A cor verde se tornou sinônimo de sustentabilidade. Associado às plantas e às árvores, que são essenciais para a absorção de CO2 e para a manutenção do clima, o verde simboliza a preservação do meio ambiente. Por isso, o hidrogênio, elemento químico abundante na natureza e que pode ser usado como combustível, é chamado de verde quando a forma de o obter usa a energia de fontes renováveis, como eólica e solar, e não há emissão de gases de efeito estufa na atmosfera. Se existe a versão verde, isso significa que há uma alternativa não verde. No caso do hidrogênio, há um arco-íris de opções: cinza, preto, azul, rosa, musgo… Cada uma das variações diz respeito à forma como a energia é gerada para se obter o combustível.
De acordo com o diretor-presidente do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), André Ferreira, a grande aposta para as próximas décadas é o hidrogênio verde. “O hidrogênio verde é o tema no mundo hoje. Ele é produzido utilizando energia eólica, solar e água a partir do processo de eletrólise, que usa bastante energia elétrica. Considerando que a energia seja sempre eólica ou solar, em tese, esse hidrogênio será livre de CO2”, diz Ferreira.
Segundo a empresa de consultoria empresarial norte-americana McKinsey & Company, quando a matriz elétrica para a obtenção do hidrogênio é sustentável, as emissões de CO2 são nulas. A sustentabilidade no processo de obtenção do combustível é uma questão-chave para que ele seja, de fato, uma ferramenta positiva. “Dependendo de onde vem essa água, a produção não é sustentável. Por isso há muitas plantas que são planejadas na beira do mar. Nesse caso, será preciso dessalinizar a água. Caso enormes volumes de água doce sejam retirados de fontes do continente, os efeitos podem ser negativos”, explica.
Considerando que a produção desejada é a mais sustentável possível, o combustível se tornou uma aposta viável porque o custo para alcançá-lo é cada vez mais baixo e o hidrogênio é uma fonte de energia muito versátil. “O hidrogênio pode ser usado no próprio setor elétrico porque ele funciona como uma bateria. Há ocasiões em que o vento e o Sol não são tão proveitosos para a geração de energia, pois não há uso de eletricidade naquele momento. No caso do hidrogênio, é possível gerar a energia a qualquer hora e armazená-la como uma bateria”, explicou Ferreira. Dessa forma, o hidrogênio funciona como uma espécie de bateria do sistema elétrico. Ele compatibiliza a produção e a demanda de eletricidade, já que não é possível armazenar energia elétrica.
Outro desafio que pode ser resolvido com o hidrogênio é o sistema de transportes de longa distância, especialmente no caso de caminhões que dependem de diesel. Montadoras desse tipo de veículo, como a Daimler e a Hyundai, já anunciaram metas para começar a substituição do combustível ao longo da próxima década. Em maio de 2021, a Daimler anunciou que pretende converter 100% de sua linha de veículos para a tecnologia de emissão zero em até 15 anos. Por sua vez, a Hyundai divulgou que terá 1.600 caminhões movidos a hidrogênio na Suíça até 2025. O prazo para as metas está alinhado à realidade do tempo necessário para que o combustível se torne uma opção viável. “O hidrogênio não é para já, ele não vai fazer uma mudança significativa nos próximos dez ou quinze anos. Ainda estamos em um estágio bastante inicial”, disse Ferreira.
Gerar demanda pelo produto é uma das formas para acelerar o processo e, em agosto de 2021, o governo federal apresentou a proposição de diretrizes para o Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2) aos membros do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). De acordo com uma nota oficial do governo, “o PNH2 se propõe a definir um conjunto de ações que facilite o desenvolvimento conjunto de três pilares fundamentais para o sucesso do desenvolvimento de uma economia do hidrogênio: políticas públicas, tecnologia e mercado”.
Além da produção para consumo interno, o Brasil tem o potencial de se tornar um dos grandes exportadores de hidrogênio para o mundo. Com a diversidade de fontes renováveis, como hidráulica, eólica e solar, e a possibilidade de converter o hidrogênio em bateria, investidores já enxergam as vantagens da produção do combustível no Brasil. Os portos de Pecém, no Ceará, de Suape, em Pernambuco, e do Açu, no Rio de Janeiro, atraem o interesse de recurso estrangeiro.
Segundo a McKinsey, para viabilizar a indústria do hidrogênio verde no país, serão necessários 200 bilhões de dólares em investimento, “incluindo 180 GW de capacidade adicional vinda de fontes de energia renováveis, o que é mais do que a capacidade total de geração em 2020”. Ainda, a consultoria norte-americana destacou que o custo de capital percebido por investidores de energias renováveis é maior no Brasil do que nos países concorrentes (8-9% contra 6-7%) e que “existem vários temas que precisam ser resolvidos para permitir o desenvolvimento do hidrogênio no Brasil ao longo da cadeia de valor”.
Fonte: Um só Planeta.
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