Dias quentes contribuem com violência nos Estados Unidos, diz estudo

Pela primeira vez, um estudo analisou a relação entre temperaturas mais altas e casos de violência à mão armada nas 100 maiores cidades dos Estados Unidos. A pesquisa, liderada pela Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston e pela Escola de Serviço Social da Universidade de Washington, mostrou como o calor pode interferir nos tiroteios que ocorrem no país.

O estudo revelou que quase 7% dos tiroteios podem ser atribuídos a temperaturas acima da média, mesmo após considerar padrões sazonais. Segundo a pesquisa, as regiões Nordeste e Centro-Oeste tiveram os aumentos mais acentuados na violência com armas em dias mais quentes do que o normal.

Existem duas hipóteses para explicar essa relação. A primeira é que o aumento do calor aumenta os hormônios do estresse e consequentemente, a agressividade. E a segunda é que o calor pode aumentar o tempo gasto ao ar livre e os contatos sociais, aumentando o potencial de disputas.

Laurence Wainwright, da Universidade de Oxford, disse ao The Guardian: “Esta é uma pesquisa importante e um tanto preocupante que amplia nossa compreensão da complexa interação entre a temperatura ambiente e o comportamento humano. Mesmo mudanças pequenas na temperatura podem ter uma conexão com fatores biológicos, psicológicos e sociais que afetam a maneira como os seres humanos se comportam, incluindo sua propensão à violência”.

Dados mostram que a violência com armas de fogo é uma “principal crise de saúde pública” nos EUA. Por lá, a taxa de homicídios com esse fim aumentou significativamente e em 2020, foram a principal causa de morte de crianças e adolescentes.

Como a mudança climática ameaça aumentar ainda mais as temperaturas diárias, os pesquisadores dizem que essas descobertas destacam a necessidade de e políticas e programas contínuos que promovam a adaptação de comunidades expostas ao calor e mitiguem o risco de violência armada atribuível ao aumento da temperatura.

De acordo com a autora principal da pesquisa, Vivian Lyons, cientista pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Social da Escola de Serviço Social da Universidade de Washington, “nosso estudo realmente destaca a importância das estratégias de adaptação ao calor que podem ser usadas durante todo o ano, bem como a necessidade de conscientização e atenção regional específica em onde essa relação é mais forte”.

A partir de uma base de dados pública, a equipe analisou as temperaturas diárias e mais de 116.000 tiroteios de 2015 a 2020, nas 100 principais cidades dos Estados Unidos com o maior número de tiroteio relacionados a assaltos no país. Levando em consideração a sazonalidade e as diferenças climáticas regionais, eles descobriram que 7.973 tiroteios foram atribuíveis a temperaturas acima da média.

“O que nosso estudo sugere é que, para cidades com mais tiroteios atribuíveis ao calor, a implementação de estratégias de adaptação ao calor em nível comunitário, como esforços de esverdeamento que foram eficazes na redução de ilhas de calor urbanas e têm alguma associação com reduções na violência por armas de fogo, pode ser particularmente importante”, disse Lyons.

Fonte: Veja, Um Só Planeta.

Foto: Georgio Papapetrou/AFP.