As tempestades no Rio Grande do Sul têm deixado nestas últimas semanas um rastro de destruição, e desalojaram até agora 537.380 pessoas. Segundo o relatório da Defesa Civil divulgado neste domingo (12), 143 pessoas perderam a vida, 125 estão desaparecidas e 806 ficaram feridas.
Dos 497 municípios do estado, 446 enfrentam problemas devido às chuvas e enchentes, com total de pessoas afetadas em 2.115.704. Há 81.170 pessoas em abrigos em todo o Rio Grande do Sul.
Foram resgatadas 76.399 pessoas pelo trabalho do Estado e de voluntários. A Defesa Civil registra ainda o resgate de 10.555 animais.
Além das vítimas, o resultado mais grave da tragédia, desastres naturais trazem uma onda de prejuízos. Nos dias e semanas seguintes, são contabilizados os efeitos da destruição de moradias, equipamentos públicos e da produção econômica nas regiões afetadas.
Em todo o ano passado, os desastres naturais causaram prejuízo de R$ 105,4 bilhões ao Brasil, segundo levantamento da Confederação Nacional dos Municípios. Os dados foram levantados por meio do que Estados e prefeituras relataram ao Sistema Integrado de Informações sobre Desastres S2iD, plataforma do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional.
Em 2023, os desastres afetaram 37,3 milhões de brasileiros, deixando 126,3 mil desabrigados, 717,9 mil desalojados e 258 mortos.
O setor privado arcou com 69% do prejuízo – R$ 72,6 bilhões. Os prejuízos públicos somaram R$ 23,8 bilhões (22,6%) e houve ainda danos materiais de R$ 8,8 bilhões (8,4%).
As secas representaram 51% do total, com prejuízo de R$ 53,7 bilhões. Já as chuvas deixaram danos de R$ 51,4 bilhões (48,7%).
De janeiro a dezembro, foram decretadas 6.322 situações de emergência, sendo 50,3% devido às chuvas. O Sul teve 33% dos decretos, seguido pelo Nordeste com 29,8%.
A agricultura foi o setor econômico mais afetado, com prejuízos de R$ 53,6 bilhões, enquanto a pecuária perdeu R$ 15,3 bilhões.
Os prejuízos com abastecimento de água potável foram de R$ 10,8 bilhões, com obras de Infraestrutura foram R$ 3,9 bilhões e com habitação somaram R$ 3,5 bilhões.
Uma das principais catástrofes climáticas do ano passado também ocorreu no Rio Grande do Sul, quando a passagem de um ciclone extratropical acompanhado de chuvas deixou 54 mortos e destruiu várias regiões, sobretudo a do Vale do Taquari.
A Confederação Nacional dos Municípios (CNM) estima que as tempestades registradas desde 29 de abril no Rio Grande do Sul geraram pelo menos R$ 7,5 bilhões em prejuízos financeiros.
Há registro de barragens rompidas, estações de tratamento de água avariadas, estragos em pontes e estradas e comprometimento de estruturas ante enchentes.
No agronegócio, o Rio Grande do Sul tem forte presença, pois é o maior produtor de arroz e o segundo maior produtor de soja.
Quando o evento extremo vem com o sinal oposto, os efeitos também saem caro. A estiagem histórica em grande parte da Amazônia no ano passado secou rios, atrapalhou o transporte fluvial e afetou até a produção da Zona Franca de Manaus. A baixa no nível dos cursos d’água também afeta a produção de energia elétrica.
Desde o segundo semestre de 2023, o planeta é influenciado pelo fenômeno El Niño, que costuma elevar as temperaturas globais e intensificar precipitações e estiagens. O El Niño deve acabar nas próximas semanas, mas especialistas alertam que eventos extremos ficarão cada vez mais intensos e frequentes por causa do aquecimento global.
De acordo com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, as médias anuais de temperaturas máximas no Brasil devem subir acima da média global e os valores médios de chuvas sofrerão mais alterações nos próximos anos.
Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) já mostram alta do número de dias de chuva extrema em cidades como Porto Alegre, que teve o centro inundado neste sábado, Belém e São Paulo em relação aos padrões observados nos anos 1960.
Na capital gaúcha, esse aumento de 29 para 66. Em Belém, esse total saltou de 49 para 143 na mesma comparação. Em São Paulo, subiu de 40 para 70.
Para Paulo Artaxo, pesquisador que integra o IPCC, painel das Nações Unidas que reúne cientistas que estudam o aquecimento global, é preciso se adaptar ao novo clima. “Se não, vamos ficar apagando incêndio aqui, socorrendo enchente em outro lado, deslizamento de terra em Paraty hoje, amanhã em São Sebastião (em referência a outras cidades onde houve tragédias ligadas a temporais)… Até quando vamos ficar correndo atrás do prejuízo?”, diz ele, professor da USP.
“Todo o Brasil vai ter algum problema relacionado à mudança do clima. A gente deve se preparar. Vão ser muitos desafios para a segurança hídrica e cada região terá sua especificidade. Como o impacto é regional, a adaptação vai ter de levar isso em conta”, diz o professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rodrigo Paiva.
Sem alerta
Além de trazer prejuízos às áreas afetadas, com a necessidade de reconstrução de estruturas e de moradias, as perdas financeiras drenam verbas para a prevenção de novos desastres e salvar vidas. Entre as estratégias destacadas por especialistas, estão investir em tecnologia de previsão do tempo e alerta, obras de contenção de encosta e remoção de moradores de áreas de risco.
Pesquisa realizada pela CNM com 3.590 dos 5.568 municípios brasileiros (64,5%) mostrou que 60% deles não têm sistema de alerta móvel ou fixo para desastre e que outros 33,7% utilizam o meio de comunicação digital para alertas, como é o caso dos municípios do Rio Grande do Sul.
Conforme a confederação, prefeituras de cidades de pequeno e médio porte não conseguem arcar sozinhas com os custos da gestão de risco e prevenção de desastres, tornando-se necessário o suporte técnico e financeiro de Estados e da União.
Ainda segundo a CNM, os desastres podem ser evitados ou minimizados com a melhoria da gestão urbana e com o monitoramento e emissão de alertas, além da preparação das comunidades para evacuação ou outras medidas em caso de eventos extremos.
Fonte: Estadão, CNN, Poder 360.
Foto: Divulgação Scom.