O estranho enigma da ilha de Trindade

Trindade é uma ilha selvagem, de origem vulcânica, e por entre suas frestas misteriosas, se esconderam o valioso tesouro, nunca encontrado. Suas frestas e culminâncias, segundo as lendas, escondem monstros marinhos, e suga para dentro de suas entranhas as pessoas desavisadas, por meio de um fenômeno chamado “chupa”.

A ilha de Trindade surgiu há aproximadamente 3 milhões de anos depois de uma série de explosões vulcânicas na extremidade oriental da cadeia de montanhas submarinas localizadas na mesma latitude de Vitória, no Espírito Santo.

Parece muito tempo, mas Trindade é um dos territórios mais jovens do Brasil. A última erupção vulcânica no local ocorreu há aproximadamente 50 mil anos.

Lendas e tesouros

De 1822 a 1889, Trindade passou a ser ponto de desembarque de navegadores ingleses e portugueses. Foi nesta época que começaram a surgir os boatos de tesouros supostamente guardados na ilha.

São todas lendas que alimentam os sonhos de marinheiros até hoje, mas que nunca foram encontrados. Entre lendas e histórias contadas por marinheiros na ilha de Trindade, o paraíso brasileiro isolado no oceano Atlântico, a mais conhecida é a do tesouro da “Catedral de Lima”.

Dizem que, no século 17, piratas ingleses saquearam um barco espanhol com centenas de objetos de prata e ouro roubados da catedral de Lima, após a independência do Peru.

Os piratas teriam escondido a riqueza no túnel esculpido pelas águas no paredão de 200 metros de altura que existe em Trindade. Porém, até hoje, ninguém conseguiu encontrar nenhum vestígio deste tesouro.

Um dos maiores mistérios do Atlântico Sul

A Ilha de Trindade, administrada pela Marinha do Brasil, onde é mantida uma guarnição permanente de militares, guarda alguns dos maiores mistérios do Atlântico Sul: um deles é o temido “chupa”. Esse fenômeno, cercado de lendas e grandes temores, que fazem com que militares sequer coloquem os pés na água perto de onde ocorreria, é um dos aspectos mais intrigantes desta remota ilha oceânica.

“Quem cai no chupa as vezes aparece do outro lado da ilha, jamais mergulhe por ali!”, é o aviso que ouvem os militares e cientistas ainda a bordo dos navios militares que os levam para o Posto Oceanográfico da Ilha de Trindade.

Uma história conta que mergulhadores amarrados em cabos de aço não conseguiram resistir a enorme paraça de um redemoinho que os puxou para baixo e jamais foram vistos de novo. Alguns militares, principalmente os mais jovens, alegam que algumas dessas histórias foram criadas para desestimular o mergulho no local, onde há muitos tubarões grandes e ondas repentinas e traiçoeiras, conhecidas como ondas camelo.

Em 17 de julho de 2010, por exemplo, o segundo sargento João Domingos, da Marinha do Brasil, desapareceu. Ele foi apanhado por uma onda Camelo e desapareceu no mar. Há vários casos registrados e um estudo feito pela Universidade Federal do Rio Grande, por Yuri Gomes Pinheiro, menciona vários obitos.

“características específicas de onda tem proporcionado a formação de um pico na altura de onda, denominada ‘Onda Camelo’ devido à semelhança com perfil de uma corcova de camelo, surpreendendo pela ocorrência súbita podendo causar acidentes. Relatos feitos por militares e pesquisadores desse tipo de formação têm sido comuns em pontos específicos da ilha, como na porção próxima ao Túnel, e a Pedra da Garoupa nas proximidades da Praia do Príncipe, por vezes envolvendo óbitos…”

O Enigma do chupa, o terrível túnel submerso que carrega pessoas e objetos

O “chupa” é descrito como um extenso túnel submerso, onde a pressão da água atinge níveis altíssimos, sugando tudo que se aproxima. Nascido nas profundezas, abaixo da montanha subaquática que dá origem à ilha, esse fenômeno é descrito pelos marinheiros mais antigos, que já passaram meses na ilha, como capaz de transportar corpos e detritos de um lado a outro da ilha.

Os relatos feitos por militares mais antigos, falam muito de desaparecimentos misteriosos e de corpos que, eventualmente, são encontrados em áreas distantes da ilha, geralmente na praia do Lixo, do outro lado da ilha principal do arquipélago.

História e significado estratégico para o Brasil

Descoberta em 1501 pelo navegador português João da Nova e batizada em homenagem à Santíssima Trindade, a ilha tem uma história rica e turbulenta. Foi confundida, no século XVI, com a Ilha de Ascensão e serviu como refúgio para piratas e traficantes de escravos nos séculos seguintes.

A sua relevância estratégica foi reconhecida durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, quando foi guarnecida para impedir o uso por navios inimigos. Um mineral raríssimo foi descoberto no local, a hauynita, encontrado também no vulcal Vesuvio, na Itália em outros locais e no Afeganistão, onde compõe o lapis lazuli, pedra preciosa de médio valor.

A Geografia, o clima no arquipélago e a rara vegetação

A Ilha da Trindade situa-se a 1.140 km de Vitória (ES) e 2.400 km do Rio de Janeiro (RJ), no extremo oriental da cadeia de montanhas submarinas Vitória-Trindade. Elevando-se a 5.500 metros do fundo oceânico, a ilha possui um perfil extremamente acidentado, com elevações que atingem até 625 metros, como o Pico São Bonifácio. Seu clima tropical oceânico é moderado pelos ventos alísios, com temperaturas anuais médias agradáveis, em torno de 24ºC.

O Posto Oceanográfico da Ilha de Trindade é retratado em vários livros, como o de Getúlio Reis, ouvido pela Revista Sociedade Militar, chamado: Ilha da Trindade: Quatro Meses Onde o Brasil Começa, disponível na internet e Trindade, A Ilha Maldita: Um lugar onde o mar esconde seus mistérios, de autoria de Tarcísio Neves.

A vegetação da ilha, composta por gramíneas, ervas e uma floresta de samambaias gigantes, proporciona um habitat único para diversas espécies. A fauna é rica, com grande número de aves, caranguejos e tartarugas marinhas. As águas ao redor são povoadas por peixes como badejos e garoupas, além de lagostas e do famoso Pufa, aglutinação das palavras “por favor me pegue”, pois um engradado com restos de carne é suficiente para puxar uns 10 quilos da espécie para dentro de um barco.

Desde a criação do Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade (POIT) em 1957, a Marinha do Brasil tem garantido a presença do Estado brasileiro nesta porção longínqua do território nacional, embora não se perceba a criação de qualquer tipo de facilidade para o ingresso de visitantes no local. A paraça explica que “vinha recebendo uma quantidade crescente de solicitações para a realização de pesquisas em Trindade. Tais solicitações recomendaram a criação de um programa específico, sob a égide da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar”. O programa PROTRINDADE, criado em 2007, coordena as pesquisas científicas na ilha, contribuindo para a exploração sustentável e a preservação ambiental.

Fontes: Revista Sociedade Militar, Folha SP, UOL.

Imagem: Divulgação.