Mortalidade generalizada dos recifes de corais de águas quentes pode ser o primeiro ponto de não retorno ultrapassado

Com o aquecimento global prestes a ultrapassar 1,5 °C, o mundo enfrenta uma “nova realidade”, pois já atingimos o primeiro de muitos pontos de inflexão do sistema terrestre que causarão danos catastróficos, a menos que a humanidade tome medidas urgentes. Esta é a principal conclusão de um relatório histórico divulgado na segunda feira (13 de outubro) pela Universidade de Exeter e parceiros internacionais, o relatório Global Tipping Points 2025.

De acordo com o texto, o desaparecimento massivo dos recifes de corais é o primeiro ponto de não retorno do planeta, se não forem tomadas medidas urgentes contra o aquecimento global.

“Infelizmente, estamos praticamente certos de que ultrapassamos um dos pontos de não retorno para águas quentes e recifes de corais tropicais”, afirma o líder da pesquisa, Tim Lenton, da Universidade de Exeter.

A conclusão é assentada em observações de mortes “sem precedentes” de recifes de corais.

É a primeira vez que cientistas declararam que a Terra praticamente atingiu o chamado “ponto de não retorno”, que pode disparar alterações massivas e permanentes na natureza.

O documento expõe os riscos detectados no ecossistemas do planeta e foi elaborado por 160 pesquisadores, liderados pela Universidade Britânica de Exeter, com contribuições do Instituto para Pesquisa sobre o Impacto Climático de Potsdam (PIK) e outras 85 instituições.

Lançado no dia em que a pré-COP começou em Brasília, onde negociadores dos países que aderiram ao Acordo de Paris têm a oportunidade de avançar no enfrentamento da crise climática, o segundo Relatório Global sobre Pontos de Inflexão traz um forte alerta: ele conclui que os recifes de corais de águas quentes, dos quais dependem quase um bilhão de pessoas e um quarto de toda a vida marinha, já estão ultrapassando seu ponto de inflexão. Está ocorrendo uma morte generalizada e, a menos que o aquecimento global seja revertido, os extensos recifes como os conhecemos serão perdidos, embora pequenos refúgios possam sobreviver e devam ser protegidos.

Helga Correa, especialista em Conservação do WWF-Brasil afirma que o relatório é um lembrete contundente de que estamos ultrapassando os limites críticos do planeta. “A Amazônia, que ainda pode desempenhar um papel decisivo na regulação do clima global, está se aproximando perigosamente de um ponto de não retorno. A boa notícia é que ainda há caminhos para reverter essa trajetória, com políticas de conservação robustas, valorização dos povos da floresta e investimentos em restauração e um modelo de desenvolvimento inclusivo e sustentável”.

Segundo a especialista, o caminho para um futuro seguro e sustentável passa por abraçar os ‘pontos de virada positivos’, como a rápida adoção de energias limpas e a restauração de ecossistemas. “O trabalho com a Presidência da COP30 visa exatamente isso: criar uma cascata de mudanças positivas onde a inovação sustentável se torne a opção mais atraente e acessível. É fundamental que governos, empresas e a sociedade ajam juntos para que o Brasil maximize seu potencial em tecnologias verdes e promova essa transformação global.”

Para o Dr. Mike Barrett, consultor científico chefe da WWF-UK e coautor do relatório, as conclusões deste relatório são extremamente alarmantes: “O fato de os recifes de corais de águas quentes estarem ultrapassando seu ponto de inflexão térmico é uma tragédia para a natureza e para as pessoas que dependem deles para obter alimento e renda. Esta situação sombria deve servir como um alerta de que, a menos que ajamos de forma decisiva agora, também perderemos a floresta amazônica, geleiras e as correntes oceânicas vitais. Nesse cenário, estaríamos diante de um resultado verdadeiramente catastrófico para toda a humanidade. À medida que nos aproximamos das negociações climáticas da COP30, é vital que todas as partes compreendam a gravidade da situação e a extensão do que todos temos a perder se as crises climáticas e de biodiversidade não forem enfrentadas. As soluções estão ao nosso alcance. Os países devem mostrar coragem política e liderança para trabalhar juntos e alcançá-las.”

O estudo mostra também que outros pontos de inflexão, como o derretimento irreversível das camadas de gelo polares, o colapso das principais correntes oceânicas e a morte da floresta amazônica, onde será realizada a COP30, estão perto de serem atingidos, o que ocasionaria riscos devastadores para as pessoas e a natureza.

Elaborado por 160 cientistas de 87 instituições em 23 países, o relatório reforça o apelo para que os países diminuam o aumento da temperatura para evitar ultrapassar mais pontos de inflexão. Os cientistas alertam que cada fração de grau e cada ano acima de 1,5 °C são importantes.

O professor Tim Lenton, do Instituto de Sistemas Globais da Universidade de Exeter, afirmou: “Estamos nos aproximando rapidamente de vários pontos de inflexão do sistema terrestre que podem transformar nosso mundo, com consequências devastadoras para as pessoas e a natureza. Isso exige uma ação imediata e sem precedentes dos líderes da COP30 e dos formuladores de políticas em todo o mundo.”

O relatório também alerta que a característica abrupta e irreversível dos pontos de inflexão do sistema terrestre significa que eles representam um tipo diferente de ameaça em relação a outros desafios ambientais, e que as políticas e os processos de tomada de decisão atuais não são adequados para responder a eles. A ação global deve incluir a aceleração da redução das emissões e o aumento da remoção de carbono para minimizar o aumento excessivo da temperatura. Os impactos esperados dos processos de não retorno precisam ser considerados nas avaliações de risco, nas políticas de adaptação, nos mecanismos de perdas e danos e nos litígios de direitos humanos.

A Dra. Manjana Milkoreit, da Universidade de Oslo, afirmou: “O pensamento político atual não costuma levar em conta os pontos de inflexão. Os pontos de inflexão apresentam desafios de governança distintos em comparação com outros aspectos das mudanças climáticas ou do declínio ambiental, exigindo tanto inovações na governança quanto reformas das instituições existentes.

“Prevenir pontos de não retorno requer medidas de mitigação antecipadas que minimizem o pico da temperatura global, a duração do período acima de 1,5 °C e o tempo de retorno abaixo de 1,5 °C. Abordagens sustentáveis de remoção de dióxido de carbono precisam ser rapidamente ampliadas para alcançar esse objetivo.”

Fontes: WWF, DW, g1.

Foto: Projeto Coral Vivo..

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