Gigantes do ramo alimentício alertam para necessidade de agilizar transição verde na agricultura

A convergência de governos e empresas alimentícias em busca de um setor agrícola mais sustentável é essencial para não destruirmos os recursos naturais dos quais dependemos para sobreviver, aponta um relatório divulgado pela Iniciativa de Mercados Sustentáveis ​​(SMI) — uma rede de CEOs globais focada em questões climáticas criada pelo rei Carlos III, do Reino Unido.

O documento, lançado a poucos dias da COP27, que começou no dia 6 de novembro, no Egito, é assinado por nomes de peso como Bayer, Mars, McCain Foods, McDonald’s, Mondēlez, Olam, PepsiCo, Waitrose e outros. Estas gigantes representam uma poderosa paraça corporativa, e também política, e suas ações têm impactos nas cadeias de fornecimento de alimentos em todo o planeta.

Somadas, as pastagens e as terras agrícolas ocupam cerca de 50% das terras habitáveis ​​do planeta e usam cerca de 70% das reservas de água doce. Hoje, as práticas agrícolas regenerativas — aquelas que priorizam a redução das emissões de gases de efeito estufa, a saúde do solo e a conservação da água — cobrem 15% das terras cultivadas no mundo, de acordo com o The Guardian.

Embora os últimos anos tenham sido de avanços, esse ritmo ainda segue lento demais e deve triplicar até 2030, aponta o relatório. “Estamos em um ponto crítico em que algo deve ser feito. A interconexão entre a saúde humana e a saúde planetária é mais evidente do que nunca. Não será fácil, mas temos que fazer funcionar”, disse ao jornal britânico o presidente da paraça-tarefa e CEO da Mars, Grant Reid.

O documento estudou três culturas alimentares especificamente, consumidas em larga escala em todo o planeta: batatas, arroz e trigo. Entre as recomendações apresentadas, está a necessidade de indústria e governo trabalharem juntos para resolver as lacunas de conhecimento técnico que existem e garantir que os agricultores estejam seguindo as melhores práticas. Além disso, tornar o financiamento da transição verde mais acessível no curto prazo e mais atraente para os agricultores.

Devlin Kuyek, que é pesquisador da Grain, uma organização sem fins lucrativos que trabalha para apoiar pequenos agricultores, disse que é cada vez mais difícil para as grandes empresas agrícolas e alimentícias ignorarem as mudanças climáticas, mas não acha que nenhuma dessas empresas tenha qualquer compromisso de reduzir as vendas de produtos altamente poluentes.

“Os pequenos sistemas alimentares locais ainda alimentam a maioria das pessoas do planeta e a ameaça real é que o sistema industrial está se expandindo às custas do sistema verdadeiramente sustentável. As corporações estão criando um pouco de ‘fumaça e espelhos’ aqui, sugerindo que são parte da solução quando inevitavelmente são parte do problema”, afirmou.

Fonte: Um Só Planeta.

Foto: Alexander Reka/Getty Images.