A produção e o consumo mundiais de alimentos não deverão repetir, nos próximos dez anos, o desempenho atingido nos anteriores. O Brasil terá participação maior na demanda mundial de alguns produtos, como o milho, mas perderá em outros, como o arroz.
A produção global de cereais sai dos 2,8 bilhões de toneladas para 3,1 bilhões em 2032. Milho e arroz se destacam, com altas de 11% no período. Trigo e soja têm as menores evoluções, com crescimento de 7% e 8%, respectivamente.
As estimativas são do relatório de perspectivas para o período de 2023 a 2032 da OCDE (Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico) e da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura).
O cenário para a soja, líder nacional em produção, é menos animador. A produção mundial irá para 415 milhões de toneladas, com crescimento de 8%, mas a demanda terá expansão de apenas 5,6% no período.
O milho, cereal que vem obtendo safras recordes no Brasil nos últimos anos, registrará um dos principais aumentos, tanto na produção como no consumo mundiais. Nos dados da OCDE-FAO, a produção sobe para 1,36 bilhão de toneladas em 2032, com crescimento de 11%, mas as transações internacionais vão para 206 milhões de toneladas, 13% a mais do que as deste ano.
Outro cereal em destaque, tanto em produção como em consumo, será o arroz. A demanda cresce, principalmente nos países asiáticos, e a produção será de 577 milhões de toneladas. O comércio mundial terá um ritmo 17% mais aquecido.
O Brasil terá pouca participação nessa evolução comercial mundial do arroz, uma vez que o país tem atualmente a menor área semeada do cereal desde a década de 1970, quando a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) iniciou o acompanhamento das estatísticas dessa cultura. A produção nacional é a menor em 25 anos.
O volume nacional cai porque, entre outros motivos, o cereal perde espaço para a soja, uma cultura que, nos números da FAO, perderá ritmo de expansão no mercado internacional.
O comércio mundial de grãos sobe para 530 milhões de toneladas em 2032, uma evolução anual de 1,3%, mas metade do que foi na década anterior. Do volume total da produção, 41% ficam para a alimentação humana; 37% para a de animais e 22% para biocombustíveis e outros usos.
A OCDE vê, no entanto, alguns riscos para a produção e o comércio. Entre eles, questões geopolíticas, como a guerra entre Rússia e Ucrânia, eventos climáticos, questões ambientais, política chinesa e doenças no setor de animais.
O crescimento da produção mundial virá mais da produtividade do que do avanço de cultivo sobre novas áreas. Haverá uma utilização mais intensa da terra, uso de sementes melhoradas, mais tecnologia e práticas agrícolas aprimoradas.
O consumo per capita de proteínas, outro setor em que o Brasil tem forte presença externa, evoluirá apenas 1%. Essa perda de ritmo se deve ao menor consumo nos países desenvolvidos.
O consumidor vai optar mais pela carne de frango do que pelas demais. Esta terá uma alta de 12% no consumo nos próximos dez anos, acima dos 8% do da carne bovina e dos 6% do da suína. O Brasil deverá manter a participação mundial de 20% nas exportações mundiais de carnes.
A OCDE e a FAO avaliam o desempenho do setor por blocos. A América Latina, impulsionada pelo Brasil, terá a maior expansão líquida no fornecimento de alimentos nos próximos dez anos. O excedente agrícola deverá aumentar 17%, e 50% da produção irá para o mercado externo até 2032.
O Brasil terá uma expansão projetada em 1,8% ao ano, bem abaixo, no entanto, dos 6% da década anterior. O superávit comercial evoluirá 27%.
Na América do Norte, a produtividade cresce 8% em dez anos, abaixo da evolução da anterior. A área de plantio aumenta 2,4%, voltada mais para milho, trigo e soja. O crescimento nas carnes será mais lento, ficando em 5%.
Os Estados Unidos, carro-chefe dessa região, vão ter uma posição deficitária no setor de alimentos, com as exportações crescendo 9% e a importações evoluindo 20%.
O comércio mundial dos norte-americanos cai devido ao ritmo menor da demanda global, à relação mais complicada com a China e à forte competição com a América Latina.
A China continuará dependente do mercado externo, mas com importações em ritmo menor do que na última década, tanto no setor de grãos como no de carnes.
As importações de soja, que tiveram evolução anual de 4% no período de 2013 a 2022, recuam para 0,6% por ano nesta década. As de carne bovinas, que atingiram 21%, ficam estáveis.
Fonte: Folha SP.
Foto: Renato Fonseca/Arquivo pessoal.