Número de lobistas de combustíveis fósseis presentes na COP27 é 25% maior do que no ano passado

Assim como ontem, a quinta-feira começou com protestos na COP27, a 27ª Conferência do Clima da ONU, que este ano acontece no Egito. Ao saberem que mais de 600 lobistas do setor de combustíveis fósseis estão presentes na cúpula, ativistas de justiça climática da Ásia, África e das Américas fizeram uma manifestação no pátio principal da Zona Azul (a área onde acontecem os discursos e negociações), exigindo que a ONU expulse os poluidores da COP.

Há 636 lobistas das indústrias de petróleo e gás registrados para participar da COP27, que este ano acontece em Sharm el-Sheikh, no Egito. Durante a cúpula climática das Nações Unidas do ano passado, realizada em Glasgow, na Escócia, esse número era de 503. Os dados foram compilados pelas organizações Corporate Accountability, Global Witness e Corporate Europe Observatory.

“Estamos aqui representando milhões de pessoas que exigem que os poluidores sejam expulsos do espaço da conferência e da formulação de políticas. Por mais de meio século eles esconderam a verdade sobre os danos ao povo. Eles atrasaram a ação climática por causa de ganância. Você pode deixar os criminosos definirem as regras, nós temos que redefinir o sistema. Estamos convocando-os”, disse Aderonke Lge, da Public Participation Africa.

Em um dia marcado por diversos protestos, muitas pessoas estão vestindo branco nesta quinta-feira, em solidariedade com os defensores do meio ambiente mortos e criminalizados em todo o mundo, e também com os presos políticos no Egito e em todo o planeta. Em um momento de emoção, os manifestantes leram uma lista nomes de defensores ambientais e de direitos humanos assassinados que incluiu Gloria Ocampo, Berta Cáceres, Marielle Franco, Liliana Peña Chocué, Macarena Valdés, e Amaya Morales.

De acordo com o grupo Kick Big Polluters out, que faz campanha contra a influência do lobby do setor fóssil nas negociações climáticas, na COP27, “a influência dos lobistas dos combustíveis fósseis é maior do que os países e comunidades da linha de frente. Delegações de países africanos e comunidades indígenas são ofuscadas por representantes de interesses corporativos”.

O número de lobistas do setor de óleo e gás presentes este ano é 25% maior do que no ano passado e maior do que qualquer delegação nacional, exceto a dos Emirados Árabes Unidos, que, segundo um levantamento, levou mais de 1 mil pessoas para a COP27. A representatividade do país, que vai sediar a próxima COP no ano que vem, é 10 vezes maior do que foi na COP26, em Glasgow. A segunda maior delegação deste ano é a brasileira, com 574 pessoas.

A presença massiva dos lobistas divide grupos ambientalistas. Alguns alegam que o fato pode até ser benéfico, ao trazer os interesses privados para a mesa de negociações. Já outros dizem que esses benefícios correm o risco de serem superados pelo tamanho das delegações fósseis e pelas suspeitas de que os lobistas na verdade participam das negociações para retardar o progresso, em vez de discutir metas e limites para suas próprias indústrias.

“A explosão no número de delegados da indústria presentes nas negociações reforça a convicção da comunidade de justiça climática de que a indústria vê a COP como uma espécie de carnaval, e não um espaço para lidar com a crise climática em andamento e iminente”, disse Kwami Kpondzo da Amigos da Terra Togo, ao The Guardian.

Durante um protesto na porta do pavilhão azul da COP pedindo que os lobistas sejam expulsos da conferência Aderonke Lge, da Public Participation Africa, afirmou que “por mais de meio século eles esconderam a verdade sobre os danos ao povo. Eles atrasaram a ação climática por causa de ganância. Você pode deixar os criminosos definirem as regras, nós temos que redefinir o sistema. Estamos convocando-os”.

Já Gina Cortes Valderrama, uma ativista da Colômbia, disse que os lobistas estão por toda parte, enquanto os que estão na linha de frente da crise climática não podem ter acesso a COP por conta da dificuldade de transporte e dos preços exorbitantes. “É um sinal claro do que as estruturas coloniais aqui valorizam e priorizam.”

Fonte: Um Só Planeta.

Foto: Getty Images.