Em 1947, Luiz Gonzaga lançou “Asa Branca”, obra-prima em parceria com Humberto Teixeira que rapidamente se converteu em um emblemático retrato da seca e da migração de brasileiros nascidos em diversas localidades do Nordeste para outras regiões do país.
Mais de sete décadas depois, não seria exagero imaginar que o Nordeste tem tudo para estimular o caminho inverso, aproveitando o imenso potencial para a geração de energias renováveis dos nove estados que compõem a região: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.
A região tem protagonismo na expansão de renováveis, sendo responsável por pelo menos 80% de toda a energia solar e eólica produzida no Brasil, com capacidade instalada de cerca de 30 gigawatts (GW) desses tipos de energia, de acordo com dados da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).
Automaticamente, esse protagonismo é positivo para o aumento da participação das renováveis na Oferta Interna de Energia brasileira.
Segundo o BEN (Balanço Energético Nacional) 2024, elaborado pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética) em parceria com o MME (Ministério de Minas e Energia), essa parcela das renováveis na Oferta Interna de Energia brasileira já corresponde a 49,1%, em 2023 —4,1 pontos percentuais acima de 2021. A geração fotovoltaica, eólica e biomassa foram as que deram a maior contribuição para essa expansão.
Com tanto potencial, é legítimo defender a tese de que o Nordeste seja um dos líderes de um novo processo de industrialização verde do País. E a contribuição da região precisa ir muito além da exportação de energia para outras regiões via SIN (Sistema Interligado Nacional) ou em projetos de hidrogênio verde.
Entendo que seria bastante salutar elaborar uma estratégia para incentivar a instalação de novos projetos industriais interessados nos atributos verdes locais, combinando energia renovável e competitividade, impulsionando a eletrificação das operações industriais.
E, além da industrialização, esse plano pode democratizar ainda o acesso de energia para quem vive e trabalha nas localidades, com redução de custos para empreendedores e consumidores.
São muitas as perspectivas. A maior, talvez, seja com a energia solar fotovoltaica a que mais cresce no País. Os projetos de geração distribuída compartilhada, capazes de abastecer a demanda de energia de municípios inteiros, já vêm viabilizando contas de luz mais baratas, uma vez que a geração está próxima dos pontos de consumo, sem necessidade de uso de longas linhas de transmissão que atravessam o Brasil. E, além disso, o sistema interligado permite a vantagem, por exemplo, de a energia limpa produzida no Ceará acender uma lâmpada em São Paulo.
É possível imaginar agora como a capilarização dessas iniciativas poderá contribuir para encorajar “clusters” de projetos industriais de menor porte, e com elevado nível de geração de emprego, alavancados a partir de energia competitiva.
A própria geração eólica, que já ultrapassa mais de 8.000 torres instaladas na região, pode ganhar novo fôlego com o avanço do projeto de Lei das Eólicas Offshore no Congresso Nacional.
Além disso, há ainda uma nova fronteira para ser plenamente explorada — as usinas oriundas de aterros sanitários, capazes de produzir biogás para geração de energia e biometano, inclusive para uso automotivo, propiciando uma economia circular.
Tudo isso pode gerar novas oportunidades de trabalho. O Nordeste é um reconhecido polo de startups, com diversos hubs de tecnologia já consagrados, como o Porto Digital de Recife, grandes universidades e institutos de pesquisa.
É a descarbonização fomentando a geração de renda e empregos em benefício da população local e contribuindo para reter talentos na própria região.
Nordeste tem segundo recorde consecutivo de geração de energia eólica
A Região Nordeste registrou, na quinta-feira (1º), o segundo recorde consecutivo do ano na geração de energia eólica, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O registro, realizado às 5h48, foi da geração de 19.083 MW de potência, número que equivale a 180,4% de toda demanda da região naquele momento.
O recorde anterior foi verificado no dia 27 de julho, quando o ONS registrou 19.028 MW gerados na fonte eólica na Região Nordeste brasileira. De acordo com a entidade, isso seria suficiente para, naquele momento, abastecer todo o Nordeste e ainda atender à demanda dos estados do Rio de Janeiro e Goiás.
Ainda de acordo com a pasta, o período entre os meses de julho e setembro é conhecido como temporada dos ventos, o que aumenta a possibilidade de que novos registros inéditos sejam verificados nas semanas seguintes.
Fontes: Folha SP, Um Só Planeta.
Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress.