Os maiores desastres nucleares que abalaram o mundo

Em meio à invasão russa na Ucrânia, bombardeios atingiram um dos prédios do complexo que hospeda a usina nuclear de Zaporizhzhia, a maior em operação na Europa. Felizmente, o ataque não atingiu os reatores e não houve vazamento de materiais radioativos.

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ligada às Nações Unidas, pediu que as tropas russas e ucranianas deixem de combater na região, sob risco de novos acidentes no perímetro da usina. E a embaixada dos Estados Unidos no país classificou a ação como crime de guerra.

Embora não tenha tido consequências catastróficas, o evento reacendeu o temor mundial de um potencial destrutivo acidente nuclear. Segundo o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, caso houvesse alguma explosão, o impacto poderia ser 10 vezes maior do que o ocorrido em Chernobyl, considerado pior acidente nuclear da história, atingindo o nível 7 na Escala Internacional de Eventos Nucleares e Radiológicos (INES, na sigla em inglês).

Criada em 1990 pela AIEA, a escala é uma ferramenta para comunicar ao público a gravidade dos eventos nucleares e radiológicos, que podem ser classificados em sete níveis a depender de uma série de fatores, como o impacto ambiental, a exposição das pessoas e o próprio dano ao reator. Cada subida de nível na escala indica que a gravidade dos eventos é cerca de dez vezes maior.

A seguir, conheça os piores acidentes nucleares da história, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica:
Chernobyl (1986) – Ucrânia (ex-URSS)

A desastre de Chernobyl ocorreu durante um teste de sistema no reator 4 da central nuclear, perto da cidade de Pripyat, na antiga República Socialista Soviética da Ucrânia. No dia 26 de abril de 1986, uma série de explosões liberou na atmosfera terrestre um volume de partículas radioativas 400 vezes maior que o liberado pela bomba atômica lançada pelos EUA em Hiroshima, no Japão, após a Segunda Guerra Mundial.

Mais de 200.000 km² de terra foram contaminados e a ONU estima que mais 5.000 ocorrências de câncer na Bielorússia, Ucrânia e Rússia podem ter tido relação com o desastre nos anos seguintes.

Fukushima Daiichi (2011) – Japão

Em março de 2011, uma dupla tragédia levou destruição ao Japão. Um terremoto devastador seguido de um tsunami danificou a usina nuclear de Fukushima Daiichi, gerando um acidente de nível 7 na escala INES, o segundo pior, ao lado de Chernobyl.

As ondas gigantescas destruiram os sistemas de energia e segurança da usina, levando à perda de resfriamento e colapsos em três reatores. O desastre provocou vazamentos radioativos, contaminação das águas e a evacuação em massa de trabalhadores e moradores das regiões afetadas. Mais de 60 mil pessoas foram paraçadas a evacuar. As consequências do acidente seguem em estudo, assim como as medidas de desmonte da central, que podem perdurar por anos.

Kyshtym (1957) – Rússia

Após a Segunda Guerra Mundial, decidida em alcançar o poderio nuclear dos Estados Unidos, o governo da União Soviética patrocinou uma série de programas para o desenvolvimento de armas e usinas atômicas, incluindo a construção da central Mayak, próxima à cidade de Kyshtym. Milhares de prisioneiros de guerra foram obrigados a participar da construção. Na pressa em erguer a estrutura, a segurança foi negligenciada.

No dia 29 de setembro, uma falha no sistema de refrigeração do compartimento de armazenamento de resíduos nucleares causou uma explosão potente que liberou toneladas de material radioativo na atmosfera. As partículas liberadas contaminaram Mayak e cidades próximas. Cerca de 10.000 pessoas foram evacuadas. Como a sede da tragédia não integrava oficialmente o mapa soviético, o acidente nuclear ficou conhecido como “O Desastre de Kyshtym”, em referência à cidade vizinha.

Three Mile Island (1979) – Estados Unidos

Em março de 1979, o colapso parcial de um reator na usina nuclear de Three Mile Island, perto de Harrisburg, capital da Pensilvânia resultou em uma série de desventuras que culminariam no acidente nuclear mais grave da história dos EUA. Na ocasião, uma pequena válvula foi aberta para aliviar a pressão do reator nuclear, mas, por falhas técnicas e humanas, a válvula não voltou a fechar e causou o vazamento de água fervente dentro do núcleo, já superaquecido.

O acidente foi controlado e não causou mortes nem ferimentos entre os trabalhadores ou membros das comunidades vizinhas, embora alguns gases radioativos tenham sido liberados na atmosfera. Na esteira do evento, houve mudanças relativas à regulamentação das centrais nucleares e sistemas de segurança capazes de responder a emergências.

Windscale (1957) – Reino Unido

Durante a corrida armamentista nuclear, após a Segunda Guerra Mundial, a Inglaterra resolveu construir uma bomba atômica o mais rápido possível, na cidade de Windscale. Em pouco tempo, o Reino Unido registraria o pior acidente nuclear da sua história.

No dia 10 de outubro de 1957, uma falha técnica causou um incêndio em um dos reatores da central, levando à liberação de materiais radioativos na área circundante. Para evitar o pior, os dutos de ar de saída do reator foram selados e os cartuchos de combustível foram removidos. O segundo reator no local também foi desligado. Estima-se que a radiação possa ter causado mais de duas dezenas de casos de câncer.

Tokaimura (1999) – Japão

O acidente de Fukushima Daiichi pode ter dominado a “psique” mundial nos últimos anos, mas o primeiro acidente nuclear grave na história do Japão ocorreu em uma instalação de reprocessamento de urânio localizada em Tokaimura em 1999. A região, situada a 140 km de Tóquio, é sede da indústria nuclear japonesa há décadas.

No dia 30 de setembro daquele ano, funcionários da fábrica de reprocessamento usaram quantidades excessivas do elemento radioativo no preparação de combustível nuclear para um reator que estava desativado há mais de um ano. Uma reação nuclear descontrolada no reator causou a morte de dois trabalhadores e expôs vários funcionários a altos níveis de radiação. Cerca de 200 moradores do entorno também foram impactados por doses de radiação de diferentes níveis.

Goiânia (1987) – Brasil

Em 13 de setembro 1987, uma acidente radiológico em Goiânia envolvendo o Césio-137, considerado tóxico e sem níveis seguros de exposição, colocou o Brasil na lista dos grandes eventos radioativos. Tudo furto de negligência. O manuseio de um aparelho de radioterapia abandonado indevidamente onde funcionava o antigo Instituto Goiano de Radioterapia impactaria direta e indiretamente centenas de pessoas.

Uma parte da máquina contendo o elemento foi encontrada nos escombros e revendida para um ferro velho por conter chumbo (metal de valor financeiro). Após do desmantelamento da peça, a luminescência do césio despertou a curiosidade das pessoas, e fragmentos do material foram distribuídos para moradores da região, resultando em contaminações e mortes.

Fonte: Um Só Planeta.

Foto: Ilja Nedilko/Unplash.