1,5°C, estipulada pelo famoso Acordo de Paris, e também em medidas concretas de adaptação, financiamento climático e perdas e danos.

E por falar em desenrolar das negociações, a presidência da COP disse que está bastante otimista para que as negociações sejam concluídas a tempo. De acordo com a agência Reuters, o presidente da COP27 disse que a primeira parte do texto está “emergindo” com “muito poucas questões” restantes, que a publicação do texto “quase final” deve acontecer na quinta-feira e um acordo ser feito na sexta. No entanto, o prognóstico foi visto com desconfiança por frequentadores frequentes de conferências, que dizem que toda presidência de COP afirma que não vão haver atrasos.

Nesta segunda, as Nações Unidas publicaram um esboço de texto estabelecendo o que a COP27 poderia aprovar sobre o tema do financiamento de ‘perdas e danos’ para países devastados pelos impactos climáticos. O rascunho, que pode mudar antes de ser assinado e em alguns lugares contém várias opções, incluiu uma referência ao estabelecimento de um novo fundo para o tema, administrado pela ONU.

Segundo a Reuters, o documento diz: “Os arranjos para financiamento para responder a perdas e danos podem incluir:

  1. a) Um novo fundo adequado ao propósito da UNFCCC;
  2. b) Uma entidade operacional do Mecanismo Financeiro;
  3. c) O reforço das entidades operacionais existentes do Mecanismo Financeiro, reconhecendo os seus instrumentos de governo/governação;
  4. d) Finanças públicas, inclusive sob a forma de subvenções;
  5. e) Financiamento baseado em doações de múltiplas fontes;
  6. f) Financiamento do desenvolvimento;
  7. g) Alívio da dívida;
  8. h) Reforma dos bancos multilaterais de desenvolvimento e instituições financeiras internacionais;
  9. i) Assistência humanitária;
  10. j) Fontes de financiamento inovadoras”

 Ásia em foco

No dia em que um dos temas propostos pela conferência é a discussão sobre a água, foi lançado um relatório intitulado “State of the Climate in Asia 2021”, ou “O estado do Clima na Ásia em 2021”, A análise da Organização Meteorológica Mundial aponta que as perdas econômicas por secas, inundações e deslizamentos de terra dispararam na Ásia e que, somente em 2021, os perigos relacionados ao clima e à água causaram danos de US$ 35,6 bilhões no continente, afetando quase 50 milhões de pessoas.

A altas montanhas da Ásia, como o Himalaia e o planalto tibetano, contém o maior volume de gelo fora da região polar, com aproximadamente 100.000 km2 de cobertura de geleiras. Mas a taxa de recuo destas geleiras, que servem como fonte de água doce para a população local, está acelerando. Muitas delas sofreram intensas perdas de massa com as condições excepcionalmente quentes e secas de 2021.

O polêmico Global Shield

O tema foi incluído de última hora na agenda oficial da COP27, para a felicidade de ativistas ambientais e dos países mais pobres e vulneráveis, que já sofrem perdas bilionárias com os eventos climáticos extremos e não tem condições financeiras para reconstruir e arcar com os custos da destruição sozinhos. No entanto, tem sido alvo de polêmicas, já que, apesar do avanço na discussão Norte e Sul global parecerem não estar falando a mesma língua.

A proposta dos mais afetados é que seja criado um mecanismo de financiamento específico para cobrir custos econômicos e não econômicos irreversíveis. Mas, os países do G7 – historicamente os maiores responsáveis ​​pelas emissões de gases de efeito estufa, que agravam o aquecimento global – estão promovendo o esquema de seguro “Global Shield” como uma alternativa. A proposta não está sendo bem vista por muitos ativistas de justiça climática e por países em desenvolvimento, alguns dos quais seriam excluídos por serem já “muito desenvolvidos”.

Coordenado pela presidência do G7 e pelo V20 – grupo de países vulneráveis ​​ao clima – a ferramenta busca fornecer rapidamente seguros pré-estabelecidos e financiamento de proteção contra desastres após eventos como inundações, secas e furacões.

Teresa Anderson, líder global de justiça climática da ActionAid International, descreveu a proposta como uma “distração”. “Uma iniciativa que envolve países do Norte subsidiando companhias de seguros de propriedade do Norte não deve ser confundida com financiamento de perdas e danos que apoia comunidades na linha de frente da crise climática.”

Harjeet Singh, chefe de Estratégia Política Global da Climate Action Network afirmou: “As seguradoras faliram após o furacão Katrina, e há muitas outras histórias dos EUA e da Europa de lugares que se tornaram não seguráveis devido à crescente frequência e intensidade dos desastres climáticos. Seguro não é a resposta, isso é uma decepção”.

Fonte: Um Só Planeta.

Foto: Getty Images.