Mais de 85 cientistas criticam relatório climático do Departamento de Energia dos Estados Unidos

Mais de 85 cientistas renomados disseram, nesta terça-feira (2), que a recente avaliação climática do Departamento de Energia (DOE) do presidente dos EUA, Donald Trump, usada para justificar a revogação das regras federais sobre gases de efeito estufa, não atende aos padrões de integridade científica.

O grupo, liderado pelos professores Andrew Dessler, da Texas A&M University, e Robert Kopp, da Rutgers University, apresentou uma revisão de mais de 400 páginas da avaliação escrita por cinco cientistas escolhidos a dedo pelo secretário de Energia dos EUA, Chris Wright.

Wright tem uma visão contrária ao consenso científico. A revisão feita pelo grupo de 85 cientistas foi publicada antes do prazo final de consulta pública, que seria encerrada nesta terça (2).

Os cientistas dizem que o relatório do Grupo de Trabalho sobre o Clima, de Wright, “não representa adequadamente a compreensão científica atual das mudanças climáticas”.

“Não parece ter sido feita nenhuma tentativa de equilibrar os pontos de vista representados [no Grupo de Trabalho sobre o Clima]; em vez disso, esse grupo parece ter sido recrutado pessoalmente pelo secretário de Energia para promover um ponto de vista específico favorecido pela liderança do DOE”, escrevem.

Quando o relatório foi divulgado em julho, Wright disse que acredita que a mudança climática é real, mas achava que era necessário trazer mais debates sobre o assunto para o público.

“Analisei o relatório cuidadosamente e acredito que ele representa fielmente o estado da ciência climática atual”, afirmou.

“Ainda assim, muitos leitores podem se surpreender com suas conclusões que diferem em aspectos importantes da narrativa dominante. Isso é um sinal de como a conversa pública se distanciou da própria ciência.”

O grupo de 85 cientistas disse que o Departamento de Energia se baseou muito em pesquisas desmentidas, interpretou erroneamente outras pesquisas e não realizou um processo de revisão por pares para garantir a credibilidade da avaliação.

Em contraste, os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) e da Avaliação Nacional do Clima dos EUA tiveram milhares de autores e colaboradores e uma revisão independente demorada.

Esses relatórios refletem que a mudança climática está piorando, com impactos observados em todo o mundo.

“O relatório privilegia as opiniões desatualizadas de dissidentes individuais em vez do consenso dos cientistas”, disse Andra Garner, cientista climática que participou da revisão.

“O relatório tem o objetivo de apoiar uma decisão política específica e não é uma síntese imparcial da ciência climática.”

Até esta segunda-feira (1º), o Departamento de Energia tinha recebido mais de 2.000 comentários sobre o relatório durante a consulta pública.

Fonte: Folha SP.

Foto: Chris Keane – 29.nov.18/Reuters.

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