A Amazônia vê um recorde de queimadas em fevereiro revelam dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do Ministério da Ciência e Tecnologia. No total, são 2.924 focos identificados pelas imagens de satélite até o último dia 26, maior número desde o início da série histórica, em 1999.
Em Roraima, Estado que concentra a maior quantidade de focos de incêndio, as chamas avançam por áreas protegidas, como unidades de conservação ou indígenas, e a fumaça encobre estradas, como a RR-206, e partes de Boa Vista.
“A área queimada na Floresta Nacional (de Roraima, uma das reservas) iniciou em 7 de fevereiro, no carnaval, emendou com a Terra Indígena Yanomami e já passa de 24 mil hectares”, diz Nilton Barth, chefe do Núcleo de Gestão do ICMBio em Roraima. O órgão é responsável pelas unidades de conservação federais. “Estamos pedindo apoio para virem brigadistas e viaturas do Amazonas.”
No 2º semestre de 2023, algumas regiões da floresta tiveram picos de incêndios. A gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que contratou mais brigadistas, mas admitiu ao Estadão que a estrutura de combate ao fogo era insuficiente. Especialistas já alertavam para os efeitos do El Niño na região, que tem a estiagem agravada pelo fenômeno climático.
Segundo Barth, há duas bases de brigadistas atuando no Parque Nacional do Viruá e na Floresta Nacional de Roraima, além do apoio de dois helicópteros do Ibama.
Embora tenha baixado pela metade o desmatamento em 2023, o insucesso na prevenção de incêndios tem pressionado o governo federal, que prometeu a proteção do bioma como uma de suas principais bandeiras. Procurado, o ministério informou ter 251 combatentes na região, apoiados por quatro aeronaves.
“Os incêndios florestais concentrados em Roraima são agravados pela estiagem prolongada, intensificada pela mudança do clima e por um dos El Niños mais fortes da história. Desde janeiro, o Ibama tem 251 combatentes na região, apoiados por quatro aeronaves. Em 2024, o instituto contratou duas brigadas para atender exclusivamente a TI Yanomami, dentro e fora da região”, disse a pasta.
A geógrafa Ane Alencar, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), afirma que a crise atual decorre ainda da seca que atingiu a Amazônia no ano passado. “É comum Roraima ter queimadas nessa época; o que é incomum é a enorme quantidade de áreas queimadas. Vejo como um resquício da seca que afetou a Amazônia desde maio do ano passado”, afirma.
Segundo ela, não é só o Brasil que sofre com incêndios. “Todos os outros países do norte da América do Sul estão com número de focos de calor e incêndios muito acima do normal, provavelmente causados pelo El Niño, em conjunção com o aumento gradual da temperatura da Terra”, afirma.
Fábio Wankler, professor de Geologia da Universidade Federal de Roraima (UFRR), aponta três fatores por trás dos incêndios. Um deles é a seca; outro é o aumento das temperaturas, que deixou a vegetação mais seca e os ventos fortes.
O terceiro fator são as liberações para queimadas feitas pelo governo. “As autorizações para queima controlada, junto a esses fatores climáticos e naturais, foram responsáveis pelo que acontece agora”, avalia. A ONG Greenpeace mapeou, por meio do Diário Oficial do Estado, 55 licenças emitidas pelo governo roraimense para o uso do fogo, a maioria para pastagem, desde o início do ano.
Romulo Batista, porta-voz do Greenpeace Brasil, frisa que a Amazônia não pega fogo sozinha e as queimadas no bioma, em especial em Roraima, são causadas pela ação humana.
Estado defende queima controlada e põe PMs para reprimir incêndios
Diretor-presidente da Fundação Estadual de Meio Ambiente, Glicério Fernandes rebate essa explicação. “O fogo não começou a partir de nenhuma autorização de queimada. O estopim de tudo são as margens das BRs, rodovias estaduais e vicinais”, diz o gestor do órgão, ligado ao governo.
No dia 22, o governo suspendeu as liberações para queima controlada. Fernandes ainda ressalta que as unidades de conservação de gestão estadual não têm registro de fogo. “Todas elas estão intactas”, afirma.
O Corpo de Bombeiros remanejou parte do efetivo que trabalha internamente para atuar nas ruas (de 100 para 150) e mais 240 brigadistas foram contratados esta semana para atender a capital e interior. A Polícia Militar também cedeu 90 agentes para reprimir os incêndios criminosos.
“Autorizei a Companhia de Águas do Estado de Roraima (Caer) a perfuração de mais 50 poços para fornecimento de água tratada na capital e no interior”, disse o governador Antonio Denarium (PP). O Estado também afirma que estão sendo providenciados carros-pipa, a entrega de 25 mil cestas básicas, além de um pedido de reforço ao governo federal.
Fontes: Estadão, Revista Galileu.
Foto: Christian Braga/Greenpeace.