No Brasil, a soja e a carne bovina são produzidas em áreas de alta prioridade de conservação ambiental, revelou um levantamento de pesquisadores do Japão, da Noruega e da Holanda. O estudo, que também estimou que um terço da agropecuária mundial se concentra nessas áreas, foi publicado na terça (30/05) e gerou um mapa interativo.
“A produção de alimentos continua sendo a principal causa da perda de biodiversidade [no mundo]”, disse Keiichiro Kanemoto, autor do estudo e professor do Research Institute para Humanity and Nature, no Japão. “Mas há uma dolorosa falta de dados sistemáticos sobre quais produtos e quais países contribuem mais para isso.”
A equipe fez sua contribuição combinando informações sobre agropecuária e biodiversidade ao redor do mundo. O levantamento incluiu 48 commodities agrícolas provenientes de 197 países, e se baseou em dados de conservação de 7.143 espécies.
Os pesquisadores usaram os dados de biodiversidade para estimar o valor de conservação das áreas agrícolas. Eles as dividiram em quatro níveis, de prioridade mais baixa à mais alta de conservação. Então, os cientistas determinaram quais alimentos foram produzidos em quais áreas.
Alguns resultados do estudo
O levantamento mostrou algumas tendências. Por exemplo: produtos básicos como arroz, soja e carne bovina tendem a ser produzidos em áreas de alta prioridade de conservação. Outros, como cevada e trigo, vêm principalmente de áreas de menor risco ambiental.
Mas o impacto de uma mesma cultura pode variar bastante. A carne bovina e a soja não representam o mesmo risco na América do Norte. Elas são cultivadas em áreas importantes para a biodiversidade por aqui.
Já o trigo, por exemplo, é cultivado em regiões de menor prioridade de conservação na Europa Oriental em relação à Ocidental.
Os pesquisadores também afirmam que, embora a criação de gado, o cultivo de soja e a produção de óleo de palma sejam atividades reconhecidamente problemáticas em relação à conservação, outros produtos merecem atenção. É o caso do milho, cana de açúcar e borracha.
Além disso, o mapa interativo evidenciou como as “pegadas alimentares” dos países na biodiversidade podem ser destoantes. Veja só: o cultivo de café e cacau acontece principalmente em áreas de alta prioridade de conservação em países próximos ao Equador. Estados Unidos e Europa são amplamente consumidores desses produtos.
Outro exemplo é a soja. 70% do grão cultivado em áreas importantes para a biodiversidade brasileira vai para a China – a população gigantesca de lá representa uma demanda igualmente grande por múltiplas commodities, e o país tem a maior influência global na produção de alimentos em áreas de alta prioridade de conservação.
Os pesquisadores ressaltam que, com as mudanças climáticas, é provável que as espécies listadas abandonem alguns dos territórios que ocupam hoje e/ou se distribuam por outros – o que deve transformar o mapeamento das áreas de conservação e alterar os atuais conflitos entre produção de alimento em massa e biodiversidade.
Fonte: Uol, Gizmodo.
Imagem: Nguyen Tien Hoang/Reprodução.