Projeto torna chifres de rinocerontes radioativos para frear caça predatória

Cientistas sul-africanos começaram esta semana a injetar material radioativo nos chifres de rinocerontes vivos para facilitar sua detecção em postos de fronteira, com o objetivo de combater a caça furtiva que está devastando esses animais protegidos.

A África do Sul abriga cerca de 80% da população mundial de rinocerontes brancos, estimada em menos de 13.000 espécimes. No entanto, o país tornou-se um foco de caça furtiva impulsionada pela demanda na Ásia, onde os chifres são utilizados na medicina tradicional por seus supostos efeitos terapêuticos ou afrodisíacos.

Os rinocerontes, alguns herbívoros de pele espessa, pastam na savana do Orfanato de Rinocerontes, que abriga principalmente jovens cujas mães foram vítimas de caça furtiva, em uma localização não revelada na província nordeste de Limpopo.

James Larkin, pesquisador da Universidade de Witwatersrand e impulsionador da iniciativa, inseriu “dois pequenos chips radioativos no chifre” de uma dessas crias, que com um ano de idade pesam quase meia tonelada.

O material radioativo “torna o chifre inútil e essencialmente tóxico para o consumo humano”, explicou Nithaya Chetty, decana de Ciências da mesma universidade.

A equipe do projeto Rhisotope explica que os radioisótopos aplicados nos rinocerontes foram dosados de forma que a sua radiação não prejudique a saúde dos bichos. Porém, a quantidade é suficiente para se tornar tóxico para os seres humanos — o que inviabiliza sua venda para posterior consumo com fins medicinais.

A introdução do material radioativo não causa dor aos rinocerontes, e é feita rapidamente com o animal está desacordado, após sedação. James Larkin, líder da iniciativa, explicou à AFP que um pequeno furo é feito no chifre do animal e, dentro dessa cavidade, se insere certa quantidade de elementos radioativos chamados de radioisótopo. A fonte radioativa pode permanecer ali pelo período de cinco anos.

“A dose é atinge um nível de radioatividade que é capaz de acionar os detectores de radiação portáteis, que os agentes de fronteira frequentemente carregam, além dos milhares de detectores instalados em portos e aeroportos, conforme os cientistas. “Dessa forma, as medidas que já existem originalmente para prevenir o terrorismo nuclear podem também nos alertar sobre tentativas de caça furtiva aos chifres de rinocerontes”. emergência instalados nos postos de fronteiras internacionais”, aponta Larki

Solução radical

O projeto foi desenvolvido após a equipe perceber que, apesar das medidas para mitigação da caça ilegal aos rinocerontes, os números de mortes desses animais não baixaram. Pelo contrário, segundo os dados oficiais do Ministério do Meio Ambiente sul-africano, os casos cresceram de 2022 para 2023.

Nos mercados paralelos, estima-se que os chifres de rinoceronte podem ter um preço por peso semelhante ao do ouro ou cocaína.

Segundo Arrie Van Deventer, fundador do orfanato, o projeto foi desenvolvido após a equipe perceber que, apesar das medidas para mitigação da caça ilegal aos rinocerontes, como o descornamento e envenenamento dos rinocerontes, os números de mortes desses animais não baixaram. Pelo contrário, segundo os dados oficiais do Ministério do Meio Ambiente sul-africano, os casos cresceram de 2022 para 2023.

Cerca de 499 rinocerontes foram mortos por caçadores no ano passado. Tal quantidade supera em 11% o número de 2022. Os casos ocorreram, sobretudo, em parques estatais e áreas de proteção ambiental.

“Este método pode acabar com a caça furtiva”, afirmou entusiasmado este defensor da natureza alto e magro sobre o uso do material radioativo. “É a melhor ideia que já ouvi”.

Gnus, javalis e girafas vagam pela vasta área de conservação enquanto a equipe realiza o delicado procedimento em outro rinoceronte. James Larkin perfurou cuidadosamente um pequeno buraco no chifre onde inseriu o radioisótopo e, em seguida, aplicou 11.000 micro pontos por todo o chifre.

A última fase do projeto envolverá o tratamento dos animais seguindo “um protocolo científico e ético apropriado”, explicou a responsável pelo projeto, Jessica Babich. Posteriormente, a equipe coletará amostras de sangue para garantir a proteção dos animais.

O material permanece no chifre tratado por cinco anos, o que é menos custoso do que o descornamento a cada 18 meses, destacou Larkin.

Cerca de 15 mil rinocerontes vivem na África do Sul. Mas, por enquanto, nesta primeira etapa do projeto, apenas 20 deles farão parte do projeto piloto. Agora o foco da pesquisa é em acompanhar a saúde desses animais, garantindo que eles não estão sendo afetados pela presença dos radioisótopos.

Fontes: Revista Galileu, O Globo.

Foto: AFP.