Os defensores da natureza denunciaram como “vergonhoso” um acordo de bastidores que levou todos os governos da UE, à exceção de dois, a aceitarem uma proposta da Comissão Europeia para aligeirar a proteção das crescentes populações de lobos na Europa.
A UE deu um passo em frente no sentido de legalizar o abate ou a caça de rotina aos lobos, com os governos a concordarem hoje em propor alterações a uma convenção internacional sobre a conservação da vida selvagem, numa ação criticada por grupos ecologistas.
Os diplomatas da UE concordaram, à porta fechada, em votar a favor da apresentação de uma moção para baixar o estatuto dos lobos ao abrigo da Convenção de Berna de 1979 sobre a conservação da vida selvagem e dos habitats naturais da Europa, uma proposta apresentada pela Comissão Europeia em dezembro passado.
A proteção dos lobos volta a estar em debate na Europa
O fato de a balança pender a favor da posição do executivo comunitário parece ter ficado a dever-se, em grande parte, à Alemanha, a voz mais poderosa no âmbito do sistema de votação ponderada utilizado no Conselho da UE.
De acordo com a proposta, o estatuto do lobo passaria de “estritamente protegido” para “protegido” ao abrigo da Convenção de Berna, o que permitiria à UE alterar a sua Diretiva Habitats para facilitar a proteção da espécie que, de acordo com as regras atuais, só pode ser morta com autorização específica em circunstâncias atenuantes.
Os grupos ecologistas foram unânimes na condenação da decisão dos governos.
“Ao dar resposta a campanhas populistas de alarmismo e ao abandonar os fatos e as soluções pragmáticas, tanto a UE como o Governo alemão estão a minar ainda mais a democracia e a coesão europeias”, afirmou Sophie Ruysschaert, especialista em recuperação da natureza da BirdLife Europe.
Para Sabien Leemans, responsável sénior pela política de biodiversidade do Gabinete de Política Europeia do WWF, a medida envia um “sinal desastroso e vergonhoso da Europa”, menos de um mês antes de os líderes mundiais se reunirem na Colômbia para a Conferência das Partes (COP16) da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica.
“Como é que podemos pedir a outras regiões que protejam a sua biodiversidade e vivam com espécies como os tigres, os leões ou os elefantes, quando não conseguimos viver em conjunto com o lobo?”, perguntou Leemans.
Em contrapartida, o Partido Popular Europeu (PPE), de centro-direita, congratulou-se com a decisão de um acordo intergovernamental que atribui a “anos de pressão persistente” do maior grupo do Parlamento Europeu.
“Este é um grande avanço na luta contra o aumento acentuado das populações de lobos, que representam uma ameaça crescente para a agricultura pastoril, o turismo e as comunidades rurais em toda a Europa”, afirmou o eurodeputado Herbert Dorfmann, líder da política agrícola do PPE.
“No que diz respeito a quaisquer alterações à legislação da UE, também temos sido muito claros quanto ao fato de estarmos falando do lobo e apenas do lobo”, disse um porta-voz da Comissão Europeia aos jornalistas.
O Copa-Cogeca, o mais poderoso grupo de pressão da agricultura convencional em Bruxelas, também saudou o sinal dos governos. “Estamos satisfeitos por ver que as instituições da União Europeia estão ouvindo as necessidades dos agricultores e dos habitantes das zonas rurais, apesar das muitas pressões daqueles que, muitas vezes, não têm de lidar com as consequências dos ataques”, afirmou num comunicado.
Aprovada em 26/09 pelos ministros, a proposta da UE deverá ser apresentada numa reunião do Comité Permanente da Convenção de Berna, prevista para o início de dezembro.
Ambientalistas defendem proteção dos lobos
Joachim Mergeay, especialista em vida selvagem do INBO – Instituto de Pesquisa Natural e Florestal – que acompanha a vida quotidiana dos lobos na Bélgica, afirma que esses animais representam danos económicos mínimos.
“A questão não é económica. A questão é sobre como a presença dos lobos me faz sentir como agricultor, como ator rural”.
Mergeay considera que os contatos entre gado e lobos poderiam ser evitados por meio de cercas. Mas mesmo que a UE reduzisse o estatuto de preservação dos lobos, isso não significaria luz verde para a caça e os problemas dos agricultores permaneceriam.
“Sob estes níveis de proteção reduzidos, só se pode caçar se as populações estiverem numa situação saudável, num estado de conservação favorável. Não estamos lá ainda. Alterar este nível de proteção não significaria que se pudessem caçar estes lobos. As populações destes lobos ainda precisam crescer. E não resolveria nenhum dos conflitos que atualmente estão na base destas questões. ”
Enquanto o debate sobre os lobos se torna acalorado, a população de lobos da Bélgica – aproximadamente duas dúzias – está a ser dizimada pelo tráfego rodoviário. Este ano, já são 05 lobos mortos atropelados nas estradas do país.
Fonte: Euronews.
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