Ondas de calor aumentam desigualdades socioeconômicas e mataram 48 mil pessoas no Brasil entre 2000 e 2018

Ondas de calor mataram mais de 48 mil pessoas no Brasil entre 2000 e 2018, superando em mais de vinte vezes o número de mortes por deslizamentos de terra no período. Além disso, os eventos de aumento abrupto nas temperaturas – mais intensos e frequentes por causa das mudanças climáticas – têm aprofundado desigualdades socioeconômicas no país e vitimado mais idosos, mulheres, pretos, pardos e pessoas menos escolarizadas, analisa o Observatório do Clima.

Os dados são de um novo estudo, publicado na quarta-feira (24/01) e conduzido por um time de 12 cientistas brasileiros e portugueses, vinculados a instituições como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Universidade de Lisboa. A equipe foi liderada por Djacinto Monteiro dos Santos, do Departamento de Meteorologia da UFRJ.

A pesquisa analisou as 14 regiões metropolitanas mais populosas do Brasil, de acordo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nas cinco regiões do país. Foram consideradas as regiões metropolitanas de Manaus e Belém (região Norte), Fortaleza, Salvador e Recife (Nordeste), São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte (Sudeste), Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre (Sul) e Goiânia, Cuiabá e Brasília (Centro-Oeste). Somadas, as áreas concentram cerca de 35% da população brasileira.

“Muitos destes fatores não são independentes”, explicou ao PÚBLICO Ricardo Machado Trigo, um dos três portugueses envolvidos nesta investigação transnacional. Isso aconteceu principalmente em sociedades como a brasileira, destaca, “onde há uma certa diferença de escolarização entre as raças e os sexos”. O estudo sugere que as mudanças climáticas podem agravar as discrepâncias já existentes em questões sociais e econômicas.

A ocorrência dos eventos de calor extremo foi mapeada através da aplicação do Fator de Excesso de Calor (EHF, na sigla em inglês). O índice permite identificar e classificar as ondas de calor de acordo com sua frequência, duração e intensidade, além de estipular os níveis de calor que podem representar riscos à saúde humana.

A partir daí, foram calculadas as mortes relacionadas ao calor, utilizando a base de dados do DATASUS para o período de 2000 a 2018. Para isso, os cientistas levantaram todas as mortes por todas as causas, excluindo causas externas como acidentes ou homicídios, para todos os municípios que pertencem às 14 regiões metropolitanas selecionadas para a pesquisa. Foram mais de 9 milhões e 300 mil óbitos contabilizados.

Na sequência, os cientistas calcularam a “mortalidade em excesso”, através da comparação entre os óbitos ocorridos durante cada onda de calor mapeada e as mortes observadas na mesma época no ano e durante a mesma quantidade de dias em condições normais. Resultado: entre 2000 e 2018, 48.075 mortes podem ser atribuídas aos efeitos das ondas de calor. Doenças circulatórias, respiratórias e o agravamento de condições crônicas prévias diante do calor extremo foram as causas mais frequentes dos óbitos.

Os resultados apontam também o aumento na frequência das ondas de calor no país. Na década de 2010, o Brasil registrou uma média de três a onze eventos do tipo ao ano. É um aumento de quase quatro vezes em relação à década de 1970, quando foram registradas de zero a três eventos por ano.

Fonte: Um Só Planeta.

Foto: Getty Images.