Microplásticos no cérebro podem mudar nosso comportamento

Cientistas já encontraram microplásticos em uma quantidade inesgotável de lugares, como na placenta humana, no leite materno e até mesmo no coração de pacientes durante cirurgias. Mas os seus efeitos no corpo humano ainda são desconhecidos – e, por isso, uma equipe de pesquisadores decidiu investigar os impactos desse material no cérebro.

A pesquisa registrada neste mês de agosto no periódico Internacional Journal of Molecular Sciences foi divulgada nesta quarta-feira (30). Os cientistas da Universidade de Rhode Island, nos Estados Unidos, deram água contaminada com microplásticos a camundongos jovens e velhos ao longo de três semanas.

Surpreendentemente, ao dissecarem os camundongos, os autores descobriram que essas partículas plásticas com menos de 5 milímetros de tamanho poderiam levar a mudanças comportamentais quando estão no sistema nervoso central de mamíferos — grupo que inclui os humanos.

Isso porque os roedores começaram a se mover e a se comportar de maneira peculiar, exibindo atitudes semelhantes à demência em humanos. Essa conduta incomum foi ainda mais intensa nos animais mais velhos.

“Para nós, isso foi impressionante. Não foram doses elevadas de microplásticos; mas, num curto período, vimos essas mudanças”, conta a professora Jaime Ross, pesquisadora de Rhode Island que lidera o estudo, em comunicado. “Ninguém compreende realmente o ciclo de vida dos microplásticos no corpo. Por isso, parte do que queremos abordar é a questão do que acontece à medida que envelhecemos”, ela acrescenta.

Em busca de mais respostas sobre os impactos do microplástico no organismo, a equipe de Ross dissecou vários tecidos importantes das cobaias, incluindo o cérebro, fígado, rim, trato gastrointestinal, coração, baço e pulmões. Com isso, os especialistas notaram que as partículas começaram a se bioacumular em todos os órgãos, bem como nos resíduos corporais.

“Dado que neste estudo os microplásticos foram administrados por via oral através da água potável, a detecção em tecidos como os do trato gastrointestinal – que é uma parte importante do sistema digestivo – ou os do fígado e dos rins sempre foi provável”, apontou Ross. Por outro lado, a presença de microplásticos no coração e pulmões sugere que as partículas estão indo além do sistema digestivo, conforme avalia a especialista. “A barreira sanguínea cerebral é considerada muito difícil de permear. É um mecanismo de proteção contra vírus e bactérias, mas essas partículas conseguiram entrar lá. Na verdade, estava profundamente no tecido cerebral”, ela se surpreende.

Além de afetar o comportamento de mamíferos, os cientistas acreditam que a infiltração cerebral de partículas de plástico também pode causar uma diminuição na proteína ácida fibrilar glial (chamada “GFAP”), que apoia muitos processos celulares no cérebro.

“Uma diminuição na GFAP tem sido associada aos estágios iniciais de algumas doenças neurodegenerativas, incluindo em modelos de camundongos para o Alzheimer, bem como à depressão”, conta a líder da pesquisa. “Ficamos muito surpresos ao ver que os microplásticos poderiam induzir alteração na sinalização GFAP”.

Ross pretende investigar o tema mais detalhadamente em trabalhos futuros. “Queremos compreender como os plásticos podem alterar a capacidade do cérebro de manter a sua homeostase ou como a exposição pode levar a distúrbios e doenças neurológicas, como Alzheimer”, disse ela.

Fonte: Revista Galileu.

Foto: Florida Sea Grant/Flickr/Reprodução.