Eventos climáticos extremos custaram à economia mais de R$ 11,6 trilhões na última década

Eventos climáticos extremos relacionados ao clima custaram à economia global mais de US$ 2 trilhões (aproximadamente R$ 11,6 trilhões) na última década, de acordo com um novo relatório encomendado pela Câmara de Comércio Internacional (ICC, na sigla em inglês) e conduzido pela consultoria econômica especializada Oxera. Somente nos últimos dois anos completos, os danos econômicos globais atingiram US$ 451 bilhões (R$ 2,6 trilhões), representando um aumento de 19% em comparação aos oito anos anteriores da década.

Pelos dados coletados – e apresentados no primeiro dia da COP29, em Baku, no Azerbaijão –, foram identificados quase 4 mil eventos que impactaram um total de 1,6 bilhão de pessoas entre 2014 e 2023.

“Esses eventos não estão apenas remodelando as economias, mas estão aprofundando as desigualdades em todo o mundo, colocando uma pressão significativa sobre os recursos públicos e os ativos privados” — Robert Catherall, co-chefe de Avaliação de Impacto e Políticas Públicas na Oxera, em comunicado.

John WH Denton, secretário-geral da ICC, enfatizou que os dados da última década mostram que a mudanças climáticas não são um problema futuro: “Grandes perdas de produtividade causadas por eventos climáticos extremos estão sendo sentidas aqui e agora pela economia real”.

Países mais vulneráveis

No período analisado pelo relatório, os Estados Unidos sofreram as maiores perdas econômicas, com US$ 934,7 bilhões (R$ 5,4 trilhões), seguidos pela China com US$ 267,9 bilhões (R$ 1,5 trilhão) e pela Índia com US$ 112,2 bilhões (R$ 651,5 bilhões).

Completam o top 5 Japão (US$ 90,8 bilhões ou R$ 527,2 bilhões) e Porto Rico (R$ US$ 87,3 bilhões ou R$ 506,9 bilhões). O Brasil ficou na 10ª posição (US$ 24,8 bilhões ou R$ 144 bilhões).

Contudo, são os países menores e de menor rendimento que registam o nível mais elevado de perdas per capita, demonstrando a desigualdade de impacto entre nações desenvolvidas e menos desenvolvidas. A ilha de Saint Martin teve o maior custo por morador entre 2014 e 2023: US$ 5,1 milhões (R$ 19,6 milhões).

O relatório pontua que o impacto econômico de um único evento climático extremo em nações mais vulneráveis, em alguns casos, pode eclipsar a produção anual total. Por exemplo, a estimativa é que o furacão Maria, em 2017, teve um custo equivalente a mais de 300% do valor acrescentado bruto (VAB) da Dominica naquele ano.

Ilan Noy, economista de desastres da Universidade Victoria de Wellington, da Nova Zelândia, que não esteve envolvido na análise do ICC, disse ao The Guardian que as descobertas estão de acordo com pesquisas semelhantes que ele conduziu. Mas alertou que os dados subjacentes não capturavam o quadro completo.

A principal ressalva é que esses números na verdade não captam o impacto onde ele realmente importa, em comunidades pobres e em países vulneráveis

O estudo que ele e colegas produziram ano passado estimou os custos de eventos climáticos extremos atribuíveis ao colapso climático em US$ 143 bilhões (R$ 830,3 bilhões) por ano, principalmente devido à perda de vidas humanas, mas foi limitado por lacunas de dados, sobretudo na África.

“A maior parte do impacto que é contabilizado é em países de alta renda – é onde os valores dos ativos são muito mais altos, e onde a mortalidade por ondas de calor é contabilizada como muito maior”, observou Noy. “Claramente, as perdas de casas e meios de subsistência em uma comunidade pobre em países pobres são mais devastadoras a longo prazo do que as perdas em países ricos onde o estado é capaz e está disposto a ajudar na recuperação.”

Diante de todo esse cenário, o ICC pediu aos líderes mundiais que ajam mais rápido para enviar dinheiro aos países que precisam de ajuda para reduzir a poluição e se desenvolver de forma a resistir aos choques climáticos violentos.

“Financiar ações climáticas no mundo em desenvolvimento não deve ser visto como um ato de generosidade dos líderes das economias mais ricas do mundo. Cada dólar gasto é, em última análise, um investimento em uma economia global mais forte e resiliente da qual todos nós nos beneficiamos”, enfatizou Denton. “De uma perspectiva empresarial, a urgência de uma ação coordenada e coletiva para acelerar as reduções de emissões e construir resiliência a padrões climáticos em mudança não pode ser exagerada. Simplificando, o momento para agir é agora.”

Ele completou que a COP29 não pode ser – como alguns sugeriram – uma COP “transicional”: “Precisamos ver resultados capazes de acelerar a ação climática compatível com os riscos econômicos imediatos. Isso deve começar com um pacote abrangente para acelerar a implantação de financiamento para garantir que todos os países possam fazer a transição para um desenvolvimento de baixo carbono e resiliente ao clima sem mais demora”.

Fonte: Um Só Planeta:

Foto: Reprodução – Internet.