As espécies invasoras que destroem plantações, devastam florestas, disseminam doenças e alteram os ecossistemas estão aumentando cada vez mais rápido em todo o mundo, e a humanidade não tem conseguido contê-las, alertou um órgão científico internacional.
Essa situação está custando mais de US$ 400 bilhões de dólares (R$ 1,972 trilhão na cotação atual) ao ano em perdas e danos, o equivalente ao PIB da Dinamarca ou da Tailândia, um número provavelmente subestimado, indica a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês), apoiada pela ONU.
O relatório foi conduzido por uma equipa de 86 cientistas de 49 países e estudou o impacto de cerca de 3500 espécies invasoras durante um período de quatro anos.
Além dos danos à economia, que têm quadruplicado todas as décadas desde a década de 1970, as espécies invasoras desempenham ainda um papel crucial em 60% das extinções registadas de plantas e animais.
De acordo com Helen Roy, co-secretária da plataforma da ONU responsável pelo estudo, “as espécies invasoras são uma grande ameaça para a biodiversidade e podem causar danos irreversíveis à natureza, incluindo extinções de espécies locais e globais”.
As espécies invasoras são introduzidas em ecossistemas por ação humana, intencionalmente ou não, tendo um efeito prejudicial para as espécies nativas.
As espécies invasoras vão desde a aguapé, planta aquática que sufoca o lago Vitória, na África, a ratos e cobras-marrons que exterminam espécies de aves no Pacífico, até mosquitos vetores de zika, febre amarela e dengue para novas regiões.
Existem 37 mil espécies exóticas no mundo, das quais pouco menos de 10% podem ser consideradas invasoras e daninhas devido aos efeitos negativos ou mesmo irremediáveis nos ecossistemas e na qualidade de vida na Terra, segundo o relatório.
O desenvolvimento econômico, o crescimento populacional e a mudança climática “aumentarão a frequência e a extensão das invasões biológicas e os impactos das espécies exóticas invasoras”, afirma o documento, e apenas 17% dos países têm leis ou regulamentos para combater esse ataque.
Seja por acidente ou propositalmente, quando espécies não nativas acabam no outro lado do mundo a responsabilidade é sempre dos humanos, destacam os cientistas.
A propagação mostra que a rápida expansão da atividade humana alterou radicalmente os sistemas naturais e conduziu a Terra a uma nova época geológica, o Antropoceno, dizem também os especialistas.
Coelhos na Nova Zelândia
Na África, a aguapé, que chegou a cobrir 90% do lago Vitória, paralisando o transporte e sufocando a vida aquática, foi introduzida pelas autoridades coloniais belgas em Ruanda como uma flor ornamental. Na década de 1980, alcançou o rio Kagera.
Outro caso é o de Everglades, na Flórida (Estados Unidos), repleto de descendentes de antigos animais de estimação e plantas domésticas, desde pítons birmanesas de cinco metros até samambaias trepadeiras do Velho Continente.
Colonos ingleses levaram coelhos para a Nova Zelândia no século 19 para caçar e comer. Quando os animais começaram a se multiplicar, importaram arminhos, um pequeno carnívoro, para reduzir o seu número. Porém, os arminhos decidiram atacar aves endêmicas, como o kiwi ou o tarambola caolho (“ngutuparore”, em maori), que foram rapidamente dizimadas.
No entanto, em muitos casos, a chegada de espécies invasoras é um acidente, como no mar Mediterrâneo, cheio de peixes e plantas não nativas, como peixes-leão e algas apelidadas de “assassinas”, vindas do mar Vermelho através do canal de Suez.
Em grande parte devido aos grandes volumes de comércio, a Europa e a América do Norte têm as maiores concentrações mundiais de espécies invasoras, definidas como aquelas que não são nativas, causam danos e aparecem devido à atividade humana, indica o relatório do IPBES.
Fonte: Folha SP, Euronews.
Foto: Guillaume Souvant – 30.set.2014/AFP.