Entre 448 e 443 milhões de anos atrás, a Terra atravessou o período geológico chamado Ordoviciano, durante a Era Paleozoica, marcado pelo surgimento de líquens e briófitas por conta da formação das grandes geleiras. Foi nessa época que surgiram os recifes de coral, substituindo os recifes microbianos e de esponjas do período Cambriano, a partir da fixação de larvas de coral de nado livre em rochas submersas e outras superfícies duras ao longo das bordas de ilhas e continentes.
Um dos ecossistemas mais diversos do planeta, os recifes de coral são responsáveis por protegerem as costas de tempestades e erosão, além de serem fonte de alimentos e novos medicamentos, fornecendo empregos para as comunidades locais e oportunidades de lazer.
Milhares de espécies podem ser encontradas vivendo em um recife. Só na Grande Barreira de Corais há mais de 400 espécies de corais, 1.500 espécies de peixes, 4 mil de moluscos e seis das sete espécies de tartarugas marinhas que existem no mundo. O Triângulo dos Corais, uma região no Sudeste Asiático, é considerado o ecossistema mais biologicamente diverso da Terra.
Segundo dados do Gabinete de Gestão Costeira da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), estima-se que 1 bilhão de pessoas se beneficiam direta ou indiretamente dos serviços ecossistêmicos que os recifes de coral fornecem. Anualmente, os Estados Unidos poupam US$ 1,8 bilhão em danos à propriedade e à atividade econômica devido aos benefícios de proteção dos recifes contra inundações.
Isso porque eles conseguem absorver 97% da energia de uma onda durante tempestades ou maremotos. Para os estadunidenses, só o valor econômico total dos serviços de recifes de coral – incluindo pesca, turismo e proteção costeira – é de mais de US$ 3,4 bilhões a cada ano, podendo chegar a trilhões de dólares em escala global por ano.
Apesar de sua importância, por que a Terra já perdeu metade dos seus recifes de coral desde 1950?
Da formação a destruição
A culpa é do aquecimento global. É irônico imaginar que algo tão valioso, econômica e biologicamente, possa ser perdido devido à negligência de um problema que poderia ser enfrentado de maneira mais honesta.
De 1967 a 2007, houve um declínio de aproximadamente 50% na cobertura de corais do planeta. Em 2021, uma extensa pesquisa científica publicada na revista One Earth mostrou que a cobertura dos recifes de corais vivos diminuiu pela metade nos últimos 40 anos, devido ao aquecimento antropogênico dos oceanos, que desencadeou surtos de doenças e o branqueamento em massa de quase todos os recifes de corais. Acredita-se que fatores locais, como poluição e pesca predatória, também contribuíram para a perda de corais nas regiões mais ricas.
O branqueamento em massa dos corais devido ao aumento da temperatura é considerada a maior crise dos corais de todos os tempos. A bióloga Mary Hagedorn, que esteve envolvida no estudo, explica que os corais possuem esqueletos, o que os faz parecer rochas, mas são animais com parceiros simbióticos. Os pólipos de corais dependem de algas coloridas, chamadas zooxantelas, que vivem em seu tecido e produzem alimentos de que os corais precisam para sobreviver.
Quando os pólipos são estressados por mudanças na luz, temperatura da água ou acidez, eles quebram essa relação simbiótica e expelem as algas, dando origem ao processo chamado de branqueamento. Uma vez que os corais possuem uma janela curta para recuperar suas algas simbióticas, se ficarem estressados por muito tempo, a morte é irreversível. Até o momento, não há um recife na Terra que não tenha sido afetado pela ameaça global e local.
Proporcionalmente, em 2016, o estresse térmico abrangeu 51% dos recifes de coral pelo mundo e foi considerado extremamente severo. O primeiro branqueamento em massa da Grande Barreira de Corais, que afetou 85% da população dos recifes, causou a morte de 29% dos corais de águas rasas. No oeste do Oceano Índico, o branqueamento abrangeu 69% a 99% dos corais, deixando 50% deles mortos nas Seychelles.
De 2014 a 2017, aconteceu o terceiro evento global de branqueamento, trazendo um estresse térmico que atingiu mais de 75% dos recifes globais. Mais de 30% deles sofreram estresse a ponto de morte, colocando o evento como o mais longo e destrutivo já registrado.
A queda na biodiversidade
Os pesquisadores descobriram que não só metade dos corais vivos morreram desde a segunda metade do século passado, como também a biodiversidade associada aos recifes de corais caiu 63%. Isso porque recifes branqueados perdem sua capacidade de suportar tantas espécies, muito diferente dos saudáveis, que podem abrigar milhares de animais.
Um exemplo disso é que foi em 2012 a última retenção de peixes por um recife de corais, e desde então o número deles diminuiu. A perda de espécies de corais não foi igual em todos os recifes, visto que uns se mostraram mais sensíveis ou foram afetados mais do que os outros. A comunidade científica se preocupa que algumas espécies sejam perdidas antes que possam ser documentadas ou preservadas.
As consequências da morte dos corais
Poucas pessoas entendem o que significa um mundo sem recifes de corais. A destruição completa deles causará um desastre econômico global, da indústria pesqueira ao turismo, sobretudo em países em desenvolvimento. Nas comunidades costeiras, estudos já identificaram que os indígenas estão perdendo serviços ecossistêmicos e componentes essenciais para sua dieta diária.
Uma vez que são as florestas tropicais do mar, o desaparecimento dos recifes de corais exterminaria a biodiversidade marinha que depende deles para sobreviver. Alimentos essenciais, abrigos e locais de desova para peixes e outros organismos marinhos não existiriam mais. Com isso, 50% a 80% do nosso oxigênio seria impactado, visto que é produzido em nossos oceanos por plânctons e bactérias fotossintetizantes.
As linhas costeiras seriam atingidas por ondas e eventos climáticos extremos, se tornando vulneráveis à erosão. Associada ao aumento do nível do mar devido ao aquecimento global, as comunidades e toda a vida costeira seria empurrada para o interior, criando provavelmente o maior êxodo do século XXI.
Para que esse futuro não nos alcance, atitudes estão sendo tomadas para proteger os corais, como sua criação em viveiros para repovoar recifes danificados. Nesses ambientes protegidos, os corais são capazes de crescer mais rápido do que em ambiente oceânico de alto estresse. Em terra, esforços para uma vida mais sustentável estão sendo tomados, mas ainda são insuficientes e lentos.
Os corais branqueados ainda podem se recuperar, mas a atual situação global precisa mudar quanto antes. No momento, a maior ameaça aos recifes é a mudança climática que impacta cada vez mais as regiões que menos contribuem para o efeito estufa. Enquanto as pessoas debatem sobre qual a melhor estratégia para salvar os recifes de coral ao reduzir as emissões de carbono, a cada ano o oceano absorve cerca de um quarto do dióxido de carbono emitido pela queima de combustíveis fósseis e se torna mais quente, ácido e menos hospitaleiro aos corais.
Quanto ao que é melhor, a ecologista Christina Hicks disse à Smithsonian Magazine: “Os estudos dizem que é mais vital agirmos agora e em todas as direções”.
Fonte: Megacurioso.
Fonte: Getty Images.