Desextinção de espécies: ficção ou realidade?

Cientistas de uma grande empresa americana de biotecnologia se unem em uma missão audaciosa para trazer de volta à vida espécies extintas utilizando engenharia genética. Com a ambição de reintroduzir essas criaturas até 2028, eles enfrentam desafios práticos, como a gestação em elefantes e a criação de células editadas em galinhas para garantir um retorno seguro desses animais aos seus habitats naturais.

Além do mamute-lanoso, outras espécies que estão sendo estudadas para serem recriadas são o lobo-da-tasmânia, o pombo-passageiro e o saudoso dodô. Os que defendem a desextinção entender ser grande avanço científico, uma vez que a humanidade poderia, caso tenha sucesso nessas experiências, evitar a exitinção de animais que estão sob ameaça ou prestes a entrar na lista de riscos.

Os defensores da desextinção argumentam que isso representaria um importante avanço científico, já que a humanidade poderia evitar ondas de extinção em massa que ameaçam uma crescente lista de espécies.

“Os benefícios que a biotecnologia pode trazer para espécies ameaçadas e ecossistemas não serão nada comuns — serão transformadores”, diz Ben Novak, cientista-chefe da Revive & Restore, uma das principais organizações com estudos do tipo.

Mas isso, claro, também poderia significar a possibilidade de trazermos de volta à vida animais que habitaram a Terra há milhões de anos, algo que traria várias implicações ecológicas e éticas.

Além disso, um argumento comum contra essa técnica polêmica é o fato de que ela pode representar uma utilização ineficiente dos nossos recursos de conservação ao desviar montantes preciosos que não estão sendo usados para preservar espécies que ainda correm riscos.

Um dos que pensa assim é Luís Fábio Silveira, vice-diretor do Museu de Zoologia da USP. “Gastar centenas de milhões de dólares para trazer de volta um mamute híbrido com alguma coisa para soltar na conservada Sibéria é contraproducente quando estamos, de fato, lidando com a sexta extinção em massa em meio a uma crise climática sem precedentes.”

Hoje, ao menos duas grandes companhias estão de olho nessa área: a Revive & Restore e a Colossal Biosciences. Além disso, existem, ao menos, dois projetos relacionados: o Tauros e o Quagga;

Com 12 anos de existência, a Revive & Restore estava estudando a desextinção do mamute-lanoso, última espécie de mamute que se adaptou às regiões setentrionais terrestres, mas, agora, está nas mãos da Colossal;

Agora, a Revive trabalha com espécies extintas e ameaçadas. Em sua lista, estão o pombo-passageiro (que já viveu em grandes áreas da América do Norte) e a doninha-de-patas-pretas (a qual deve ser clonada para restaurar sua diversidade genética);

Por sua vez, Tauros e Quagga querem “ressuscitar” animais extintos via reprodução seletiva, diferente das propostas de Revive e Colossal, que analisam uma desextinção via engenharia genética;

O Tauros quer recriar o auroque, parente do gado atual. Já o Quagga quer trazer de volta justamente a quagga, subespécie da zebra que foi extinta no fim da década de 1870.

Prazos e metas para recriar esses animais

Dá para dizer que a desextinção meio que já funcionou – mas não deu muito certo.

Isso porque, em 2003, cientistas tentaram trazer de volta à vida o íbex-dos-pirenéus (Capra pyrenaica pyrenaic), uma espécie de cabra selvagem que estava extinta.

Eles conseguiram criar um clone a partir de uma amostra de DNA preservada do caprino. No entanto, o clone, que recebeu o nome de Isabella, sobreviveu apenas alguns minutos após o seu nascimento. Isto é, nessa tentativa de reverter uma extinção, esse foi um passo importante, mas a recuperação completa desse espécie (e de qualquer outra) ainda não foi alcançada.

Além disso, a bióloga e paleontóloga Taíssa Rodrigues afirma que, mesmo que a reprodução assistida dê resultado, a caça de elefantes, principal problema para preservá-los, não estaria sendo abordado.

Estimativas da Organização Não Governamental (ONG) WWF apontam que, nos últimos anos, cerca de 20 mil elefantes são assassinados anualmente na África para roubo de suas presas, feitas de marfim, material muito cobiçado. Sem contar que eles perderam 30% de seu habitat.

“Já o prazo de 2028 me parece inviável. As técnicas necessárias para isso precisam antes ser demonstradas em elefantes”, destaca a especialista.

Joe Benett, professor no Departamento de Biologia da Universidade Carleton (Canadá) tem fala parecida e considera que, no escopo da viabilidade, uma espécie que voltasse da desextinção até poderia, supostamente, ajudar a restaurar seu ambiente original, porém, isso é muito improvável.

Afinal, a mudança provocada por humanos nos habitats onde essas espécies viviam é irreversível, bem como as ameaças que os extinguiram seguem existindo. Ele usa como exemplo os mamutes. O aquecimento do Ártico deixa a adptação dessa espécie à sua vida antiga mais difícil ainda.

“De maneira geral, nossa abordagem em relação ao investimento em espécies ameaçadas é irracional. Deveríamos nos esforçar para salvar o máximo de espécies possível dentro do nosso orçamento limitado, o que implica adotar uma abordagem baseada na relação custo-efetividade”, acrescenta .

Fontes: Olhar Digital, g1.

Imagem: Colossal Geosciences.

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