FAO aponta piora na escassez de água doce em todo o mundo

A disponibilidade de água renovável por pessoa caiu 7% nos últimos 10 anos, à medida que a pressão sobre os recursos continua aumentando em várias regiões.

Os dados constam da mais recente atualização do sistema Aquasat 2025, divulgado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO.

Pressão crescente

Segundo a agência, o crescimento da procura, combinado à escassez estrutural em algumas regiões, agrava o estresse hídrico e coloca desafios crescentes ao desenvolvimento sustentável.

O Aquasat 2025 mostra que regiões como o norte de África e a Ásia Ocidental continuam operando com níveis extremamente baixos de água doce disponível por pessoa.

Países como o Kuwait e o Catar figuram entre os que têm os menores recursos hídricos renováveis per capita em nível mundial.

Ao mesmo tempo, a captação total de água doce aumentou em várias regiões, agravando a pressão sobre bacias hidrográficas e aquíferos. A agricultura mantém-se como o principal setor consumidor de água no mundo, representando cerca de 72% da captação total em muitas regiões.

Contraste entre países lusófonos

Os dados revelam contrastes significativos entre países de língua portuguesa. Brasil e Guiné-Bissau apresentam elevados níveis de água renovável por pessoa.

Já Cabo Verde enfrenta uma situação de escassez, com menos de 600 metros cúbicos por habitante por ano. Angola, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste situam-se em níveis intermédios, embora com padrões distintos de disponibilidade e uso.

A agricultura é o principal consumidor de água na maioria destes países, ultrapassando 70% das captações em Moçambique e na Guiné-Bissau. O uso chega a mais de 90% em Timor-Leste. Portugal e Angola apresentam uma distribuição mais equilibrada entre utilização agrícola, industrial e urbana.

O Brasil destaca-se ainda pela escala da irrigação, ocupando o 9º lugar mundial entre os países com maior área equipada para sistemas de irrigação avançados que oferecem gerenciamento preciso e automatizado.

Eficiência e estresse hídrico

O relatório apresenta valores atualizados dos indicadores do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, ODS, 6.4. As metas acompanham a eficiência do uso da água e os níveis de estresse hídrico.

Embora a eficiência tenha melhorado, em várias regiões, muitos países continuam a notificar níveis elevados de estresse, especialmente onde as retiradas de água excedem de forma regular os recursos renováveis disponíveis.

Para a FAO, os dados recolhidos diretamente junto dos países reforçam a necessidade de uma gestão mais sustentável da água e de políticas que aumentem a resiliência face à crescente pressão sobre recursos hídricos, num contexto de alterações climáticas e aumento da procura global.

Sistema Aquasat

O Aquasat é o sistema global de informação da FAO sobre água e agricultura e constitui uma referência fundamental para a monitorização dos recursos hídricos a nível mundial.

Os dados são fornecidos por instituições nacionais e validados em cooperação com os países, garantindo comparabilidade e rigor estatístico.

A edição de 2025 está disponível online, com o objetivo de apoiar o planejamento baseado em evidências, o acompanhamento dos ODS e a cooperação internacional em matéria de gestão sustentável da água.

Fonte: ONU News.

Foto: © Pnud/Ab Rashid.

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