O drama da floresta tropical do Congo

Antes de mais nada, ela é a segunda em extensão no mundo. E as florestas tropicais são as mais importantes por dois pontos de vista. Um é o sequestro de carbono, o segundo, a biodiversidade. Ambos estão em perigo crítico.

Por um lado, o excesso de CO2 na atmosfera que vai perdurar ainda por séculos. Do mesmo modo, a crise de biodiversidade acelerada se intensifica dia a dia. Uma é consequência da outra. No meio disso estão as florestas tropicais cada vez mais ameaçadas.

As maiores florestas tropicais do mundo

A maior delas, a Amazônia, ainda tem chances de se regenerar dependendo dos rumos da politica ambiental brasileira a partir de 2023. Por outro lado, a floresta congolesa a segunda em extensão, representa 10% de todas as florestas tropicais, tem tudo para acabar.

Felizmente, ainda temos uma imprensa vigorosa especialmente nos Estados Unidos. Recentemente o New York Times publicou duas matérias a respeito. E elas dão frio na barriga. Ambas, entretanto, mostram que dificilmente esta enorme floresta tropical, com 1,3 milhões de milhas quadradas que se espalha por seis países, vai resistir.

As maiores ameaças

Antes de mais nada, no caso do Congo é a pobreza. Não por acaso acabar com a pobreza é a meta número 1 dos Objetivos Sustentáveis da ONU.

Falta energia elétrica no país

Para se ter uma ideia, menos de 17% da população de 89 milhões de pessoas dispõem de energia elétrica. Até mesmo em Kinshasa, a capital, poucos são os habitantes que têm o benefício. Em razão disso, resta cozinhar com lenha. Imagine a quantidade diária de madeira para cerca de 90 milhões de pessoas cozinharem.

Além disso, há ainda a pressão das madeireiras ilegais, e a  derrubada da mata para a agricultura. O resultado da equação foi que o  Congo perdeu mais de 1,2 milhão de acres de floresta primária em 2021.

Pelo mesmo motivo, o carvão, possivelmente o pior combustível fóssil em termos de emissões, é o mais usado no País. Ou seja, não há muita esperança que a devastação cesse na região. Entretanto, o país é cortado pelo rio Congo e, segundo o New York Times, ‘cientistas consideram que as hidrelétricas  no Congo poderiam gerar energia para abastecer todo o continente’.

Cop 26 e a ajuda do Reino Unido

Durante a COP 26, Boris Johnson assinou um acordo de proteção das florestas do Congo de US$ 500 milhões de dólares. O Guardian explicou. “Johnson assinou a carta de intenção em nome da Iniciativa Florestal da África Central (Cafi) para um acordo de 10 anos que inclui objetivos para proteger florestas e turfeiras de alto valor.”

Foi então que o país fez a auditoria mencionada pelo NYT. O Guardian comenta que ‘descobriram que seis ministros sucessivos alocaram ilegalmente pelo menos 18 concessões de madeireiras, quebrando uma moratória de quase 20 anos sobre novos cortes industriais na segunda maior floresta tropical do mundo’.

O Guardian ouviu a ambientalista Irene Wabiwa Betoko, líder florestal da bacia do Congo para o Greenpeace: “A auditoria revela um circo de ilegalidades, corrupção e crimes contra o meio ambiente. O Greenpeace África exige uma investigação legal de todos os funcionários responsáveis ​​pelo saque da floresta tropical e, quando necessário, o levantamento de sua imunidade parlamentar”.

Apesar disso, a coalização de países doadores saudou a divulgação da auditoria e condicionou a liberação da ajuda a melhores práticas por parte do Congo. Contudo, é difícil acreditar que terão sucesso. Onde há pobreza, e fraqueza das instituições como é o caso, mais fácil se torna a corrupção e muito mais difícil cessá-la..

‘Prioridade do Congo não é salvar o planeta’

Como tudo que está ruim pode piorar, pesquisando sobre as florestas do país descobrimos que parte das que pertencem ao Congo serão leiloadas para perfuração de petróleo e gás. Questionado, um ministro de Estado respondeu que ‘a prioridade do Congo não é salvar o planeta’.

A venda é, ao mesmo tempo, uma traição ao acordo assinado por Boris  Johnson que previa, em troca da proteção da Bacia do rio Congo, investimentos internacionais de US$ 500 milhões de dólares. Segundo o site www.resetera.com o país quer ser o “o novo destino para investimentos em petróleo”.

A mesma fonte informa que os blocos a serem leiloados incluem ‘ turfeiras tropicais que armazenam grandes quantidades de carbono’. Mais uma vez, a representante do Greenpeace, Irene Wabiwa, foi ouvida. Para ela, “se a exploração de petróleo ocorrer nessas áreas, devemos esperar uma catástrofe climática global, e todos teremos que assistir impotentes.”

Fonte: Mar Sem Fim.

Imagem: You Tube.