Desastres climáticos hídricos (relacionados a chuvas ou secas) mataram mais de 8.700 pessoas e deixaram cerca de 40 milhões de desabrigados no planeta em 2024. A estimativa é projeto do Global Water Monitor Report, iniciativa internacional de cientistas da área liderados pela Universidade Nacional da Austrália.
O terceiro relatório do grupo, que monitora o impacto da mudança climática no sistema hidrológico que foi publicado nesta segunda-feira (6), indica que recordes de precipitação mensal ocorreram em 27% mais locais no ano passado do que no início deste século. Para eventos extremos de seca, o número subiu 38%.
“O ano de 2024 foi um ano de extremos, mas não numa ocorrência isolada. Ele se encaixa em uma tendência de piora de inundações mais intensas, secas prolongadas e extremos recordes”, afirma Albert van Dijk, cientista que liderou o projeto. “Essas mudanças impactam a disponibilidade de água e aumentam os riscos dos desastres hídricos para a infraestrutura, para os ecossistemas e para vidas das pessoas.”
O Brasil, com as enchentes do Rio Grande do Sul, foi um dos países que contribuíram para a estatística em 2024, com 80 mortes atribuídas a eventos hídricos. Autoridades brasileiras registraram até mais vítimas que isso, mas o Global Water Monitor padronizou a contagem de modo diferente, o que torna o número global do relatório uma estimativa conservadora do número de mortes.
O território brasileiro foi impactado por por 2 dos 17 desastres hídricos de grandes proporções que os cientistas destacaram no documento, porque seca na Amazônia colocou o país como um daqueles que sofreram na outra ponta do problema. O impacto desse evento sobre a vida humana é difícil de mensurar, por ser mais indireto, mas cientistas sabem que ele é grave.
“Na Bacia Amazônica, um dos ecossistemas mais importantes da Terra, baixas recordes no nível de rios cortaram rotas de transporte e interromperam a geração de energia hidrelétrica” diz Van Dijk. “Incêndios florestais causados pelo clima quente e seco queimaram mais de 52 mil quilômetros quadrados só em setembro, liberando grandes quantidades de gases de efeito estufa.”
Desastres hídricos de 2024
A ocorrência simultânea de chuvas e secas intensas no mundo pode parecer algo paradoxal, mas não é. Esses eventos extremos estão dentro do contexto que o último relatório do painel do clima da ONU (IPCC) havia projetado como possibilidade para o agravamento da mudança climática ao longo do século. O aumento dos desastres hídricos ocorre porque a alta temperatura acelera o ciclo de evaporação e precipitação da água, intensificando esses fenômenos.
Não por coincidência, os desastres hídricos mapeados pelo Global Water Monitor ocorreram num ano em que o planeta bateu novamente seu recorde de calor. As temperaturas do ar sobre terra firme em 2024 foram 1,2°C mais quentes do que no início do século, e cerca de 2,2°C mais altas do que no início da Revolução Industrial. Em 34 países, foram registrados novos recordes de temperatura.
Perdas humanas e materiais
Turbinado pela mudança climática, o evento de chuva mais grave registrado no ano, em número de mortes, foi a estação chuvosa que provocaram deslizamentos de terra e inundações em Papua-Nova Guiné, no Pacífico, matando cerca de 2.000 pessoas em maio.
As enchentes do período de monções na África Central, entre o Mali e o Gabão, também foram catastróficas, com cerca de 1.500 mortes e mais de 1,5 milhão de desabrigados. As monções também provocaram muita chuva no Sul da Ásia (principalmente Índia, Paquistão e Afeganistão), deixando mais de 1.400 mortos e 1,5 milhão de desabrigados ali.
Em termos de perdas financeiras, a maior catástrofe hídrica do ano medida pelo Global Water Monitor foi a seca no sul da África, com prejuízo estimado de US$ 5,5 bilhões, onde muitas safras e rebanhos foram perdidos. A estiagem agravou a situação de insegurança alimentar já preocupante no continente.
Os cientistas também fizeram uma medida global do impacto da crise do clima nos recursos hídricos de 2024. O estoque de água doce de em lagos e reservatórios diminuiu pelo quinto ano consecutivo no mundo, com níveis sem precedentes na América do Sul e na África.
Segundo o Global Water Monitor Report, com o aquecimento global se agravando, as perspectivas para este ano não são melhores.
“A condição hidrológicas no início de 2025 indica potenciais secas se avizinhando ou se intensificando no norte da América do Sul, no sul da África, no norte da África, na Ásia Central, e em partes da América do Norte e Austrália Ocidental”, afirma o relatório. “Já regiões no centro e leste da África, na Europa e na maior parte da Ásia estão relativamente úmidas e podem enfrentar maior risco de inundações do que de seca.”
Fontes: Um só Planeta, Globo, Poder 360.
Foto: Agência Brasil.