Os recifes de coral constituem-se em importantes ecossistemas, altamente diversificados, no nível local, regional e principalmente no global. Por abrigarem uma extraordinária variedade de plantas e animais são considerados como o mais diverso habitat marinho do mundo, e por isso mesmo, possuem grande importância econômica, pois representam a fonte de alimento e renda para muitas comunidades. Uma em cada quatro espécies marinhas vive nos recifes, incluindo 65% dos peixes. Estima-se que só no Brasil mais de 18 milhões de pessoas dependem direta e indiretamente dos corais), e no mundo esse número chega a 500 milhões e gera uma receita anual de aproximadamente 10 trilhões de dólares.
Apesar de toda sua importância, os ambientes recifais em todo o mundo, vêm sofrendo um rápido processo de degradação através das atividades humanas. A degradação dos recifes de coral está intimamente ligada às atividades humanas e econômicas. Os oceanos em aquecimento, provavelmente como resultado da mudança climática, estressam os corais ponto de expelirem as algas que os habitam (as zooxantelas), deixando-os “branqueados”. O branqueamento de 1998, um dos anos mais quentes da história, danificou imensas áreas de coral em todo o mundo, aumentando seriamente a quantidade de recifes danificados. Poluição de nutrientes e sedimentos, mineração de areia e rocha e o uso de explosivos e cianeto (ou outras substâncias tóxicas) na pesca, também estressam os recifes mundiais.
Instalar alto-falantes subaquáticos que transmitem sons de recifes de corais saudáveis em habitats danificados pode levar vida de volta para eles. Essa é a descoberta de cientistas do Instituto Oceanográfico Woods Hole, dos Estados Unidos, após um trabalho realizado nas Ilhas Virgens norte-americanas, no Caribe.
Eles relataram que larvas do coral Porites astreoides têm até sete vezes mais probabilidade de se instalarem nos recifes degradados onde havia a reprodução de estalos, gemidos, grunhidos e arranhões típicos de animais presentes neste tipo de ecossistema.
“Esperamos que isto seja algo que possamos combinar com outros esforços para devolver o material bom ao recife”, disse a pesquisadora Nadège Aoki ao The Guardian. “Você poderia deixar um alto-falante ligado por um certo período de tempo e ele poderia atrair não apenas larvas de corais, mas também peixes de volta ao recife.”
Diminuição no número de recifes de corais
A descoberta é importante porque, desde a década de 1950, o mundo perdeu metade dos seus recifes de coral em razão das mudanças climáticas, da pesca excessiva, da poluição, da perda de habitat e de surtos de doenças.
Ao longo dos anos, algumas soluções têm sido desenvolvidas para minimizar o problema, como a replantação com corais criados em viveiros e o desenvolvimento de estirpes resilientes que possam resistir ao aquecimento das águas.
A nova abordagem de Aoki e seus colegas, conforme relatado pelo The Guardian, foi pensada a partir de pesquisas anteriores que mostraram que as larvas dos corais nadam em direção aos sons dos recifes.
Os pesquisadores, então, instalaram um sistema de reprodução acústica personalizado movido a energia solar em três recifes perto de St John, a menor das Ilhas Virgens norte-americanas, e mediram quantas larvas de coral, mantidas em recipientes selados com água do mar filtrada, pousaram em pedaços de cerâmica semelhante à rocha.
Os sons foram reproduzidos, durante três noites, apenas no degradado recife Salt Pond. Os outros dois, o também degradado Cocoloba e o saudável Tektite foram incluídos no experimento apenas para comparação.
“[Larvas de] Porites astreoides estabeleceram-se em taxas significativamente mais altas nos locais acusticamente enriquecidos, com média de 1,7 vezes (até um máximo de sete vezes) mais assentamento em comparação com locais de recife de controle sem enriquecimento acústico”, escreveram os cientistas em artigo publicado na revista científica The Royal Society Open Science.
Eles pontuaram que as taxas diminuíram com a distância do alto-falante, mas permaneceram mais altas do que os níveis de controle, a pelo menos 30 m da fonte sonora. “Estes resultados revelam que o enriquecimento acústico pode facilitar o assentamento de larvas de corais a distâncias razoáveis, oferecendo um novo método promissor para cientistas, gestores e profissionais de restauração reconstruírem recifes de coral”, observaram.
Aoki adiantou que mais trabalhos estão em andamento para entender se outras espécies de corais respondem aos sons dos recifes da mesma maneira e se os corais prosperam após se estabelecerem. “É preciso ter muito cuidado com a aplicação dessa tecnologia. Você não quer encorajá-los a se estabelecerem onde morrerão. Realmente tem que ser um esforço multifacetado com medidas implementadas para garantir a sobrevivência destes corais e o seu crescimento ao longo do tempo”, completou.
Fonte: Um Só Planeta.
Foto: Getty Images.