Desde terça-feira (16), as temperaturas começaram a despencar em grande parte do país, em uma onda de frio fora do comum para o início do outono. A temperatura mínima prevista pelo Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) até o final da semana chegou a ficar abaixo dos 10°C em diversas capitais, entre elas Brasília, Belo Horizonte, Cuiabá (!), Campo Grande, São Paulo e Florianópolis.
De acordo com o instituto, a onda de frio pode causar geada no Sul e chegar até o Norte do país, ainda que com menor intensidade. E é também o momento de figuras como Eduardo Bolsonaro e o Aldo Rebelo botarem para tocar aquele disco riscado: “um frio desses e os cientistas insistindo em aquecimento global?” O fato é que ondas sazonais de frio em nada contradizem a emergência climática. Ao contrário, podem ser consequência dela.
“Este ano, até agora, está se posicionando como o quarto ano mais quente deste século. O aquecimento do planeta perturba as correntes atmosféricas, o que leva a uma tendência de intensificar alguns eventos, sejam eles ondas extremas de calor ou de frio”, afirma Francisco Eliseu Aquino, climatologista da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
De fato, na mesma semana em que o hemisfério Sul vivencia dias atípicos de frio, o norte da Rússia e a China sofrem com uma onda severa de calor, com termômetros marcando em torno de 8ºC a 10ºC acima da média para a época.
A Índia, que registrou o mês de março mais quente em mais de um século, também segue com um calor extremo que está levando os termômetros para perto dos 50°C.
Aquino explica que a massa de ar frio que avança sobre a América do Sul nesta semana é resultado de um desequilíbrio no sistema de circulação geral do planeta, em especial na região sul do Brasil e na Península Antártica. Ao longo do ano, massas de ar circulam em sentido horário e provocam troca de ar entre essas duas regiões: ar quente daqui para lá e ar frio de lá para cá.
De acordo com o especialista, conforme a atmosfera tropical e equatorial do planeta ficam mais quentes e fortalecidas por causa das mudanças climáticas, ocorre uma “perturbação” nesse sistema de trocas, fazendo com que essa circulação fique cada vez mais rápida e que o ar polar chegue com mais paraça até o Brasil cada vez que consegue romper a barreira quente, como foi o caso desta semana.
A onda de ar frio também se intensifica quando passa pelo Mar de Weddell, uma das regiões mais geladas da Antártida, antes de chegar por aqui.
Soma-se a isso o fato de que o planeta está em torno de 1,1°C mais quente do que na era pré-industrial, e como consequência os invernos estão mais amenos. Assim, os eventos anômalos, como o que está ocorrendo nesta semana, ficam mais evidentes.
“O que está ocorrendo agora se enquadra perfeitamente em um cenário de um mundo mais quente. Esperamos cada vez mais eventos extremos, de frio ou calor para toda a região do Prata (sul do Brasil, Argentina e Uruguai) até o sul da Amazônia”, conclui o pesquisador.
((O))Eco.