Fungo de Chernobyl que ‘come’ radiação pode proteger astronautas no espaço; entenda

Cientistas descobriram um aliado improvável na batalha para limpar as zonas radioativas de Chernobyl: o mofo negro que prospera nelas. Uma equipe de pesquisa constatou que os fungos não apenas se adaptaram ao ambiente radioativo, mas na verdade se alimentam dele, segundo reportagem da BBC.

A descoberta revolucionária iniciou em 1997, quando a microbiologista ucraniana Nelli Zhdanova explorou as ruínas da usina nuclear de Chernobyl e encontrou mofo negro colonizando as paredes, tetos e dutos metálicos do local — uma das áreas mais radioativas da Terra. Pesquisas subsequentes revelaram que os fungos não apenas habitavam a zona de exclusão, mas pareciam crescer em direção à fonte de radiação.

Zhdanova suspeitou que a chave estava na melanina, o pigmento responsável pela coloração escura da pele e dos cabelos, presente em grande quantidade nas paredes celulares desses fungos. Ela teorizou que a melanina os protegia contra a radiação ionizante da mesma forma que a pele escura protege contra o sol. Mas os fungos não estavam apenas se adaptando — eles estavam se alimentando da radiação.

Em 2007, Ekaterina Dadachova, cientista nuclear do Albert Einstein College of Medicine em Nova York, comprovou que fungos melanizados cresceram 10% mais rápido na presença de césio radioativo. Dadachova acredita que os fungos estavam convertendo ativamente a energia da radiação para crescimento, um processo que ela chamou de “radiossíntese”. “A energia da radiação ionizante é cerca de um milhão de vezes maior que a energia da luz branca usada na fotossíntese”, explicou.

Em 2018, uma cepa do fungo de Chernobyl, Cladosporium sphaerospermum, foi enviada à Estação Espacial Internacional. Os pesquisadores descobriram que o fungo cresceu 1,21 vezes mais rápido no espaço e bloqueou efetivamente a radiação cósmica galáctica — o maior perigo à saúde dos astronautas em viagens espaciais profundas.

Diferentemente da desintegração radioativa detectada em Chernobyl, a chamada radiação cósmica galáctica é uma tempestade invisível de prótons carregados. Cada um deles viaja pelo universo quase à velocidade da luz.

Originada na explosão de estrelas fora do nosso sistema solar, ela chega a atravessar o chumbo sem grandes dificuldades.

Na Terra, nossa atmosfera nos protege dela em grande parte. Mas, para os astronautas que viajam para o espaço profundo, a radiação cósmica galáctica foi descrita como “o maior perigo” existente para a saúde humana.

Nem mesmo essa radiação representou problema para as amostras de Cladosporium sphaerospermum, a mesma cepa encontrada por Zhdanova crescendo em Chernobyl, segundo um estudo que enviou esses fungos para a Estação Espacial Internacional em dezembro de 2018.

“O que demonstramos é que elas crescem melhor no espaço”, afirma Nils Averesch, bioquímico da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, um dos autores do estudo.

A descoberta tem implicações importantes para limpeza de radiação em locais como Chernobyl e Fukushima (no Japão) e especialmente para a exploração espacial. A NASA já está estudando o uso de “mico-arquitetura” — paredes e móveis à base de fungos — que poderiam ser cultivados na Lua ou em Marte, formando uma barreira regenerativa contra a radiação cósmica e reduzindo drasticamente os custos de transporte de materiais pesados como metal e vidro ao espaço.

Fontes: Um só Planeta, BBC News, g1.

Foto: Sean Gallup/Getty Images.

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