Gasolina sem petróleo: conheça o combustível sustentável produzido no Chile

Autoridades do governo chileno e empresas privadas inauguraram terça-feira, 20/12, a primeira planta integrada para produzir e-combustíveis limpos à base de hidrogênio verde (H2) no mundo, no que qualificaram como o nascimento de uma “nova indústria” em nível global.

Em cerimônia com a presença do ministro de Energia do Chile e executivos da HIF Global, Porsche, Enel Green Power e Siemens Energy, os executivos ativaram a planta de demonstração Haru Oni, localizada na cidade de Punta Arenas (extremo sul do Chile), e então encheram o tanque de um carro Porsche 911 e o testaram no mesmo local.

“Hoje não estamos inaugurando uma fábrica. Estamos inaugurando o nascimento de uma indústria, de um ecossistema que nos levará ao século XXII. Hoje damos um passo rumo ao futuro, que é responsabilidade de todos”, disse César Norton, presidente da empresa proprietária da usina, a HIF Global.

A fábrica, cuja construção começou em setembro de 2021, custou cerca de 74 milhões de dólares e pode produzir e-gasolina para carros, e-aviation fuel (SAF) e e-liquefied gas.

A gasolina sintética começou a tomar forma há alguns anos atrás, mas ainda se encontrava em escala experimental, nada de fabricação em massa. Até agora. A primeira usina de produção em massa de gasolina sem petróleo começou a sua operação terça, 20 de dezembro, em Magalhães, extremo sul do Chile.

Chamada de Haru Oni, que significa ventos fortes na língua dos indígenas da região, a planta combina energia elétrica, água e CO2 para gerar e-Metanol e, por fim, gasolina neutra em carbono a partir da eletricidade. Por isso mesmo, os combustíveis gerados são chamados de eletro combustíveis ou combustíveis elétricos (e-Fuels).

A base do processo de sintetização dos combustíveis é o hidrogênio, elemento que é produzido em um eletrolisador da Siemens Energy com a energia elétrica das turbinas eólicas da Siemens Gamesa.

A operação foi criada por um consórcio da Siemens Energy, Porsche, HIF Global, entre outras empresas. A própria Porsche já havia anunciado o uso de combustíveis sintéticos.

Segundo a Siemens Energy, a expectativa é que o sistema produza 130 mil litros de combustível sintético por ano ainda em 2023 . Após essa fase piloto, o projeto crescerá gradualmente até atingir 55 milhões de litros por ano até a metade da década. Cerca de dois anos depois disso, ou seja, por volta de 2027, a projeção da capacidade produtiva deve chegar a 550 milhões de litros por ano.

Se levarmos em consideração apenas a gasolina, a projeção de demanda do combustível no Brasil da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), órgão do governo brasileiro, será de 38,1 bilhões de litros em 2023 . O nível de produção de combustível sintético em 2027 poderia ser uma saída para suprir parte da demanda.

O excepcional potencial de geração de energia renovável da Patagônia fez do local uma escolha natural para a implantação da instalação. Os fortes ventos da região conseguem gerar cerca de três vezes mais energia do que o possível na Europa. Toda a operação de Haru Oni tem certificação que comprova que os combustíveis gerados na usina podem ser chamados de verdes.

“É uma das gasolinas mais limpas do mundo entrando em operação. É uma grande inovação sendo feita agora e não no futuro”, afirma André Clark, VP Sênior da Siemens Energy para América Latina.

“Esta planta é um símbolo de um desafio gigante, pois é preciso mitigar as mudanças climáticas. Isso mostra que muitas outras coisas também são possíveis”, disse Diego Pardow, ministro de energia do Chile

O processo

Para a produção em larga escala do combustível ecológico, a fábrica utiliza o processo de eletrólise, que separa a água em oxigênio e hidrogênio.

Feito isso, o próximo passo é sintetizar os componentes com dióxido de carbono, gerando o metanol sintético. Com o processo de refino, a estrutura transforma o composto em gasolina.

O novo combustível emite 90% menos CO2 na atmosfera que os de origem fóssil e não exige adaptações mecânicas dos veículos para ser utilizado.

O batismo de fogo do “e-fuel” aconteceu no momento em que a montadora alemã Porsche, também parceira do projeto, abasteceu o modelo Mobil 1 Supercup. Com o tanque cheio, o carro circulou normalmente pela planta como faria com qualquer outro combustível fóssil já existente.

Futuro

Na fase piloto, a produção do e-metanol atingiu 750 mil litros por ano. Mas as metas é de 55 milhões de litros de e-gasoline por ano até 2025 e de 550 milhões de litros por ano até 2027. Combustível suficiente para mais de um milhão de pessoas dirigirem seus carros por quase um ano.

“Esse teste é importantíssimo também para as operações no Brasil. A qualidade do vento na Patagônia é muito parecida com a do nordeste brasileiro e o potencial é gigantesco. O futuro da energia sustentável no planeta com certeza vai passar pelo Brasil e pelo Chile”, afirma Clark.

Fontes: Isto É Dinheiro, CNN, Pense Numa Notícia, Portal IG.

Foto: Siemens/Divulgação.