A Amazônia é um local de medidas e números imensos, assim como o seu potencial, seja no mercado de carbono, na bioeconomia, no turismo ou na medicina, entre diversas possibilidades.
Para alavancar a geração de conhecimento e tecnologia na região, pesquisadores brasileiros vêm desenvolvendo um projeto inspirado no MIT (Massachussets Institute of Technology, nos EUA, uma referência em inovação) para criar o AmIT (Instituto de Tecnologia da Amazônia), um celeiro de pesquisa e formação destinado a se debruçar sobre as necessidades e as riquezas deste bioma que é um patrimônio mundial.
A ideia foi concebida pelo professor e pesquisador Carlos Nobre, laureado cientista da Universidade de São Paulo (USP), em conjunto com a professora Maritta Koch-Weser, presidente da ONG Earth3000. Mais tarde, eles convidaram o professor Adalberto Val, que desenvolveu um pré-estudo de viabilidade, um passo importante dentro do cronograma que pretende ter o “MIT da Amazônia” funcionando até 2031.
Val é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e coordenador de projetos do SDSN (Sustainable Development Solutions Network), iniciativa das Nações Unidas para pesquisa e cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
O AmIT não se propõe a ser uma universidade, apenas. O projeto do instituto, que prevê sedes em todos os países amazônicos, incluindo Guianas e Suriname, é criar profissões, pesquisas e tecnologias exclusivamente voltados para o universo da floresta e sua população de cerca de 50 milhões de pessoas. Isso deve se traduzir em engenheiros, médicos, biólogos e farmacêuticos e outros profissionais da Amazônia.
Outro eixo é a pesquisa colaborativa. O contato com países como Japão, Finlândia, Estados Unidos e grandes pesquisadores da Amazônia deve possibilitar a criação de uma superbiblioteca de estudos já publicados sobre o bioma, que servirá de base para a solução de problemas locais. O objetivo é “usar essas informações, já publicadas, e mesmo a experiência e a visão dos pesquisadores, o que não está nos papers”, afirma Val.
Todos os esforços de transformar as informações já existentes em tecnologias que a floresta precisa tem sempre como base o objetivo de não impactar o meio ambiente. São temas como mineração, extração de bens de consumo e alimentos, substâncias para as indústrias farmacêuticas e de cosméticos e o crescimento das cidades na Amazônia – que, em um cenário ótimo, ganhariam novas perspectivas com a criação de tecnologias pensadas para o uso na Amazônia, de forma que se possa conservá-la.
Entre exemplos de soluções possíveis estão: mineração sem destruição, habitação digna com menos gastos, usinas de geração de energia para diminuir as emissões de geradores a diesel (comuns em regiões afastadas), produção sustentável de alimentos, prevenção de doenças e de agentes biológicos liberados da floresta pelo garimpo ou desmatamento, por exemplo. São possibilidades infinitas como o horizonte da Amazônia.
“É importante lembrar que a Amazônia será cada vez mais urbana. Manaus tem uma população equivalente a 10% da população brasileira na Amazônia, que tem cerca de 25 milhões de pessoas –2,1 milhões estão em Manaus. As cidades do interior também vão crescer. Precisamos desenvolver tecnologias para melhorar a qualidade de vida destas populações e reduzir o impacto das doenças tropicais sobre essas cidades, por exemplo”, pondera o professor Val.
Laboratórios flutuantes
No projeto inicial, o AmIT deve ter um sede central em Manaus, e representações nos países vizinhos e integrantes da Amazônia internacional: Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.
Além das sedes físicas, onde são planejados cursos de graduação, pós-graduação e pesquisas colaborativas, um elemento indispensável na estrutura do instituto são os laboratórios flutuantes – estruturas que vão navegar o rio Amazonas e afluentes para desenvolver a pesquisa face a face com as comunidades ribeirinhas e do interior amazônico.
“O papel destas estruturas seria levar à bancada do laboratório os desafios dessas comunidades. Se nas redes regional e mundial [de pesquisas sobre a Amazônia] já existem as soluções necessárias, elas podem ser repassadas às comunidades. Se não houver, vamos fazer pesquisa para construir essa solução. É o trabalho de aportar informações, tecnologia e socializá-las de maneira geral.
A ideia do instituto não é fazer a pesquisa básica geral, já temos universidades e institutos de pesquisas para isso. O AmIT na verdade vai usar essas informações para tecnologias de inclusão social, geração de renda”, detalha o professor Val.
Nos planos do coletivo de cientistas está a formalização de um estudo definitivo de viabilidade, consultando uma gama maior de especialistas, desde a academia ao mercado financeiro, para depois partir ao trabalho de busca por financiamento. Inicialmente, o investimento previsto é de US$ 891 milhões em 5 anos no que deve se constituir como uma instituição público-privada, para, nas palavras de Val, dar agilidade principalmente às colaborações internacionais de pesquisa.
Fonte: Um só Planeta.
Foto: Silvestre Garcia/Getty Images.