No Oceano Pacifico uma enorme “ilha” de plástico com cerca de 1,6 milhões de quilômetros quadrados, maior que o estado do Amazonas, tem abrigado um ecossistema impressionante e levado animais de zonas costeiras a sobreviverem em alto mar.
Essa grande quantidade de plástico, cerca de 79 mil toneladas, está localizada entre a Califórnia e o Havaí e o termo mais correto para chamá-la é Grande Mancha, já que é mais uma larga porção de oceano com alta concentração de lixo plástico boiando, mais como uma sopa, do que um grande conglomerado.
“Existem manchas de lixo em todo o mundo. O que sabemos sobre essa área [da Grande Mancha] é que ela é composta por minúsculos microplásticos, quase como uma sopa, com itens maiores espalhados, equipamentos de pesca”, explica Dianna Parker, do Programa de Detritos Marinhos da Agência Americana Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês).
Todo esse material boiando no meio do Oceano Pacifico pode abrigar uma série de pequenos seres-vivos e principalmente microrganismos como algas e plantas que vivem em invertebrados como moluscos e esponjas.
Grande mancha de plástico abriga vida
Um estudo publicado na revista Nature descobriu que os resíduos plásticos flutuantes servem como um meio para as espécies se dispersarem pelo oceano. Até então, se pensava que restrições fisiológicas ou ecológicas eram os fatores responsáveis pela limitação da colonização do oceano.
Os pesquisadores identificaram 484 organismos invertebrados marinhos nos detritos, representando 46 espécies diferentes, das quais 80% são normalmente encontradas em zonas costeiras. Esses habitantes, em sua maioria, são microorganismos, plantas e algas que se aderem aos animais invertebrados aquáticos, como moluscos e esponjas.
“No entanto, ainda não são conhecidas as consequências desse novo tipo de ordenamento, e nem como as espécies são capazes de se distanciar tanto dos seus locais de origem e sobreviverem. Os nossos resultados demonstram que o ambiente oceânico e o habitat plástico flutuante são claramente hospitaleiros para as espécies costeiras. […] Podem sobreviver, reproduzir e ter populações complexas e estruturas comunitárias em mar aberto”.
Qual o impacto da mancha no meio ambiente?
Segundo a NOAA, a Grande Mancha de Lixo do Pacífico está bem no meio do oceano, onde as pessoas quase nunca vão. No entanto, os detritos podem impactar a vida marinha de várias maneiras:
Pesca fantasma: redes de pesca perdidas são perigosas para a vida marinha. Chamadas de redes “fantasmas”, elas continuam a pescar, mesmo que não estejam mais sob o controle de um pescador.
Ingestão: os animais podem comer plásticos e outros detritos por engano.
Espécies não nativas: detritos marinhos podem transportar espécies de um lugar para o outro. Se ela para invasora e puder se estabelecer em um novo ambiente, ela pode competir ou superlotar espécies nativas, interrompendo o ecossistema.
“Sabemos que existem microplásticos no oceano. Sabemos que pássaros, peixes e até mesmo alguns mamíferos marinhos maiores comem esses plásticos. Sabemos que há produtos químicos nos plásticos e sabemos que esses produtos podem absorver outros que são tóxicos. A grande questão é: o que esses plásticos estão fazendo com os animais que os comem?”, reflete Dianna Parker,
Quais os riscos para a saúde humana?
Se o plástico entra na cadeia alimentar marinha, há a possibilidade de ele também contaminar os seres humanos. Os detritos também impactam de outras formas, podendo causar danos a embarcações e ser um perigo para a navegação.
E se nada mudar? A NOAA acredita que a quantidade de detritos pode continuar a crescer. Esse crescimento provavelmente piorará os impactos atuais sobre o meio ambiente, navegação, segurança das embarcações e economia.
Talvez a mancha nunca suma completamente, alerta a agência americana.
Isso porque grande parte dos detritos na mancha são compostos principalmente por microplásticos. Eles são tão pequenos que seria muito difícil removê-los por completo.
O que a NOAA sugere é a prevenção – evitar que o lixo se espalhe pelo oceano. O trabalho deve ser feito em conjunto com governos, empresas e população em geral.
“O lixo marinho é um problema solucionável porque vem de nós humanos e de nossas práticas cotidianas. Podemos tomar várias medidas para evitar que ele entre no oceano e isso pode acontecer no mais alto nível (com os governos) e nos indivíduos de nível mais baixo e nas escolhas cotidianas”, diz Dianna Parker.
Retirando até 90% do lixo – A ONG The Ocean Cleanup vem trabalhando por quase 10 anos na limpeza dos oceanos. Boyan Slat, CEO da iniciativa, diz que é possível retirar 80% do plástico dos oceanos até 2030, e cerca de 90% até 2040.
O sistema criado por ele funciona como uma espécie de barragem móvel levada por dois barcos. O coletor de lixo enche conforme os barcos avançam e conforme o plástico vai se movendo. Quando fica cheia, a “rede” é fechada, selada e levada até o barco, onde é descarregada.
Em abril desde ano, o coletor da ONG retirou 6.260 kg de plástico da Grande Mancha. No total, já foram mais de 200 mil quilos de plásticos retirados do local.
Fonte: Olhar Digital, G1.
Foto: Divulgação/The Ocean Cleanup.